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No Rio de Janeiro, sob o Cristo Redentor, o balé de paus de selfie

27/06/2019 08h59

Rio de Janeiro, 27 Jun 2019 (AFP) - Sob a imensa estátua do Cristo Redentor, com vista para o Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara, dezenas de turistas fazem selfies diante de um esplêndido panorama sublimado pela luz do sol poente.

Uma floresta de braços elevados para selfies solo, em casal, com a família. Os paus de selfie se cruzam em um balé hesitante: se fotografar com o Cristo, ou com o Pão de Açúcar ao fundo, mas especialmente sem vizinhos fazendo suas próprias selfies.

Com seus longos cabelos, Philippe, um jovem engenheiro francês, é fotografado em frente à imponente estátua art déco de concreto e esteatita. "Meus colegas riem dizendo que eu pareço com Jesus. Então eu tinha que tirar uma selfie para enviá-los", justifica.

Mas ele tem reservas sobre o exercício. "Nas redes sociais, transmite uma falsa imagem. Postamos apenas coisas bonitas, ao sol, no Rio, na praia", afirmou. "As pessoas ficam depressivas porque sentem que suas vidas valem merda nenhuma", refletiu.

Enquanto o sol poente faz o Cristo do Corcovado ficar cor-de-rosa, Daniela Lemes, uma funcionária pública brasileira, extasia-se com a selfie que é "um momento de alegria compartilhada em família (...) em lugares maravilhosos como esse".

Na outra ponta do Rio de Janeiro, em frente ao Museu do Amanhã, outro local icônico da "Cidade Maravilhosa", a esteticista Tatiana da Silva de Paula admite fazer entre 100 e 200 selfies por dia.

"Eu tiro primeiramente para me olhar e também para colocar nas redes sociais, para os amigos verem, principalmente os familiares que estão longe", explica.

- "Ânimos exaltados" -O Brasil é um país louco por selfies, mas não o único.

A 9.000 km de distância, no coração de Roma, a Fonte de Trevi é passagem obrigatória para os amantes de selfies.

Como Sarah e Fivos, dois britânicos de Manchester na Cidade Eterna para celebrar seu 10º aniversário de casamento. "Estamos muito satisfeitos com a selfie que fizemos, mas no meio dessa multidão tivemos que esperar muito tempo para não haver ninguém no enquadramento".

Ao lado, Elia e Chiara, italianos de Frosinone (sul de Roma) optaram por complicar o exercício fazendo uma selfie dos pais... tirando uma selfie.

A afluência é tal em torno da fonte imortalizada por Fellini em "A Doce Vida" que, às vezes, os ânimos se exaltam.

Como em agosto, quando a polícia municipal teve de separar dois grupos de turistas que começaram a brigar, porque queriam fazer uma selfie no mesmo lugar em frente ao monumento.

Em Atenas, entre milhões de turistas, até as celebridades desfilam para selfies românticas na Acrópole. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, com sua esposa em maio, depois o ex-Beatle Paul McCartney, com a sua.

- Esporte nacional -No Egito, em frente à pirâmide de Gizé, a única das "sete maravilhas" do mundo antigo ainda visível hoje, Sheila Ahmed, uma turista de Bangladesh, repete com seu smartphone o gesto de milhões de visitantes antes dela.

"Eu não sou fã de selfies, mas é tão fácil tirar fotos de si mesmo em qualquer lugar, especialmente aqui na frente da Grande Pirâmide. Onde eu tiraria uma selfie se não estivesse aqui?", diz ela.

Nos Estados Unidos, o "Mather Point", no Grand Canyon, é talvez o local da América onde a febre do selfie atinge mais intensidade.

"A vista já é muito bonita daqui, eu não vejo razão para se aproximar mais", comenta Kathryn Kelly, turista britânica, vendo uma jovem imprudente se aventurar até a beira do precipício.

Na Coreia do Sul, a selfie é um esporte nacional. O presidente Moon Jae-in fez uma selfie-vídeo para seus 100 dias no poder.

E, se a Coreia do Norte é, aparentemente, o único país a não ter sido contaminado por este vírus global, o número um Kim Jong-un posou para pelo menos dois autorretratos: com um ministro de Singapura e com um jornalista russo.

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