Topo

Nagorno Karabakh tem intensos combates; Turquia pede 'negociações a quatro'

13/10/2020 17h54

Tartar, Azerbaijão, 13 Out 2020 (AFP) - As forças separatistas armênias e o exército do Azerbaijão se enfrentaram em intensos combates nesta terça-feira (13) em Nagorno Karabakh, ignorando a trégua humanitária, diante do que a Turquia propôs "negociações a quatro" com a Rússia para encontrar uma saída para o conflito.

"Posto que a Rússia está do lado da Armênia e nós, a Turquia, apoiamos o Azerbaijão, vamos nos reunir os quatro para discutir a solução destes problemas", afirmou Ibrahim Kalin, diretor de comunicação da Presidência turca, em entrevista televisiva.

A Turquia considera que o Grupo de Minsk, copresidido por Rússia, França e Estados Unidos, não tem podido desempenhar um papel efetivo na resolução do conflito.

"Se o Grupo de Minsk não pôde encontrar uma solução em mais de 30 anos, é tempo de encontrar um novo mecanismo", acrescentou, em alusão a este grupo de mediação.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, por sua vez, recorreu ao Twitter para pedir aos beligerantes para "respeitar seu compromisso de um cessar-fogo" e a "parar de ter como alvo zonas povoadas por civis".

Os dois lados continuam se acusando mutuamente pelas hostilidades que já deixaram 600 mortos, 73 deles civis, segundo balanços muito parciais, já que o Azerbaijão não comunica as perdas militares.

- Estagnação diplomática e militar -Pelo quarto dia consecutivo, e apesar dos apelos reiterados da Rússia e dos países ocidentais, a trégua negociada com a mediação de Moscou e que devia entrar em vigor no sábado, permanece sem ser obedecida.

"Hoje, depois de duas semanas de intensos combates, que infelizmente recrudesceram (...), vemos que centenas de milhares de pessoas foram afetadas na região", afirmou o diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para a Eurásia, Martin Schuepp, em um comunicado.

Segundo ele, estão ocorrendo "discussões" para a troca de prisioneiros e os corpos dos mortos, um dos objetivos da trégua acordada.

No front, os separatistas do enclave acusaram o exército rival de ter lançado uma tripla ofensiva no sul, no norte e no nordeste da república autoproclamada.

Por sua vez, Baku afirmou "respeitar o cessar-fogo", mas que o inimigo armênio disparava contra os distritos azerbaijanos de Goranboy, Tartar e Agdam.

O Azerbaijão parece ter recuperado alguns territórios em algo mais de duas semanas de combates, sem ter conseguido, no entanto, um avanço significativo no que diz respeito aos separatistas, que controlam as montanhas.

"O Azerbaijão registrou vários êxitos militares, mas nada de espetacular. Baku está longe de tomar o controle de Karabach", revela Guela Vassadze, especialista no Centro Georgiano de Análise Estratégica. O conflito está em uma "estagnação diplomática e militar", assinala.

No distrito de Tartar (front norte), uma equipe da AFP viu de longe as forças azerbaijanas bombardear as montanhas onde estão posições armênias que fazem disparos na região.

De Stepanakert, capital da região separatista, era possível ouvir tiros de artilharia na direção do front sul.

Nagorno Karabakh é um território azerbaijano povoado majoritariamente por armênios, que proclamou sua independência em 1991, o que provocou uma guerra sangrenta, que deixou 30.000 mortos. Os combates atuais, que começaram em 27 de setembro, são os mais graves desde 1994.

- Cravos vermelhos e bichos de pelúcia -Os dois lados atribuem ao adversários ataques deliberados às zonas civis povoadas, crimes de guerra e o uso de bombas de fragmentação, uma arma proibida.

Em Ganja, segunda cidade do Azerbaijão, onde no domingo um prédio foi destruído, deixando dez mortos, os moradores depositavam cravos vermelhos e bichos de pelúcia perto dos escombros.

Além da possível crise humanitária, a comunidade internacional teme que o conflito se internacionalize. A Turquia incentiva o Azerbaijão a passar à ofensiva e a Rússia tem um tratado militar com a Armênia.

A Turquia também tem sido acusada de ter enviado combatentes pró-turcos da Síria para combater ao lado dos azerbaijanos, o que o Azerbaijão nega.

Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), 119 combatentes sírios de facções pró-turcas morreram desde o fim de setembro, dos 1.450 deslocados em Karabakh.

Outro problema que se soma hoje em dia a este conflito é a pandemia do novo coronavírus. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de covid-19 aumentaram na região desde o início dos combates.

"A mobilização de tropas, o deslocamento de populações. Tudo isto ajuda para que o vírus se implante", advertiu o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.

burs-alf/pop/slb/es/pc/eg/mis/mvv