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Manicures lutam por seus direitos em Nova York

18/05/2022 13h52

Nova York, 18 Mai 2022 (AFP) - Para Maya Bhusal Basnet, uma nepalesa que deixou seu país em 2009, chegar aos Estados Unidos era "um sonho", mas depois de trabalhar em um salão de manicure por todos estes anos já enfrentou tantas dificuldades que nem sequer se atreve a contar a seus filhos".

Aos 46 anos, lidera uma frente de batalha junto à associação nepalesa Adhikaar pelos direitos de 17.000 manicures de cerca de 5.000 salões de todo o estado de Nova York, a maioria imigrantes asiáticas e latinas.

Elas denunciam a precariedade, os salários miseráveis e os riscos para a saúde e esperam que uma nova lei contribua para melhorar seu cotidiano.

Em abril, elas saíram às ruas de Manhattan para exigir o pagamento do salário mínimo obrigatório (15 dólares/hora), abono de horas extras, facilidades no acesso a materiais de proteção, pausa para o almoço e plano de saúde.

A campanha, promovida por uma coalizão de organizações com o apoio de congressistas democratas, pediu a criação de um organismo que reúna os proprietários dos estabelecimentos e as trabalhadoras para que sejam definidos padrões mínimos de trabalho.

- Exploração -Depois que o The New York Times denunciou práticas de exploração em 2015, as autoridades passaram a atuar na questão.

O Estado garante que desde 2016 foram identificados mais de 1.800 violações trabalhistas nestes salões e que 2,2 milhões de dólares foram restituídos às empregadas afetadas.

Com fim do salário à base de comissões e um mínimo de 15 dólares a hora "foi possível melhorar as condições trabalhistas", garante.

Mas segundo a manicure Maya Bhusal Basnet, "nem todos" pagam o salário mínimo e quando o fazem, "reduzem as horas de trabalho".

"Como vou sobreviver trabalhando 26 ou 27 horas" por semana ou se "me mandam para casa porque não há clientes?", questiona.

Os "horários imprevisíveis" e o "desvio de salários" (nem todas as horas trabalhadas são pagas) são uma realidade, segundo um estudo recente do Instituto de Trabalhadores da Universidade de Cornell.

"Muitas trabalhadoras têm dificuldades para pagar suas contas (...). A maioria não tem seguro de saúde", explica à AFP uma de suas autoras, Zoë West, pesquisadora da Cornell.

Segundo estatísticas oficiais, em 2021, a hora trabalhada era de 14,31 dólares, na região metropolitana de Nova York, abaixo do mínimo legal, mas Zoë West adverte que muitas manicures recebiam ainda menos.

- Preços - As preocupações com o salário se somam aos problemas de saúde de Maya Bhusal Basnet. Ela tem problemas de pele, tosse persistente e dificuldades respiratórias devido ao contato com produtos químicos como acetona e esmaltes.

As autoridades também advertem para os riscos às grávidas embora não haja comprovação científica. Na Adhikaar, várias mulheres mencionaram recorrentes abortos espontâneos.

Desde 2016, os novos estabelecimentos devem ser ventilados, mas o antigos teriam cinco anos para readaptações, um prazo ampliado até outubro de 2022 devido às dificuldades econômicas decorrentes da pandemia.

Para Zoë West, um dos problemas seria a estrutura do setor, onde pequenos estabelecimentos competem em preços e salários.

Deepa Shrish Singgali, também nepalense, agora proprietária de um salão no Queens, gostaria de "aumentar os preços, mas é impossível" já que há "menos clientes que antes da pandemia".

arb/af/yow/jc