Governador de Nova York ignora presão e se recusa a renunciar
Nova York, 13 Mar 2021 (AFP) - O governador de Nova York, Andrew Cuomo, denunciado por assédio sexual e conduta imprópria por várias mulheres, recusou-se mais uma vez a renunciar nesta sexta-feira (12), apesar do número crescente de legisladores democratas que pedem a sua demissão.
"Não renunciarei", insistiu Cuomo em entrevista coletiva, na qual pediu para aguardar o resultado da investigação da procuradora-geral do estado sobre as alegações. "Eu não fiz as coisas das quais me acusam", acrescentou.
Horas depois, a pressão pela renúncia do governador aumentou. O líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer, eleito por Nova York, estimou que Cuomo "perdeu a confiança de seus parceiros de governo e dos nova-iorquinos", segundo comunicado assinado em conjunto com a também senadora pelo estado Kirsten Gillibrand.
Cuomo sugeriu que é vítima da "cultura do cancelamento", a guerra cultural em ascensão nos Estados Unidos, que gera polêmica sobre as medidas que devem ser adotadas para enfrentar a discriminação contra minorias raciais, étnicas ou sexuais.
"As figuras políticas tomam partido por uma série de razões, incluindo oportunismo político ou para ceder à pressão. Mas as pessoas sabem como fazer a diferença entre o jogo político, a 'cultura do cancelamento' e a realidade", disse Cuomo.
- Processo de destituição -Desde o mês passado, seis mulheres acusam o governador democrata, 63, de assédio sexual ou má conduta. Ele está no cargo há uma década e foi considerado um herói em 2020 por seu gerenciamento da pandemia.
Nesta sexta-feira, vieram à tona depoimentos de outras duas mulheres, uma delas jornalista que cobriu a gestão do governador entre 2012 e 2014 e disse ter sido humilhada por Cuomo. A outra denunciante, identificada apenas pelo nome Kaitlin, manifestou à "New York Magazine" seu incômodo com o comportamento do governador.
Cuomo mantém sua posição contrária a de outros homens no poder que, desde o início do movimento #MeToo, no final de 2017, tiveram que renunciar após serem acusados de assédio sexual ou agressão, às vezes sem investigação prévia. Mas a pressão sobre ele segue alta, após a denúncia que veio à tona na quarta-feira e parece ser a mais grave: uma funcionária o acusa de ter colocado a mão sob a blusa dela no final de 2020.
Cerca de 60 legisladores do estado de Nova York exigem a renúncia de Cuomo e deram ontem o primeiro passo para o processo de impeachment: o Comitê Judiciário da Câmara recebeu autorização para iniciar uma investigação que decidirá se dá lugar ao procedimento.
Os últimos parlamentares democratas a pedir a renúncia de Cuomo nesta sexta-feira foram a jovem estrela da ala esquerda democrata Alexandria Ocasio-Cortez, também chamada pelas iniciais AOC, e o experiente Jerry Nadler.
A denúncia "é preocupante para a segurança e bem-estar imediatos da equipe do governador", disse AOC, que representa os bairros Queens e Bronx, em uma declaração conjunta com outro colega de Nova York, Jamaal Bowman.
"Acreditamos nessas mulheres, nas notícias, acreditamos no promotor e nos 55 legisladores de Nova York que chegaram à conclusão de que o governador Cuomo não pode mais liderar efetivamente diante de todos esses desafios", concluem em seu comunicado.
Outro legislador nova-iorquino na Câmara dos Representantes, o veterano Jerry Nadler, também considerou que "as repetidas acusações contra o governador e a maneira como ele respondeu a elas tornam impossível que ele continue governando". Ele "perdeu a confiança dos nova-iorquinos" e "deve renunciar", declarou.
Não se sabe quando as investigações serão concluídas. "Ninguém quer mais do que eu que elas sejam conduzidas de forma exaustiva e rápida", afirmou Cuomo, cujo mandato expira no ano que vem. Se a pressão continuar e ele insistir em permanecer no cargo, apenas um processo de destituição poderá retirá-lo do poder. Esse procedimento, sem precedentes desde 1913, requer maioria simples na câmara baixa e dois terços na câmara alta.
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