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UE e Belarus abordam crise migratória na véspera de reunião sobre sanções

14/11/2021 18h53

Varsóvia, 14 Nov 2021 (AFP) - O titular de política da União Europeia (UE) e o ministro de Relações Exteriores de Belarus se reuniram neste domingo (14), pela primeira vez, para tratar da crise migratória, um dia antes da reunião do bloco europeu para ampliar as sanções contra Minsk.

O alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, assinalou que falou por telefone com o ministro bielorrusso Vladimir Makei sobre "a situação humanitária precária" na fronteira entre Belarus e Polônia, que representa o limite oriental da UE.

"A situação atual é inaceitável e tem que acabar. As pessoas não devem ser utilizadas como armas", afirmou Borrell em um tuíte.

De acordo com a declaração bielorrussa sobre a conversa, Makei insistiu que as sanções contra Minsk são "inúteis" e "contraproducentes".

Milhares de migrantes procedentes do Oriente Médio acampam na fronteira entre a UE e Belarus, o que provocou o agravamento das relações entre o bloco e os Estados Unidos, de um lado, e Belarus e sua aliada Rússia, do outro.

Os países ocidentais acusam o regime do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko de organizar deliberadamente a crise, estimulando os migrantes a seguir para este país e depois transportá-los até a fronteira com a Polônia.

Belarus nega essa acusação e culpa o Ocidente. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também rejeita qualquer relação com o caso e pede que Bruxelas dialogue diretamente com Minsk.

- "Cansados e doentes" -No maior acampamento, perto da cidade bielorrussa de Bruzgi, as autoridades calculam a presença de 2.000 migrantes e refugiados, incluindo mulheres grávidas e crianças.

Contactado pela AFP por telefone, Bakr, um iraquiano de 28 anos, disse que esteve na fronteira há seis dias depois de viajar de Bagdá a Minsk via Dubai, como parte de uma viagem organizada por uma agência de turismo.

"Estamos todos cansados e doentes", insistiu ele.

Sangar, um caminhoneiro de 30 anos do Curdistão iraquiano, disse que estava na fronteira com sua esposa e três filhos, um dos quais tinha oito anos e teve ambas as pernas amputadas. "Quero ir para qualquer país que concorde em receber meus filhos", afirmou.

As autoridades de Belarus fornecem ajuda, incluindo barracas e aquecedores, gesto que antecipa uma presença quase permanente na fronteira.

De acordo com organizações humanitárias, pelo menos 10 migrantes morreram até o momento.

As ONGs alertam que a situação está se transformando em uma crise humanitária na medida em que as temperaturas caem abaixo de 0 °C, e pedem uma desescalada.

A organização polonesa Medycy na Granicy (Médicos na Fronteira), anunciou neste domingo que estava suspendendo as suas operações depois que cinco veículos utilizados por suas equipes foram danificados por desconhecidos.

A Polônia se nega a permitir que os migrantes entrem em seu território e acusa Belarus de impedir o retorno dessas pessoas a seus países de origem.

O ministro do Interior, Mariusz Kaminski, informou no sábado que os migrantes ouviram um boato de que a Polônia permitiria a passagem na segunda-feira e que ônibus seriam enviados da Alemanha para o transporte.

O governo polonês enviou mensagens de texto a todos os telefones celulares estrangeiros ao longo da fronteira para denunciar "uma absoluta mentira sem sentido. A Polônia continuará protegendo sua fronteira".

- "Medidas concretas" - Os ministros das Relações Exteriores da UE se reunirão na segunda-feira para ampliar as sanções contra Belarus, após as medidas impostas pela repressão aos opositores do regime de Lukashenko, que governa o país há quase 30 anos.

Borrell afirmou que serão adotadas sanções contra "todos aqueles envolvidos no tráfico ilegal de migrantes a Belarus, incluindo companhias aéreas, agências de viagens e funcionários governamentais".

"Lukashenko se equivoca, acredita que, adotando represálias, nós vamos dar o braço a torcer e que as sanções seriam eliminadas. Acontece justamente o contrário", disse Borrell à publicação francesa Journal du Dimanche.

Por pressão da diplomacia dos países europeus, a Turquia proibiu que iraquianos, sírios e iemenitas viajem para Belarus. E a companhia aérea síria Cham Wings cancelou os voos para Minsk.

O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, urgiu a Otan a tomar "medidas concretas" contra a crise.

"Não nos basta expressar publicamente nossa preocupação. Precisamos agora de medidas concretas e o envolvimento de toda a aliança", declarou em entrevista à agência polonesa PAP.

Washington anunciou que o secretário de Estado, Antony Blinken, conversou com o homólogo polonês, Zbigniew Rau.

"As ações do regime de Lukashenko ameaçam a segurança, semeiam a divisão e buscam desviar a atenção das atividades da Rússia na fronteira com a Ucrânia", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.

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