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Estados Unidos e França se enfrentam na ONU sobre conflito no Oriente Médio

19/05/2021 21h27

Nações Unidas, Estados Unidos, 20 Mai 2021 (AFP) - O conflito no Oriente Médio provocou um confronto diplomático na ONU entre a França e os Estados Unidos, a primeira tensão aberta entre os dois aliados desde que Joe Biden chegou à Casa Branca.

Depois de dez dias de bloqueio dos Estados Unidos no Conselho de Segurança a qualquer declaração que condene a violência no Oriente Médio, a França, com a ajuda de Egito, Jordânia e Tunísia, redigiu na terça um projeto de resolução de uma página e meia no qual exige-se "o cessar imediato das hostilidades" e "a entrega e a distribuição sem obstáculos de ajuda humanitária em toda Gaza".

Segundo o texto obtido pela AFP, o projeto "insta a intensificação e aceleração dos esforços diplomáticos e o apoio a uma solução negociada de dois Estados", Israel e Palestina, vivendo em paz um ao lado do outro.

Entregue nesta terça a um número muito reduzido de países, o rascunho foi distribuído na quarta à noite aos 15 membros do Conselho, que têm até a quinta-feira à noite para propor comentários, segundo diplomatas.

A França, que afirma buscar "um cessar-fogo imediato", não deu nenhuma data para a votação.

Biden anunciou nesta quarta-feira que tinha dito diretamente ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que espera uma "desescalada significativa" na quarta-feira, o que evidencia os contrastes nas abordagens do conflito.

Um porta-voz dos Estados Unidos na ONU disse à AFP: "Estamos centrados nos intensos esforços diplomáticos que estão sendo realizados para pôr fim à violência e não apoiaremos ações que consideremos que socavam os esforços de desescalada".

- "É um pouco estranho" -A França não sugeriu nenhuma data para a votação de sua proposta de resolução e parece que o projeto de texto foi amplamente distribuído entre os 15 membros do Conselho de Segurança.

A tática suscitou sugestões de que se tratava de uma tentativa de aumentar a pressão sobre os Estados Unidos ou de destacar que Biden não estava cumprindo sua promessa de ter uma abordagem mais multilateral dos assuntos internacionais do que seu antecessor, Donald Trump.

"É um pouco estranho, levando em conta a expectativa que todos tínhamos de que os americanos voltassem à diplomacia multilateral", disse um embaixador da ONU à AFP sob a condição do anonimato. "Também pensávamos que os Estados Unidos estariam dispostos a mostrar a relevância do Conselho de Segurança em situações como esta".

Outro diplomata assegurou: "Só pedimos aos Estados Unidos que apoiem uma declaração do Conselho de Segurança que diga mais ou menos coisas similares às que estão dizendo bilateralmente em Washington".

- Discrepâncias em outros assuntos -A tensão palpável entre a França e os Estados Unidos pode deixar marcas e afetar outros assuntos.

Os dois países também divergiram esta semana sobre a conveniência de prestar ajuda à força antijihadista G5 Sahel.

A França, muito comprometida política e militarmente na região, leva anos fazendo campanha para que a ONU apoie financeira, logística e operacionalmente os 5.000 soldados da força, insuficientemente equipados, que aportam Níger, Chade, Mauritânia, Mali e Burkina Faso.

A administração de Trump se negou categoricamente e a França esperava um apoio maior após a posse de Biden em janeiro. Mas os Estados Unidos voltaram a se opor à postura francesa e, em seu lugar, apoiaram a ajuda bilateral.

Quanto ao Oriente Médio, o Conselho de Segurança foi muito criticado por não ter adotado ainda uma declaração, e os Estados Unidos, aliados incondicionais de Israel, já rejeitaram três projetos de declaração propostos por China, Noruega e Tunísia, que pediam o fim dos combates.

Quando Paris anunciou seu projeto de resolução, a Presidência francesa afirmou: "os disparos devem cessar, chegou o momento de um cessar-fogo e o Conselho de Segurança da ONU deve se ocupar da questão".

Geraldine Byrne Nason, embaixadora da ONU para a Irlanda, membro permanente do Conselho, afirmou que "os membros têm uma responsabilidade coletiva com a paz e a segurança internacionais".

"É hora de que o Conselho dê um passo adiante, rompa seu silêncio e se pronuncie", acrescentou.

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