Estudantes chilenos voltam às ruas descontentes com reforma "insuficiente"
Milhares de estudantes chilenos voltaram às ruas nesta quinta-feira (28), descontentes com uma desejada reforma educacional que consideram insuficiente e em repúdio ao que chamam de forte repressão policial, em um protesto que terminou em confronto com a polícia de Santiago.
No início da noite, cerca de 100 mil estudantes - segundo os organizadores - ocuparam a avenida Alameda, no centro de Santiago, em solidariedade a Rodrigo Avilés, um estudante da Universidade Católica que luta pela vida há uma semana após ficar gravemente ferido por um canhão d'água da polícia, em Valparaíso.
Os choques entre estudantes e policiais começaram no fim do protesto e se concentraram diante da Casa de Governo, onde manifestantes encapuzados queimaram barricadas, tentaram saquear lojas e atiraram pedras na polícia, constatou a AFP.
"Lojas saqueadas, incêndios", dezenas de pessoas detidas e "quatro carabineiros feridos", disse o intendente de Santiago, Claudio Orrego, à rádio Cooperativa.
O policial que operava o canhão d'água que feriu Rodrigo Avilés foi afastado na tarde de quinta-feira, após imagens que revelavam a agressão, contradizendo a versão inicial da polícia.
"Vamos conversar com o comando (da polícia) para determinar se há outras responsabilidades", disse o ministro do Interior, Jorge Burgos.
Durante o dia, um grupo de universitários ocupou por algumas horas a entrada da Televisão Nacional do Chile.
Assim como ocorreu em 2011, quando emergiu o poderoso movimento estudantil chileno exigindo o fim do sistema educacional legado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os estudantes chilenos voltaram a tomar as ruas do país.
Agora, no entanto, o cenário é diferente. A presidente Michelle Bachelet pôs em andamento uma ambiciosa reforma educacional que, a partir do próximo ano, significará a gratuidade para 260 mil estudantes de educação superior.
Mas para os estudantes a promessa de reformar completamente o que é considerado um dos sistemas mais segregados e desiguais do planeta ainda está longe de ser cumprida.
"Ainda estamos muito distantes de alcançar nossos sonhos. A reforma é muito insuficiente", disse à AFP Claudia Arévalo, porta-voz dos estudantes de ensino médio.
Faltam os detalhes da reforma
Bachelet, que venceu a reeleição precisamente com a promessa de levar adiante a reforma educacional, já conseguiu a aprovação de uma lei que elimina a seleção de estudantes e proíbe a obtenção de lucros nas escolas que recebem dinheiro do Estado.
Recentemente, ela enviou ao Congresso uma lei que aumenta em 28% o salário dos professores que se beneficiam de um novo regime docente e há uma semana anunciou que a partir do próximo ano 60% dos estudantes mais pobres da educação superior obterão a gratuidade total.
Mas ainda não deu indícios de como responderá à promessa de melhorar a qualidade nas escolas públicas e estabelecer, a partir de 2018, a gratuidade universal na educação superior.
"Ainda é preciso conhecer muitos detalhes da reforma, e o que já foi anunciado é menos do que o movimento estudantil demandou", explicou à AFP Manuel Sepúlveda, diretor de política educacional da fundação Educación 2020.
Em um país onde não é possível cursar uma universidade gratuitamente e no qual atualmente apenas 40% da matrícula escolar é pública, as exigências dos estudantes seguem tendo uma grande adesão.
Neste ano, os estudantes organizaram duas marchas que reuniram no centro de Santiago 100 mil pessoas cada uma.
"Os problemas são profundos. Quanto mais precisaremos esperar?", se perguntou Arévalo.
Repressão policial
Os estudantes também denunciam uma forte repressão policial durante suas manifestações, como no caso de Rodrigo Avilés, gravemente ferido depois de cair no chão ao ser atingido pelo jato d'água lançado pelas forças especiais em uma manifestação no porto de Valparaíso.
Nesta quinta-feira, a polícia voltou a usar canhões d'água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestações de estudantes não autorizadas pelo centro de Santiago, nas quais pessoas encapuzadas agrediram com pedras e paus os agentes policiais e destruíram patrimônio público, em uma dinâmica que se repete na maioria das manifestações.
"Não apenas entendemos, mas respeitamos o direito dos cidadãos de se expressar, mas ao mesmo tempo acreditamos que os chilenos não querem que as manifestações se convertam em destruição", disse o porta-voz oficial, Marcelo Díaz.
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