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Luana Araújo sobre ministério da Saúde na pandemia: 'Instituição acéfala'

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/08/2024 05h30

A médica infectologista Luana Araújo, que teve uma rápida passagem pelo Ministério da Saúde durante a pandemia de covid-19, relembrou como foi a experiência. Ao Alt Tabet, do Canal UOL, a profissional destacou que o ministério, à época gerido pelo governo Bolsonaro, estava despreparado para lidar com a emergência sanitária.

Araújo contou que aceitou o desafio de gerenciar uma Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas se deparou com um cenário caótico de despreparo institucional. "O que encontrei ali foi uma instituição completamente desarranjada, acéfala, com um monte de gente que tinha saído porque tinha alguma ligação com o governo anterior. Não importava a competência que essa pessoa tivesse, o critério era político, não técnico. E foi muito difícil, porque quando comecei a montar minha equipe, ninguém aceitava fazer parte disso. Eu chamava as pessoas e a reticência, compreensível, era muito grande".

Luana afirmou que não foi fácil aceitar o convite, mas topou o desafio por entender que tinha capacidade de ajudar o país no combate à covid. Entretanto, a infectologista afirmou que, ao chegar no governo, se deparou com um cenário "surreal", com servidores de carreira impossibilitados de executarem suas funções devido à pressão política interna do governo, que adotou postura negacionista da gravidade da doença.

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Nunca usei nenhuma droga, mas imagino que deva ser uma coisa parecida com aquilo que vivi naquele momento, porque foi uma coisa extremamente surreal. O Ministério da Saúde é uma estrutura gigantesca, um dos maiores orçamentos do governo federal, você espera encontrar em um momento de crise um monte de gente técnica e capacitada fazendo seu trabalho. E eu encontrei um pouco disso, que eram servidores de longo prazo tentando fazer imensamente alguma coisa, mas sobrecarregados e sobrepujados por uma camada grotesca, estúpida, ignorante de política.
-- Luana Araújo

Ela ressaltou a interferência política na nomeação de pessoas sem competência para auxiliar na pasta da Saúde. "Em uma situação em que morre quatro mil pessoas por dia, você não dorme, tempo escasso com muita coisa para ser feita, [e eu] precisei receber naquele período pessoas que vinham por indicação de algum ministro, sem qualificação, para cavar vagar. Era politicagem absoluta no momento em que pessoas morriam. Para mim, isso é uma absoluta irracionalidade".

Luana também contou que foi alertada por servidores de carreira da Saúde sobre a existência de um "gabinete do ódio" com atuação política na pasta. "Eu tive uma experiência que talvez seja mais interessante. Assim que cheguei, participei de uma reunião de secretários e ali eu entendi como a gente chegou naquele buraco, porque as pessoas levantavam para defender cloroquina, era uma coisa muito assustadora".

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A infectologista pontuou que é "imprevisível dizer o período específico" em que uma nova pandemia vai surgir, "mas que certamente essa geração vai ver algumas outras". "A pandemia da covid não foi a primeira [enfrentada pela atual geração]. A gente teve a H1N1 há 15 anos, mas não na mesma magnitude que a de covid-19", declarou.

Para a médica, o ser humano mantém uma "relação deletéria com o planeta", o que facilita o surgimento de novas doenças. "Toda vez que a gente agride o planeta, a gente se coloca em situação de vulnerabilidade, novos agentes infecciosos com os quais nunca tivemos contato [surgem]. Mas aí nós não temos essa proteção, imunidade contra esses agentes, nos expomos e acabamos em situações difíceis".

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Luana afirmou que o governo Bolsonaro provocou uma "implosão do Ministério da Saúde e do SUS", que precisaram ser reconstruídos. "A gente tem que entender que o governo Lula chega em uma terra arrasada que precisa de uma reconstrução dos níveis mais básicos possíveis. Todo mundo tinha uma expectativa de uma guinada imensa, mas eu entendo que essa expectativa tem que ser freada à medida em que essa reconstrução toma tempo e tem repercussões".

Araújo ressaltou, no entanto, que, sim, há melhorias a serem feitas, mas que o Congresso Nacional atua como um dificultador. "Acho que a gente perde, sim, ainda oportunidades muito grandes e muito claras de fazer melhor do que está sendo feito, muito porque esse sistema político, que não tem muita diferença entre governos, o modus operandi, contamina a ação técnica. Então na hora que você vai falar: 'eu não posso ligar para essas coisas porque tenho que fazer o que tenho que fazer', nem sempre isso se traduz para a realidade".

Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Luana Araújo:

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