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Tensão entre Israel e Hezbollah é alta, mas um conflito é improvável

02/08/2020 12h01

Em cada lado da fronteira entre Israel e Líbano, as declarações são marciais: o Hezbollah afirma que a ação contra Israel é "irremediável" e Israel adverte o movimento xiita sobre "brincar com fogo", mas para analistas nenhum dos dois pretende entrar em conflito.

Na última segunda-feira, após meses de relativa calma, Israel informou que impediu um ataque "terrorista" e abriu fogo contra homens armados que cruzaram a Linha Azul entre o Líbano e Israel, mas retornaram ao lado libanês.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu atribuiu a invasão ao Hezbollah, movimento armado xiita pró-iraniano de alta influência no sul do Líbano, que Israel considera seu inimigo.

O Hezbollah negou qualquer envolvimento.

O episódio ocorreu após novos ataques na Síria atribuídos a Israel, que deixaram cinco combatentes pró-iranianos mortos, incluindo um membro do Hezbollah.

O primeiro-ministro libanês Hassan Diab condenou o que chamou de "escalada perigosa".

Diante dessa possibilidade, o exército israelense elevou seu status de alerta na fronteira, explica Orna Mizrahi, ex-executiva de segurança do gabinete do premier israelense e analista do Instituto Nacional de Estudos de Segurança.

Falsa calma

O último grande confronto entre o Hezbollah e Israel foi em 2006. Em um mês, mais de 1.200 pessoas morreram do lado libanês, principalmente civis, e 160 entre os israelenses, em sua maioria militares.

Dias antes do último incidente na fronteira, durante uma visita da agência de notícias AFP às bases militares israelenses na Linha Azul, o capitão Jonathan Goshen disse: Nossas tropas veem o Hezbollah "se preparando para a próxima guerra".

Jornalistas que costumam ir ao sul do Líbano afirmam que a presença militar do Hezbollah é invisível.

Segundo um relatório feito pela ONU em março, o movimento mantém combatentes e armas no local.

"A fronteira parece calma, mas não é", disse Jonathan Goshen, perto de Metula, a cidade mais ao norte de Israel.

"Quando nos aproximamos, basta esperar dez minutos e é possível vê-los [membros do Hezbollah] chegarem em busca de informações para testar nossa reação", acrescentou.

"Incomum"

Para os observadores, os dois lados estão cientes de que um conflito não seria interessante no momento.

No lado libanês, o descontentamento popular e os protestos contra o governo, incluindo nos redutos do Hezbollah,"não podem ser ignorados", segundo Didier Leroy, especialista no grupo armado.

Com uma grave crise econômica, política e de saúde, "o ambiente no Líbano não é favorável a uma agenda marcial contra Israel", acrescenta.

Leroy afirma que o Hezbollah está sob pressão financeira, como seu aliado iraniano, o que influencia na estratégia "militar".

Israel tem melhor situação econômica, mas enfrenta outros problemas, como a pandemia de covid-19, o desemprego em ascensão e os protestos contra o governo, disse Orna Mizrahi.

O comportamento do exército israelense indica uma intenção de evitar qualquer conflito, disse Nahum Barnea ao jornal Yediot Aharonot.

"A lógica é clara: matar membros da célula levaria a um dia de luta no norte (...) Mas os responsáveis não desejam entrar em uma terceira guerra no Líbano", explica ele.