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Vacina da febre amarela é perigosa? Risco (para todos) é não tomar vacina

Fila para vacinação contra febre amarela no Rio de Janeiro Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

01/03/2018 04h00

A febre amarela é uma doença grave que alcançou cidades de São Paulo e Rio de Janeiro onde não havia registros de casos até o início deste ano. Contudo, a campanha de vacinação está longe da meta de imunizações dadas para proteger a população, a vacina protege o indivíduo de ser contaminado pelo vírus que circula em mosquitos de áreas de mata e evita que a doença volte a ter transmissão urbana, o que não acontece desde 1942.

Cerca de metade das pessoas que precisam ser vacinadas em cidades de São Paulo e Rio de Janeiro ainda não tomou a dose. A preocupação inicial com a doença parece ter sido substituída pelo receio de reações adversas à vacina. A queda na procura pela imunização preocupa especialistas, que insistem no alerta: quando não há contraindicação, é muito mais perigoso ser contaminado pela doença do que a vacinação.

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Cerca de 10% dos infectados pelo vírus da febre amarela desenvolvem a forma grave da doença, quando pode haver febre acompanhada de hemorragias, insuficiência hepática, insuficiência renal. De 30% a 60% dos pacientes que desenvolvem a forma grave da doença morrem num período entre 10 e 14 dias. A doença não tem tratamento, a única forma de evitá-la é a vacina.

Já os quadros mais graves decorrentes da vacinação, como efeitos neurológicos ou sintomas da febre amarela provocados pela vacina, ocorrem na proporção de 1 a cada 400 mil pessoas vacinadas. Para os especialistas, a vacina contra a febre amarela é segura. 

Temos visto que mesmo quando não leva a óbito, a febre amarela pode levar à necessidade de transplante de fígado com urgência. Os casos graves são tratados na grande maioria das vezes em UTIs. Diante de uma doença com uma letalidade dessas e que vem se expandindo, a única maneira de evitar é vacinando

Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Com 264 casos confirmados e 77 mortes de julho de 2017 até hoje, Minas Gerais é o Estado mais afetado pela doença. Contudo, todo o Estado já era considerado como área de recomendação da vacina desde o ano passado. São Paulo é o segundo Estado mais atingido pelo vírus, com 208 casos confirmados e 57 mortes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 72 casos e 29 mortes.

A vacinação é a principal forma de proteger a população contra a febre amarela. Por isso, é imprescindível que todas as pessoas que moram nos locais definidos na campanha e ainda não se imunizaram compareçam aos postos

Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria de Saúde de São Paulo

Um dos temores relacionados ao atual surto é a proximidade de grandes centros urbanos, como as capitais paulista e fluminense. "Não tinha caso de febre amarela em Teresópolis, em Angra dos Reis. Hoje, tem até em Ilha Grande. Casos estão aumentando, chegando em locais onde não se esperava", afirma Ballalai. No atual surto, todos os infectados foram picados pelos mosquitos hemagogus ou sabethes, que vivem em áreas rurais ou de mata.

"Se não vacinarem as pessoas que estão nessas cidades, há a chance de febre amarela voltar para o meio urbano", completa a especialista. Ela recorda que antes de 1942, a febre amarela era uma doença relativamente comum em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Desde esse ano, não há registro no país de febre amarela urbana -- quando a doença é transmitida pelo Aedes aegypti.

"O Aedes aegypti não está nem um pouco controlado nas cidades. Se ele passa a transmitir a febre amarela, teremos um número muito maior de casos do que a gente vê hoje", diz Ballalai.

Macacos mortos foram os primeiros sinais da chegada da febre amarela em São Paulo e no Rio Imagem: AFP

Vacina da febre amarela causa menos reações do que outras

Cerca de 4% das pessoas que tomam a vacina contra a febre amarela têm reações locais, como vermelhidão e inchaço no braço, ou reações adversas leves a moderadas, como febre e dor no corpo.

Segundo Isabella Ballalai, a dose possui menos reações adversas leves do que outras vacinas. "Na [vacinação com a] tríplice bacteriana, é muito comum febre alta e reação local. Mas é uma vacina de rotina que toda mãe dá para seu filho e deve continuar dando", diz Ballalai. "As pessoas começam a confundir os sintomas, achar que o sintoma de alguma outra coisa é da vacina contra a febre amarela", completa.

Parece que descobriram a vacina de febre amarela agora, e que ela vai matar as pessoas, causar a doença. É uma vacina de rotina há décadas, que eliminou a febre amarela urbana, usada em outros países onde há recomendação de vacinação contra a doença

Isabella Ballalai

Cerca de metade das pessoas ainda precisa se vacinar

A campanha de vacinação com doses fracionadas nos dois Estados teve início no dia 25 de janeiro e deveria ter acabado no dia 17 de fevereiro. Contudo, devido à baixa procura pela vacina, foi prorrogada até março.

Em São Paulo, a meta é imunizar 10,3 milhões de pessoas em 54 municípios -- incluindo alguns distritos da capital. Até a última sexta-feira (23), precisavam tomar a vacina 5,1 milhões de pessoas (49,5% do total). A campanha de vacinação foi estendida até o dia 2 de março.

A região com menor cobertura vacinal é a Baixada Santista, com 31,1%. No Vale e Litoral, a cobertura é de 41,2%. O Grande ABC tem 41,1% e a capital atingiu 54,3%, imunizando mais de 1,8 milhão dos 3,3 milhões de moradores dos distritos definidos na campanha.

Já no Rio, a meta é vacinar 10,1 milhões em 15 municípios onde há campanha. Além disso, o Estado pretende alcançar o patamar de cerca de 14 milhões de pessoas vacinadas em todo o seu território. Para isso, vai realizar um mutirão de vacinação em 92 municípios no dia 3 de março. Cerca de 5 milhões de pessoas ainda precisam ser vacinadas.

Na Bahia, a campanha de fracionamento da vacina de febre amarela teve início depois do carnaval, no dia 19 de fevereiro, e vai até o dia 9 de março. O Estado pretende vacinar 3,3 milhões de pessoas em 8 municípios.

Quem deve tomar a dose fracionada?

No fracionamento da vacina da febre amarela, a mesma vacina é utilizada, só que em dose menor. A diferença está no volume e no tempo de proteção. A dose padrão possui 0,5 ml e protege por toda a vida, enquanto a dose fracionada tem 0,1 ml e protege por oito anos, segundo estudos realizados pelo Instituto Biomanguinhos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), fabricante da vacina.

A vacinação fracionada é recomendada para pessoas a partir dos dois anos de idade. Quem tomar a vacina dessa forma deverá retornar aos serviços de saúde após oito anos para receber uma dose de reforço.

A dose fracionada não é indicada para crianças de 9 meses a menores de dois anos por não haver estudos sobre a sua eficácia para esse público. Ela também não é indicada para pessoas com condições clínicas especiais (como vivendo com HIV ou em período final de quimioterapia, por exemplo) e gestantes.

Viajantes internacionais, que devem apresentar comprovante de viagem no ato da vacinação, também precisam tomar a dose integral. Durante a campanha de vacinação, todos esses públicos receberão a dose normal.

A vacina contra a febre amarela é contraindicada para pacientes em tratamento de câncer, pessoas com imunossupressão e pessoas com reação alérgica grave à proteína do ovo. A vacinação também impede a doação de sangue por um período de quatro semanas.

Desde o ano passado, o Brasil passou a adotar a recomendação da Organização Mundial da Saúde, que é a de vacinar contra febre amarela apenas uma vez na vida.

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