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Danos de uma torção no tornozelo podem ser para a vida toda

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Imagem: Thinkstock

Gretchen Reynolds

25/09/2015 10h36

Dezenas de milhares de pessoas torcem o tornozelo todos os anos. Mas as lesões recebem pouca atenção, já que a maioria considera que são um problema sem consequências e logo volta às atividades normais.

No entanto, vários estudos recentes em pessoas e animais sugerem que os efeitos de mesmo uma pequena torção no tornozelo podem ser mais severos e duradouros do que pensamos, potencialmente alterando nossa maneira de andar e a frequência de movimentos por toda a vida.

Tornozelos saudáveis são, claro, essenciais para o movimento.

"O tornozelo é a base do corpo. Tudo começa nele", explica Tricia Hubbard-Turner, professora de Cinesiologia da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, que participou dos estudos.

Mas ele pode ser incrivelmente frágil e vulnerável para quem é desajeitado (ou talvez isso só aconteça comigo). Dê um passo torto em uma curva, escorregue do salto, apoie o pé de modo errado enquanto corre ou faz esporte e você vai luxar ou romper os ligamentos em volta das juntas e torcer o tornozelo.

Até recentemente, poucos de nós ficávamos preocupados com a lesão, achando, na maioria dos casos, que o problema passaria dentro de uma semana ou duas, com ou sem atenção médica.

Mas três novos estudos, todos com Tricia Hubbard-Turner como coautora, levantam questões sérias sobre a importância de se prestar atenção às lesões nos tornozelos.

No mais preocupante, já que envolve jovens, Tricia e seus colegas recrutaram 20 universitários com instabilidade crônica no tornozelo -- uma condição causada por torções, nas quais o tornozelo facilmente se vira durante os movimentos -- e 20 estudantes saudáveis e pediram a todos que usassem um pedômetro por uma semana. Os pesquisadores controlaram as variáveis como sexo, índice de massa corporal e saúde geral.

A pesquisa mostrou que os alunos com instabilidade crônica no tornozelo se movem significativamente menos do que os outros, dando cerca de dois mil passos a menos em média todos os dias.

Essa descoberta está de acordo com os resultados de um estudo anterior de Tricia, apesar da experiência envolver ratos jovens. Nele, os pesquisadores lesaram de leve os tornozelos dos roedores tirando cirurgicamente um dos ligamentos da parte de fora da junta. Depois, danificaram mais severamente outros animais tirando dois ligamentos e fizeram uma cirurgia falsa nos outros para servirem de grupo de controle.

Então, deixaram que os ligamentos curassem por vários dias antes de dar aos animais acesso às rodas de corrida e os testaram para equilíbrio, pintando seus pés e fazendo com que andassem por cima de um feixe estreito de luz. Os pesquisadores podiam descobrir onde eles se desequilibravam vendo quando as pegadas estavam foram do raio luminoso.

Os pesquisadores avaliaram os ratos por um ano.

Ao final desse tempo, os animais que tiveram cirurgias falsas -- aqueles cujos ligamentos permaneceram intactos -- estavam correndo muito mais em suas rodas do que os ratos com tornozelos danificados, especialmente aqueles com lesões severas, mesmo que, supostamente, o problema tivesse sarado há muito tempo.

Os animais com lesões anteriores também continuaram a se desequilibrar durante os testes com muito mais frequência do que os do grupo de controle. Seu equilíbrio estava comprometido e, os pesquisadores concluíram, cerca de 70 por cento dos ratos do grupo dos que tiveram danos desenvolveram, como resultado de apenas uma lesão, o equivalente nos roedores da instabilidade crônica do tornozelo.

No entanto, esse estudo com animais e o com alunos universitários duraram relativamente pouco tempo. Apesar de os ratos com um ano já estarem perto da idade da aposentadoria para roedores, esse período em geral não representa sua vida inteira, e os pesquisadores se questionaram se essa torção afetaria os padrões de movimento até sua morte.

Assim, para outro estudo, publicado no mês passado no The Journal of Sports Science and Medicine, eles continuaram a avaliar e testar o mesmo grupo de ratos até a morte, normalmente cerca de 12 meses depois.

Os cientistas descobriram que as repercussões de uma simples torção no tornozelo duraram por toda a vida dos animais. Em geral, os ratos que tiveram danos leves quando jovens continuaram a correr menos e mais devagar até morrer em comparação com os que tiveram a cirurgia falsa, e aqueles com lesões severas correram ainda menos e mais lentamente.

"Nesses animais, uma única torção levou a muito menos atividade" por toda a vida do que entre os que estavam com os tornozelos intactos, afirma Tricia.

Claro, eram ratos, não humanos, então é impossível saber se um declínio parecido em atividade por toda a vida acontece com pessoas que torcem o tornozelo.

Mas essa possibilidade significa que deveríamos levar as lesões no tornozelo mais a sério, explica ela.

"Não ignore uma torção", diz Tricia.

Se você torce ou machuca seu tornozelo, consulte um médico ou um terapeuta físico para conseguir diagnóstico, tratamento e reabilitação. E se você teve uma lesão no passado, mesmo que pareça totalmente curada, pense em fazer um teste de equilíbrio com um terapeuta corporal para determinar se é mais instável do que imagina.

Por fim, se você nunca torceu um tornozelo, congratule-se, de preferência sobre um pé só. "Treinar o equilíbrio é uma boa ideia para todo mundo", avisa Tricia.

Porém, a melhor maneira de evitar os problemas futuros de um tornozelo torcido, diz ela, "é não torcê-lo".