Testemunha afirma ter sentido 'incredulidade e culpa' pela morte de George Floyd
Minneapolis, Estados Unidos, 31 Mar 2021 (AFP) - Um jovem caixa de uma loja de Minneapolis disse nesta quarta-feira (31), durante o julgamento pelo assassinato de George Floyd, que se arrependeu de aceitar a nota falsa de 20 dólares usada pela vítima para pagá-lo, o que mais tarde levaria a sua prisão e morte.
"Se eu simplesmente não tivesse aceitado a nota, isso poderia ter sido evitado", lamentou Christopher Martin no terceiro dia do midiático julgamento de Derek Chauvin.
O ex-policial de Minneapolis, de 45 anos, é acusado de assassinato e homicídio culposo por seu papel na morte de Floyd em 25 de maio de 2020, que foi registrada em vídeo e provocou manifestações contra o racismo em todo o mundo.
As imagens mostram Chauvin, que é branco, ajoelhado sobre o pescoço de Floyd, um homem negro de 46 anos, durante mais de nove minutos.
Martin, de 19 anos, trabalhava como caixa na Cup Foods, a loja onde Floyd utilizou uma nota falsa para comprar um maço de cigarros. O jovem afirmou no tribunal que soube imediatamente que não era uma nota real, mas que a aceitou mesmo assim.
"Pensei que George realmente não sabia que era uma nota falsificada", contou ele. "Achei que estava fazendo um favor (...) Recebi de qualquer forma e estava pensando em colocar na minha conta", disse.
O caixa contou o que havia acontecido ao gerente, que o pediu para sair e dizer a Floyd para voltar à loja. Martin e seus colegas foram até o carro onde Floyd estava com duas outras pessoas, mas ele se recusou a voltar, então o gerente chamou a polícia.
O que ocorreu em seguida é bem conhecido: o afro-americano acabou algemado e imobilizado no chão, com o joelho de Derek Chauvin sobre seu pescoço. Apesar de seus apelos e os gritos de transeuntes angustiados, o policial manteve a pressão até a chegada de uma ambulância, tarde demais para reanimar Floyd.
- "Incredulidade e culpa" -Eric Nelson, o advogado de defesa de Chauvin, afirmou nas argumentações iniciais que a morte de Floyd foi causada por drogas e suas condições médicas prévias, e não por asfixia.
Martin, por sua vez, descreveu que Floyd parecia "drogado" quando entrou na loja, mas que foi "muito amigável, acessível e falante".
"Ele parecia estar tendo um Memorial Day (feriado nos EUA) normal, apenas vivendo sua vida", relatou. "Mas parecia sim drogado".
O caixa disse que saiu da loja quando ouviu "gritos e berros" do lado de fora. "Eu vi (Chauvin) com o joelho no pescoço de George no chão", contou. "George estava imóvel, mole."
Nas filmagens de uma câmera de segurança apresentadas ao júri, o jovem funcionário é visto, chocado, com as mãos na cabeça. Ao promotor, que perguntou o que ele sentia naquele momento, ele respondeu com a voz embargada: "incredulidade e culpa".
Depois disso, Martin se mudou e nunca mais retornou à Cup Foods.
Também depôs nesta quarta-feira Charles McMillian, de 61 anos, que disse que passava pelo local naquele dia e parou para ver o que estava acontecendo.
Ao ser o primeiro espectador da cena, pode ser ouvido no vídeo dizendo a Floyd, já algemado, "você não pode vencer" e pedindo que entrasse no banco de trás do carro da polícia.
Os promotores reproduziram o vídeo da câmera corporal da polícia em que Floyd aparece dizendo que tem "claustrofobia" e chamando por sua mãe enquanto os agentes tentam colocá-lo dentro do carro.
McMillian começou a soluçar enquanto o vídeo era exibido, tirando os óculos e enxugando os olhos com lenços de papel até que o juiz Peter Cahill pediu um breve recesso.
"Eu me senti impotente", disse McMillian, que também enfrentou Chauvin depois do incidente.
Perguntado por um promotor porque o fez, McMillian disse: "Porque o que vi estava errado".
- Júri -A sessão matinal do julgamento foi rapidamente interrompida quando um membro do júri, composto por nove mulheres e cinco homens, pareceu indisposto.
Os promotores tentam demonstrar ao júri que Chauvin não tinha justificativa para usar a perigosa manobra sobre o pescoço de Floyd.
O ex-agente, que passou 19 anos a serviço da polícia de Minneapolis, foi libertado sob fiança e se apresenta livre ao julgamento ao qual se declara não culpado. Ele pode pegar até 40 anos de prisão caso seja condenado pela acusação mais grave, o de homicídio em segundo grau.
O júri deve dar seu veredicto até o final de abril ou início de maio.
Os outros três policiais envolvidos, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, serão julgados em agosto por "cumplicidade no assassinato".
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