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ONU alerta para piora da crise de refugiados venezuelanos em 2020

Brasil recebeu parte dos refugiados venezuelanos, mas a maioria foi para a Colômbia - Edmar Barros/Futura Press/Folhapress
Brasil recebeu parte dos refugiados venezuelanos, mas a maioria foi para a Colômbia Imagem: Edmar Barros/Futura Press/Folhapress

28/10/2019 18h36

A crise de migrantes venezuelanos na América Latina vai piorar em 2020, quando se espera que atinja 6,5 milhões de pessoas, advertiu hoje a Organização das Nações Unidas (ONU), duplicando também suas estimativas sobre o financiamento necessário para enfrentar o fenômeno.

"Os desafios para 2020 serão ainda maiores do que os que se enfrentam em 2019", afirmou o enviado especial da ONU Eduardo Stein no começo de uma conferência internacional em Bruxelas concentrada nesta crise migratória, uma das maiores atualmente no mundo.

Stein assegurou que o número total de refugiados e migrantes venezuelanos, que em 80% dos casos buscam refúgio em países próximos - especialmente a Colômbia - passará dos 4,5 milhões atuais para 6,5 milhões em 2020, aumentando a pressão sobre estes países.

O objetivo da conferência, patrocinada pela União Europeia e pela ONU, é precisamente conscientizar sobre a situação e ver como ajudar os governos latino-americanos a fazer frente às necessidades de acolhida dos migrantes que fogem da crise na Venezuela.

"A comunidade internacional simplesmente não está fazendo o suficiente. E tenho a impressão de que não é suficientemente consciente da gravidade", lamentou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, no começo da sessão, que vai prosseguir na terça-feira.

"É verdadeiramente uma crise de imensas proporções. Em número já é a segunda depois da crise da Síria", afirmou à AFP o chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, para quem esta vai continuar enquanto o "regime ditatorial" de Nicolás Maduro continuar no poder.

O chanceler equatoriano, José Valencia, afirmou à AFP que esta crise "é um problema que engloba toda a América do Sul, que provoca desequilíbrios regionais, pressões nas nações" e que "um apoio (da comunidade internacional) que nos permita seguir adiante da conjuntura atual é indispensável".

O enviado especial das agências da ONU para as Migrações (OIM) e Refugiados (Acnur) estimou em 1,35 bilhão de dólares o montante necessário para atender 4,3 milhões de pessoas em 17 países em 2020, dobrando um chamado anterior de dezembro de 2018.

Embora o evento não busque arrecadar fundos, não se descarta que alguns países contribuam. Ao final do evento, previsto para esta terça-feira por volta do meio-dia, poderá ser anunciada uma conferência de doadores para o ano que vem.

O chanceler espanhol, Josep Borrell, que em 1º de dezembro se tornará chefe da diplomacia europeia, já anunciou que seu país aportará 50 milhões de euros em três anos para mitigar os efeitos da crise de migrantes.

- "Crescentes níveis de xenofobia" -A América Latina, que viu milhões de pessoas irem para os Estados Unidos e a Europa no final do século XX, está sob a pressão de atender os venezuelanos que em um número importante estão deixando seu país por terra, mar e ar.

E tudo isso em um contexto de estagnação política na Venezuela, que enfrenta a pior crise política, econômica e social de sua história recente e que dissipa as possibilidades de um retorno dos migrantes ao seu país.

Horas antes do encontro, a ONG Oxfam pediu que não se esqueçam das comunidades de acolhida, após alertar em um informe para o aparecimento de sinais que poderiam estimular "sentimentos xenófobos" em Colômbia, Peru e Equador.

"As narrativas anti-imigratórias estão começando a enquadrar seu discurso com base em medos já conhecidos", ao associarem a migração à "insegurança" ou "ao colapso dos serviços sociais", alerta a Oxfam.

A Colômbia, com 1,4 milhão de migrantes venezuelanos, o Peru (860.000) e o Equador (330.000) estão de fato entre os países na linha de frente desta crise, ao lado de Chile (371.000) e Brasil (212.000), segundo a ONU.

A situação "sem precedentes" pela fuga dos venezuelanos está gerando "níveis crescentes de xenofobia" nos países de acolhida, assegurou Stein, para quem também devem ser atendidas as necessidades das comunidades de acolhida.

Em seu discurso, o enviado especial criticou ainda os estritos requisitos de entrada impostos por alguns governos, como o do Equador, já que isto aumenta a "vulnerabilidade" dos migrantes venezuelanos que optem por "rotas irregulares".

Em um contexto de estagnação da crise política na Venezuela, nem o governo de Nicolás Maduro, nem a oposição liderada por Juan Guaidó foram convidados à conferência.