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ICAN vence prêmio Nobel da Paz para espantar risco nuclear

06/10/2017 18h20

Oslo, 6 Out 2017 (AFP) - A Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (ICAN, em inglês) venceu o Prêmio Nobel da Paz, nesta sexta-feira (6), após uma década de esforços para proibir a bomba atômica, em um contexto de tensão com Coreia do Norte e Irã.

Setenta e dois anos depois de as bombas atômicas americanas caírem sobre Hiroshima e Nagasaki, o Comitê do Nobel quis ressaltar os incansáveis esforços da ICAN para livrar o mundo das armas nucleares. Com isso, também enviou uma mensagem às potências nucleares para que iniciem "negociações sérias" destinadas a eliminar seu arsenal.

"Vivemos em um mundo onde o risco de que utilizem as armas nucleares é o mais alto que já existiu", declarou a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen.

"Alguns países modernizam seus arsenais nucleares, e o risco de que cada vez mais países se dotem de armas nucleares - como a Coreia do Norte - é real", acrescentou.

Em sua primeira reação ao prêmio, a ICAN criticou diretamente o presidente americano, Donald Trump, diante dos riscos de um incidente nuclear no mundo.

"A eleição do presidente Donald Trump incomodou muita gente pelo fato de que pode autorizar por si só o uso das armas nucleares", declarou a diretora da ICAN, Beatrice Fihn, à imprensa em Genebra.

"As armas nucleares não dão segurança, nem estabilidade", como demonstra o fato de as pessoas nos Estados Unidos, no Japão, ou na Coreia do Norte, não se "sentirem especialmente seguras", acrescentou.

- EUA não assinarão tratado -Reunindo centenas de ONGs, a ICAN milita incansavelmente há quase dez anos pela supressão do armamento nuclear.

Impulsionou um histórico tratado de proibição das armas nucleares que foi adotado por 122 países em julho, embora seu alcance seja, sobretudo, simbólico, dada a ausência das nove potências nucleares entre os signatários.

Depois do anúncio do prêmio, os Estados Unidos voltaram a afirmar que "não assinarão" o tratado de proibição de armas atômicas apoiado pela ICAN.

"Esse tratado não fará o mundo mais pacífico, nem conseguirá a destruição de nenhuma arma nuclear, nem fortalecerá a segurança de nenhuma Estado", declarou à AFP um porta-voz do Departamento de Estado americano, ressaltando que o texto promovido pela ICAN sobre esse tema não é apoiado por nenhum país possuidor de armas atômicas.

"O anúncio de hoje não muda a posição dos Estados Unidos sobre esse tratado", que "ignora os desafios de segurança atuais, tornando necessária la dissuasão nuclear", insistiu o porta-voz.

Ele afirmou, porém,, que os Estados Unidos continuam "comprometidos com cumprir suas obrigações sob o Tratado de Não-Proliferação Nuclear", firmado pela maioria das principais potências.

Os EUA também seguirão, segundo o assessor, "trabalhando com todos os países para melhorar a segurança internacional" e "a redução dos riscos nucleares em todo mundo".

- Reações -O Nobel da paz é para "estimular" os países que não firmaram o tratado a trabalharem para eliminar as armas nucleares do planeta, alegou Reiss-Andersen, explicando que "esse prêmio não vai contra ninguém".

O prêmio para a ICAN é uma lembrança de que "hoje, mais do que nunca, precisamos de um mundo sem armas nucleares", tuitou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) "compartilha esse objetivo com a ICAN", reagiu seu secretário-geral Jens Stoltenberg, acrescentando, contudo, que "lamenta que as condições para alcançar um desarmamento nuclear não sejam favoráveis".

Já Moscou disse "respeitar" a escolha da Comissão do Nobel.

A então presidente da conferência da ONU que negociou o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares, a embaixadora costa-riquenha na ONU em Genebra, Elayne Whyte, também felicitou a ICAN.

Este Nobel deve trazer "uma nova etapa de grande impulso às negociações para o desarmamento nuclear", manifestou Elayne.

Na lista de vencedores, a ICAN sucede ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, premiado em 2016 por seus esforços para acabar com mais de meio século de conflito no país sul-americano.

Nesta edição, o número de candidatos ao Nobel da Paz chegou a 318.

Fundada em 2007, em Viena, durante uma conferência internacional sobre o tratado de não-proliferação nuclear, a ICAN tem sua sede em Genebra, nas instalações do Conselho Ecumênico das Igrejas, outra organização internacional.

Conta com 424 ONGs associadas em 95 países e com o apoio de inúmeras personalidades, entre elas dois vencedores do prêmio Nobel da Paz - o arcebispo sul-africano Desmond Tutu (1984) e a americana Jody Williams, agraciada em 1997 em reconhecimento pela Campanha Internacional para a Proibição das Minas Antipessoais.

Ainda que a quantidade de ogivas tenha se reduzido em 30 anos - passando de 64.000, em 1986, para pouco mais de 9.000, em 2017, segundo o Bulletin of the Atomic Scientists (BAS) -, o número de países com armas nucleares aumentou.

Hoje, nove países fazem parte do clube nuclear: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel.

A ICAN receberá o prêmio - uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de nove milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão) - durante uma cerimônia em Oslo em 10 de dezembro, data da morte do criador dos prêmios, o filantropo sueco e inventor da dinamite, Alfred Nobel.

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