O grande desafio logístico do envio de armas pesadas a Kiev
Paris, 27 Abr 2022 (AFP) - O envio de armamento pesado por parte dos países da Otan à Ucrânia para apoiá-la contra a ofensiva militar russa representa um desafio logístico que poderia piorar se o conflito se prolongar, estimam especialistas.
Seguindo os passos da França, Reino Unido, Estados Unidos e República Tcheca, a Alemanha anunciou, na terça-feira (26), que vai autorizar o envio de veículos blindados "Gepard" à Ucrânia.
Esta ajuda militar, solicitada há muito tempo pela Ucrânia, se materializa em um momento em que as forças ucranianas enfrentam um lento avanço do exército russo no Donbass, no leste, e sul do país.
Neste contexto, o envio de "artilharia autopropulsada, tanques de combate e veículos blindados é capaz de dar uma força considerável às tropas ucranianas, ou mesmo restaurar certas capacidades reduzidas por dois meses de guerra", destaca Léo Péria-Peigné, do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).
Esta "contribuição" armamentística "a curto prazo prevalece" nesta etapa "sobre as considerações logísticas a médio prazo que, no entanto, terão que ser consideradas", acrescenta o especialista francês.
Por enquanto, Paris, Washington, Londres e Praga descartaram os equipamentos que precisam de vários meses de treinamento e um importante apoio logístico, como por exemplo os tanques americanos Abrams, e privilegiam os que exigem um apoio logístico limitado.
As tropas ucranianas precisarão apenas de poucas horas de treinamento para aprender a usar os tanques soviéticos tchecos, muito parecidos com os já usados pela Ucrânia.
Já os canhões franceses Caesar têm a fama de serem "fáceis de usar", aponta o engenheiro militar francês Marc Chassillan, especialista em tanques e veículos blindados.
- Potencial industrial -A situação é um pouco mais complexa, porém, no caso dos Gepard alemães, equipados com um "sistema de armas sofisticado" e "muito exigente", que requer um treinamento de pelo menos "várias semanas", acrescenta o especialista.
Também está previsto o envio de blindados de transporte de soldados Marder a Kiev, o que deve ser um problema menor para os "combatentes ucranianos experientes que lutam desde 2014", segundo o ex-alto funcionário alemão da Otan, Hans Lothar Domröse.
Além da questão do treinamento, persiste a da manutenção. Como garantir a manutenção desses equipamentos e, particularmente, o transporte das peças de reposição em caso de danos ou destruição parcial?
Para Péria-Peigné, "esta questão é complexa, mas talvez menos que em outros países que não têm o potencial industrial da Ucrânia, que tem infraestrutura e conhecimento consideráveis na área de veículos militares e indústria pesada".
"Se a cooperação entre os industriais europeus e o exército ucraniano acontecer sem problemas, a questão da manutenção deve continuar sem nenhum obstáculo em particular", acrescenta.
- Problemas de munições? -Resta agora a espinhosa questão das munições, que poderia ser um problema grave se o conflito se prolongar.
"Todos esperam que o conflito acabe logo", explica Jean-Pierre Maulny, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris). "Mas caso se prolongue, não se descarta o risco de uma escassez de munições, particularmente em relação às armas Caesar".
No entanto, o anúncio por parte da Austrália, Canadá e Estados Unidos do envio de canhões de 155 mm - do mesmo calibre que os Caesars - poderia ajudar.
A dúvida também vale para os tanques Marder, que dependem das munições fabricadas na Suíça.
Este país vetou o envio de munições suíças a Kiev através da Alemanha. Para Péria-Peigné, isso representa "um beco sem saída logístico muito mais perigoso a curto prazo do que a questão das peças de reposição".
Se a luta se intensificar ainda mais, os anúncios feitos até agora em termos de envio de equipamento militar também poderiam se tornar insuficientes muito rápido.
"Se somarmos o que foi anunciado como entregue e compararmos com os prejuízos registrados nas últimas oito semanas - em munições, equipamentos etc... - no ritmo atual de desgaste, isso vai durar um mês e meio, não mais", estima Chassillan.
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