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Prestes a ir à Bolsa, Uber perde US$ 1 bilhão; o que isso significa?

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Imagem: Divulgação

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

26/04/2019 12h58

A Uber divulgou nesta sexta-feira (26) os termos para sua oferta pública inicial (IPO), que é a abertura da empresa para o mercado de ações, prevista para maio. Ela disse a investidores que busca vender até US$ 10,35 bilhões em ações, avaliando a companhia em até US$ 91,5 bilhões. Talvez seja o maior IPO deste ano nos EUA.

Números altos, certo? Mas teve outro índice ruim: seus prejuízos financeiros no primeiro trimestre serão de pelo menos US$ 1 bilhão e chegue a US $ 1,11 bilhão, de acordo com o documento entregue à Comissão de Títulos e Câmbio dos EUA.

Quais são as razões disso? Segundo a própria Uber, deve-se ao "aumento da perda de operações" no último trimestre, "aumento das pressões competitivas em certos mercados" e "aumento de nossos incentivos e gastos com promoções para manter nossa posição competitiva". Dá para resumir tudo isso em uma palavra: concorrência.

Nos EUA, a rival Lyft têm disputado com a Uber descontos e outros incentivos para manter seus clientes. Na Ásia, a chinesa Didi (dona da 99 no Brasil) comprou recentemente as operações do Uber naquele país. Segundo uma fonte disse à Bloomberg, a Uber perdeu na China US$ 2 bilhões em dois anos.

Outras coisas que podem representar problemas de imagem para a Uber neste momento crítico são a eterna acusação de não respeitar as leis trabalhistas, seu interesse em carros autônomos e seu modelo de negócios que ainda não gera lucro.

Primeiro ponto: já faz um tempo que motoristas da Uber se queixam de serem mal pagos. Segundo pesquisa recente, o motorista do app ganha, em média, US$ 14,73 por hora nos Estados Unidos. Se isso for sua única fonte de renda, esse motorista, caso seja de uma família de três pessoas, está vivendo abaixo da linha da pobreza no país. E também seria por isso que o serviço é tão barato.

Para pressionar a empresa na época do IPO, motoristas de Uber em San Francisco, San Diego, Los Angeles, Chicago, Minneapolis, Filadélfia e Washington (DC) deverão participar de uma paralisação de 12 horas em 8 de maio, diz o portal Gizmodo.

Os outros dois pontos --carros autônomos e o modelo de negócios sem lucro-- estão meio que interligados, já que o executivo-chefe da Uber, Dara Khosrowshahi, declarou no ano passado que quer a empresa investindo bastante em inovação em vez de mirar em grandes resultados financeiros.

Isso não é possível sem gastar algum dinheiro, e a expectativa da Uber é recuperar isso lá na frente. Por exemplo, Khosrowshahi diz que hoje uma corrida da Uber custa cerca de US$ 2,50 (R$ 8,42) a milha, mas com um carro automatizado, essa mesma corrida custaria cerca de US$ 1 (R$ 3,37) por milha. Assim, o cliente paga menos, a empresa não paga um ser humano. Todos lucram, menos os (possíveis) motoristas desempregados.

Enquanto maio não chega, saiba que a Uber definiu uma faixa de preço-alvo de US$ 44 a US$ 50 por ação para seu IPO. A empresa venderá 180 milhões de ações na oferta, com um adicional de 27 milhões de papéis vendidos por investidores existentes. Parece um bom negócio?

* Com agência Reuters