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Biden comemora 'vitória' da democracia e pede 'unidade' ao assumir Presidência dos EUA

20/01/2021 21h52

Washington, 21 Jan 2021 (AFP) - Joe Biden tomou posse como o 46º presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira (20), comemorando a "vitória" da democracia e pedindo "unidade" para superar as múltiplas crises que o país enfrenta, em "um novo dia" após os quatro conturbados anos de Donald Trump na Casa Branca.

Com a mão esquerda sobre uma Bíblia de família segurada por sua esposa, Jill, Biden, de 78 anos, prestou juramento perante o presidente da Suprema Corte, John Roberts, comprometendo-se a "preservar, proteger e defender a Constituição".

Pouco antes, Kamala Harris, de 56 anos, fez história ao se tornar a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos.

A cerimônia, realizada em um dia frio e com forte vento, mas ensolarado, foi marcada pelas medidas para conter a pandemia e em frente ao mesmo Capitólio que apenas duas semanas atrás apoiadores de Trump atacaram para tentar invalidar as eleições de novembro.

"Aprendemos outra vez que a democracia é valiosa. A democracia é frágil. E neste momento, meus amigos, a democracia prevaleceu", afirmou o recém-empossado presidente democrata.

O caos provocado em 6 de janeiro deixou cinco mortos e provocou uma segunda acusação de Trump na Câmara de Representantes, desta vez por "incitar a insurreição".

Durante seu discurso de 21 minutos, Biden pediu aos americanos unidade para "curar" um país polarizado no campo político, castigado pelo coronavírus e com uma economia em recessão. Nesta quarta-feira, o número de mortos pela covid-19 no país superou a cifra de 405.399 soldados americanos mortos na Segunda Guerra Mundial.

"Juntos, escrevemos uma história de esperança, não de medo. De unidade, não de divisão. De luz, não de escuridão", disse Biden, assegurando que será "o presidente de todos os americanos".

Também prometeu "derrotar" o "supremacismo branco" e o "terrorismo doméstico", que surgiram na sociedade. E instou o repúdio à manipulação dos fatos, em alusão a Trump, que durante semanas negou sua derrota eleitoral e durante seu mandato popularizou a expressão "notícias falsas".

"É um novo dia nos Estados Unidos", havia tuitado mais cedo Biden que, em uma demonstração de unidade, foi à missa em uma igreja católica ao lado dos líderes democratas e republicanos do Congresso.

- JLo pede "unidade e justiça" em espanhol -Washington, em alerta devido ao risco de novos episódios de violência, mobilizou cerca de 25.000 membros da Guarda Nacional e milhares de policiais de todo o país.

"Parece a entrada de uma base militar durante uma guerra", disse Joe Brunner, um nova-iorquino de 42 anos, em frente a um posto de controle guardado por tropas armadas e veículos militares no centro de Washington.

Uma ameaça de bomba na Suprema Corte motivou uma revista no edifício e arredores, mas não levou a uma evacuação.

Sem precedentes pela covid e a blindagem da cidade, a cerimônia de posse teve seu toque de glamour: Lady Gaga cantou o hino nacional e Jennifer López comoveu com sua interpretação do clássico "This Land is Your Land". E em um país onde os hispânicos são a minoria mais representativa, a cantora latina do Bronx pediu, em espanhol, "unidade e justiça para todos".

Os ex-presidentes democratas Barack Obama e Bill Clinton e o republicano George W. Bush acompanharam Biden e Harris no Capitólio e à tarde visitaram com eles o cemitério de Arlington para homenagear os militares mortos em combate.

A ausência de Trump na transferência de poder representou uma quebra em mais de 150 anos de tradição republicana, mas seu governo foi representado pelo vice, Mike Pence.

A saída prematura de Trump para a Flórida também obrigou alterar os protocolos para a transferência dos códigos nucleares em uma mala que sempre acompanha o presidente americano.

- "Uma carta muito generosa" -Biden, que chegou à Casa Branca de tarde, caminhando ao lado da primeira-dama, contou a jornalistas que Trump "lhe deixou uma carta muito generosa" no Salão Oval, cumprindo com uma tradição de passagem de comando. Mas não revelou a mensagem por ser "assunto privado".

"Não vou falar do assunto até que fale com ele", disse.

Sem nomear seu sucessor, Trump desejou ao próximo governo "muita sorte e muito sucesso", antes de decolar de manhã da base militar Andrews, ao som de "My Way", de Frank Sinatra, ressoando nos alto-falantes da pista.

O magnata republicano retomou sua vida de cidadão comum em Mar-a-Lago, seu luxuoso clube de golfe em Palm Beach, após voar pela última vez a bordo do Air Force One, o avião presidencial, na companhia da esposa, Melania, e do filho dos dois, Barron, além dos filhos mais velhos do empresário: Donald Jr., Ivanka e Eric.

O presidente em fim de mandato, que não fez nenhum comentário aos jornalistas durante o voo, foi recebido por centenas de simpatizantes agitando bandeiras americanas ou da sua campanha.

"Bem-vindo", disse um. "Trump 2024", falou outro. "Te amamos", repetia o grupo.

Alguns cartazes pró-Biden também apareceram. Um, direcionado a Trump, dizia: "Você está demitido, perdedor".

Em uma manhã gelada, Trump partiu da base nos arredores de Washington após uma breve cerimônia sem brilho à qual faltaram muitos convidados, entre eles o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, e seu contraparte na Câmara baixa, Kevin McCarthy, que preferiram ir à missa com Biden.

"Foram quatro anos incríveis", disse Trump. "Voltaremos de alguma forma", assegurou.

Trump, de 74 anos, insinuou que se candidatará à Presidência em 2024. Mas seu julgamento político no Senado, ainda sem data prevista, poderia inabilitá-lo a ocupar um cargo no futuro.

A Câmara alta, que nesta quarta-feira passou a ter maioria democrata, confirmou o primeiro membro da equipe de Biden: a diretora nacional de Inteligência, Avril Haines.

- Muro e mudanças climáticas -Joseph Robinette Biden Jr., filho de uma família católica irlandesa de classe média, chegou à Casa Branca em sua terceira candidatura e após ter sido por oito anos o vice-presidente de Obama.

"Não há tempo a perder", disse o presidente de mais idade a ser empossado no cargo em seu primeiro tuíte na conta oficial @POTUS.

O político veterano assinou uma série de decretos para reverter políticas que marcaram a gestão de seu antecessor, entre elas o retorno à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao Acordo Climático de Paris.

"Vamos combater as mudanças climáticas de uma forma que não tínhamos tentado até agora", afirmou.

Ele também aprovou a suspensão dos trabalhos de construção do muro na fronteira com o México e iniciativas para expandir a diversidade e a participação de minorias no governo federal.

Além disso, tornou obrigatório o uso de máscaras nos prédios federais e nos transportes interestaduais, assim como para os funcionários do governo central.

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