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TIM demonstra seu 5G no Brasil, mas mostra pouco e não permite teste

Mate X, celular dobrável da Huawei, recebendo sinal 5G no Brasil - Rodrigo Trindade/UOL
Mate X, celular dobrável da Huawei, recebendo sinal 5G no Brasil Imagem: Rodrigo Trindade/UOL

Rodrigo Trindade

Do UOL, em Florianópolis*

27/06/2019 04h00Atualizada em 27/06/2019 13h01

Resumo da notícia

  • Demonstração de rede da TIM em Florianópolis apresentou 5G da empresa
  • Velocidades de download superaram em muito o 4G durante a exibição
  • Testes com realidade virtual e mista foram bons exemplos do uso do 5G

O 5G promete mudanças significativas em casas, cidades e no desempenho de aplicativos dos nossos celulares, mas, depois de vê-lo em ação nesta quarta-feira (26), ficou claro que muito dessa possível revolução das telecomunicações ainda está no mundo das ideias --pelo menos no Brasil.

Participamos de uma demonstração de algumas das capacidades da quinta geração da telefonia móvel e ficamos frustrados com o que vimos. No evento, realizado pela TIM em Florianópolis (SC), havia seis aparelhos conectados ao 5G, ainda que somente dois deles de forma direta: dois smartphones (dentre eles um Mate X, dobrável da Huawei). Os outros dispositivos eram dois óculos de realidade virtual e dois HoloLens, óculos de realidade mista da Microsoft.

A presença do Mate X no teste da TIM também seria uma oportunidade para a reportagem conhecer melhor o prometido dobrável da Huawei. Mas desde que foi anunciado em fevereiro na feira de tecnologia MWC, nem a imprensa nem o público puderam tocar no aparelho. Isso se repetiu no evento, já que o celular só foi manuseado por um representante da empresa chinesa, que não permitiu que terceiros tocassem no aparelo.

Voltando ao uso do 5G, apenas os celulares recebiam o sinal da antena da operadora, enquanto todos os óculos operavam no wi-fi de roteadores capazes de "conversar" com a rede.

A tecnologia está só começando no mundo, com apenas 15 operadoras oferecendo o serviço ao redor do planeta --só uma na América Latina: a Antel, do Uruguai-- e um número pequeno de celulares compatíveis. Mesmo com esse adendo, o que pôde ser experimentado não impressionou.

Embora a demonstração da velocidade tenha chamado atenção, só um teste prático foi feito: um download simultâneo de um mesmo aplicativo em um celular conectado à rede 5G e outro à rede 4G. No 5G, 1,6 GB foi baixado em cerca de 30 segundos, enquanto no 4G foram cerca de 200 MB baixados no mesmo período.

O celular com tecnologia 5G também foi usado para rodar o aplicativo Speed Test, que calculou as seguintes velocidades de download (em megabits por segundo). Os números foram comparados aos de uma rede 4G da própria TIM em Florianópolis e de uma rede 4G da Nextel em São Paulo:

  • No 5G em Florianópolis: de 817 Mbps a 1 Gbps;
  • No 4G em Florianópolis: de 158 Mbps a 56,7 Mbps;
  • No 4G em São Paulo: de 51,2 Mbps.

Teste velocidade 5G - Rodrigo Trindade/UOL - Rodrigo Trindade/UOL
Teste compara velocidades de download e upload entre celulares conectados a rede 5G e 4G
Imagem: Rodrigo Trindade/UOL

Além da velocidade

Só havia dois celulares e alguns outros dispositivos na tenda onde era feito o teste, então a rede 5G não estava congestionada, como costuma acontecer no nosso dia a dia Além deles, só os dispositivos de realidade virtual e realidade mista exigiam a rede.

Cada um dos óculos de realidade virtual exibia, por streaming, uma experiência dinâmica interativa em 360º -- geralmente vídeos assim vêm do processamento de imagens direto do próprio aparelho (caso do Oculus Quest ou celulares) ou enviado por meio de cabos conectados a um computador/videogame.

O HoloLens foi usado para uma conferência entre duas pessoas, que se viam e ouviam por meio do aparelho de realidade aumentada. Embora a qualidade da imagem não fosse das melhores, a comunicação se deu sem latência e com boa qualidade de som.

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As demonstrações foram boas, mas não serviram para elucidar o alardeado potencial do 5G. Nem deu para abrir o YouTube no Mate X para ver o quanto é mais rápido carregar um vídeo no 5G em comparação ao 4G.

O resultado dos testes de velocidade, no entanto, mostra uma grande possibilidade para o futuro. Em vez de a banda larga vir por cabo, ela poderá funcionar como uma rede celular muito mais poderosa, com baixa latência e alta capacidade de transferência de dados.

"O FWA (acesso wireless fixo, da sigla em inglês), que é uma das aplicações do 5G, é muito similar à internet via rádio. A questão é que a internet via rádio tinha uma limitação de cobertura. O 5G a gente entende que, pelo modelo de negócio, vai ter uma cobertura mais extensa. Você vai poder atender o cliente fixo por meio do FWA", explicou Homero Salum, gerente de engenharia da TIM Brasil.

A espera para que esses serviços cheguem às residências brasileiras ainda será longa. O leilão do espectro que receberá o 5G será realizado em 2020, enquanto os primeiros planos da quinta geração da telefonia móvel estão previstos somente para 2021.

Enquanto isso, há tempo para o desenvolvimento de recursos que aproveitem de uma forma mais prática as promessas do 5G. Se não isso, que pelo menos seja mostrado um filme em 4K sendo transmitido pela Netflix.

A paciência, no entanto, será imprescindível. Como diz a "lei" criada pelo futurista americano Roy Amara, "costumamos superestimar o efeito da tecnologia a curto prazo e minimizar o efeito a longo prazo". Existe uma grande necessidade de adaptação dos dispositivos em uso no mundo para que o 5G seja compatível. No Brasil, 2021 será apenas o ponto inicial dessa virada.

* O jornalista viajou a convite da TIM