Relutante, Salvini permite desembarque de menores migrantes na Itália
Roma, 17 Ago 2019 (AFP) - O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, permitiu relutantemente a evacuação de 27 menores migrantes do navio humanitário "Open Arms" neste sábado (17), depois de mais de duas semanas de espera.
Em uma carta, Salvini disse ao primeiro-ministro Giuseppe Conte que ele poderia autorizar os "supostos" menores a abandonarem o navio "Open Arms", apesar de esta medida ser "contrária às [suas] opiniões".
Os demais 105 adultos e duas crianças acompanhadas deverão permanecer embarcados, embora as condições a bordo sejam "insustentáveis", relata a ONG Proactiva Open Arms.
- "Muitas lágrimas" -"Muitas lágrimas. Deixamos amigos e companheiros de viagem", escreveu a ONG.
Este é o enésimo caso de uma embarcação humanitária à deriva no Mediterrâneo, à espera de que o governo italiano e seu ministro do Interior, de extrema direita, autorizem o desembarque.
Desta vez, o assunto se misturou com a crise política vivida na Itália.
Depois de romper a coalizão que sustentava sua gestão, na semana passada, Salvini apresentou uma moção de censura para energizar o governo.
Uma aliança inesperada entre o M5E (ex-parceiro da Liga, de Salvini) e o Partido Democrata (centro esquerda) permitiu adiar, sem data estabelecida, a votação da moção.
Na quinta-feira, Conte anunciou que França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha estavam dispostas a cuidar de uma parte dos migrantes do "Open Arms". De acordo com Salvini, porém, seus colegas europeus ainda não deram "passos formais" para a recepção.
O ministro ultraconservador ganhou popularidade na Itália com um discurso linha-dura contra migrantes e demandantes de asilo. Ele se recusa a permitir que o navio "Open Arms" desembarque, embora outros países europeus tenham concordado com receber pessoas a bordo.
Um promotor siciliano enviou a polícia judiciária para a sede da Guarda Costeira em Roma, neste sábado, como parte de uma investigação de sequestro e abuso de poder sobre a decisão de impedir o atracamento do "Open Arms".
Na sexta-feira, a ONG explicou que eles tinham ameaças de suicídio a bordo e exigiram o pouso para "emergência humanitária".
O capitão do navio, Marc Reig, descreveu a situação como "explosiva", insistindo em que os migrantes estavam "abalados psicologicamente".
- Político, não humanitário -De acordo com Salvini, se 16 dias atrás o navio tivesse ido para a Espanha (sede da ONG), em vez de seguir para a Itália, já estaria de volta "em casa".
"A batalha dessa ONG é política e certamente não humanitária", disse ele no Twitter.
Em plena crise institucional, o caso "Open Arms" se tornou uma arma entre os diferentes atores da política italiana.
As tentativas de Salvini de impedir a entrada de migrantes em portos italianos com dois decretos consecutivos foram derrubadas: primeiro, pela Justiça italiana; depois, pela própria ministra da Defesa, ex-companheira e atual adversária política, argumentando razões humanitárias.
Enquanto isso, o navio humanitário "Ocean Viking", operado pela SOS Méditerrannée e Médicos sem Fronteiras (MSF) ainda buscam um porto seguro com mais de 350 migrantes.
bur-cjo/aoc/mis/aa/tt
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