Famoso ativista deixa a prisão em Hong Kong e se une aos protestos
Hong Kong, 17 Jun 2019 (AFP) - O célebre ativista Joshua Wong foi libertado da prisão nesta segunda-feira em Hong Kong e se uniu aos protestos com um pedido pela continuidade da mobilização, além de defender a renúncia imediata da chefe de Governo local.
Quase dois milhões de pessoas saíram às ruas no domingo (16) em Hong Kong, uma participação recorde, segundo os organizadores, para exigir a retirada de um polêmico projeto de extradição para a China, iniciativa que foi suspensa pelas autoridades locais pró-Pequim.
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Ao sair do Instituto Correcional Lai Chi Kok, Wong afirmou à imprensa que a chefe de Governo de Hong Kong, Carrie Lam, deveria renunciar de modo imediato.
"Ela não está mais qualificada para ser a líder de Hong Kong e por isto deve assumir a responsabilidade e renunciar", disse Wong.
"Agora que saída da prisão, vou unir-me aos habitantes de de Hong Kong para fazer oposição a esta diabólica lei de extradição para a China", disse.
- Enorme protesto -"Na manifestação de hoje, contabilizamos quase dois milhões de pessoas", afirmou a jornalistas Jimmy Sham, um representante da Frente Cívica de Direitos Humanos (CHRF).
O número não foi confirmado por fontes independentes. A polícia divulgou uma estimativa de 338.000 pessoas no momento de maior fluxo.
Os organizadores pretendem manter a pressão sobre Carrie Lam, chefe do Executivo pró-Pequim de Hong Kong, que no sábado suspendeu o projeto de lei autorizando as extradições para a China.
"Retire a lei do mal!", gritavam os manifestantes vestidos de preto. A marcha de protesto partiu de um parque na ilha de Hong Kong e seguia para o Conselho Legislativo (LegCo, Parlamento), no coração da cidade. Trata-se do mesmo percurso realizado há uma semana e que reuniu um milhão de pessoas, de acordo com os organizadores.
Segundo seus críticos, o projeto colocaria a população da ex-colônia britânica à mercê do sistema judiciário da China continental, opaco e controlado pelo Partido Comunista. A comunidade empresarial teme ainda a possibilidade de a reforma prejudicar a imagem internacional e a atratividade do centro financeiro.
Acusada de autoritarismo, Lam apresentou neste domingo suas "desculpas" e reconheceu que as "lacunas no trabalho do governo provocaram muitos conflitos e rixas na sociedade de Hong Kong e decepcionaram e provocaram angústia em muitos cidadãos".
Na quarta-feira, Hong Kong registrou os piores episódios de violência desde a devolução do território à China em 1997, quando milhares de pessoas foram dispersadas pela polícia de choque com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Lam justificou a repressão pelos atos de violência da parte de alguns manifestantes, mas a oposição afirma que esta foi uma parcela ínfima no conjunto de protestos, em sua maioria pacíficos.
"Polícia de Hong Kong, o seu dever é nos proteger, não atirar contra nós", dizia o cartaz de um manifestante.
O movimento vai além da questão das extradições e expressa um ressentimento muito maior contra o governo e contra Pequim, acusados de tolher as liberdades do território semi-autônomo.
Nos últimos dias, a chefe de Governo se mostrou cada vez mais isolada, com deputados de seu próprio campo distanciando-se do texto.
Os críticos de Lam culpam-na por perder várias oportunidades de se desculpar pelo comportamento da polícia.
Apesar da crise, a China reiterou nesta segunda-feira o apoio a Carrie Lam.
"O governo central seguirá apoiando firmemente a chefa do Executivo da Região Administrativa Especial" (Hong Kong), declarou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Lu Kang.
Lam é considerada pelos críticos muito subordinada a Pequim.
Diante da pressão, ela anunciou no sábado a retirada por tempo indeterminado do projeto de lei sobre extradição. Após as manifestações de domingo, Lam pediu desculpas.
Os manifestantes, no entanto, repetem que exigem a retirada total do projeto de lei e a renúncia de Lam.
O governo chinês expressou apoio à suspensão do projeto de lei, mas o porta-voz da diplomacia de Pequim afirmou que os manifestantes "não representam a opinião pública geral" de Hong Kong.