Pioneiros do mundo quântico vencem o Nobel de Física
O Prêmio Nobel de Física foi atribuído nesta terça-feira (4) ao francês Alain Aspect, ao americano John Clauser e ao austríaco Anton Zeilinger, três pioneiros dos mecanismos revolucionários da física quântica.
O trio foi premiado por suas descobertas sobre o "entrelaçamento quântico", um mecanismo no qual duas partículas quânticas estão perfeitamente correlacionadas, independente da distância entre elas, anunciou o júri em um comunicado.
A descoberta desta propriedade assombrosa abriu o caminho para novas tecnologias de computação quântica e comunicações ultrasseguras, assim como sensores quânticos ultrassensíveis que permitiriam executar medições extremamente precisas, como a gravidade no espaço.
Esta mecânica desconcertante foi prevista pela teoria quântica. Porém, mesmo Albert Einstein não acreditava: duas partículas unidas desde o princípio - como poderiam ser os gêmeos - podem conservar a marca de seu passado comum e comportar-se de forma coordenada à distância.
Cada um dos vencedores "realizou experimentos inovadores usando estados quânticos entrelaçados, nos quais duas partículas se comportam como uma unidade inclusive quando estão separadas", destacou o Comitê Nobel.
"Está cada vez mais claro que está emergindo um novo tipo de tecnologia quântica", afirmou Anders Irback, presidente do Comitê Nobel de Física, em um comunicado.
Aspect Clauser e Zeilinger, que ganharam juntos o prestigioso prêmio Wolf em 2010, foram reconhecidos por seus avanços sobre o trabalho de John Stewart Bell, que na década de 1960 "desenvolveu a desigualdade matemática que leva seu nome."
- Computadores quânticos -
Zeilinger, professor de Física da Universidade de Viena, de 77 anos, afirmou que não esperava ser premiado.
"Fiquei muito surpreso em receber a ligação", declarou Zeilinger por telefone durante uma entrevista coletiva.
O cientista austríaco foi reconhecido por seu trabalho com sobre "teletransporte quântico, que possibilita mover um estado quântico de uma partícula para outra à distância", afirmou o júri.
"Não é como nos filmes de 'Star Trek' ou algo assim", declarou Zeilinger. "Mas o ponto é que, usando o entrelaçamento, você pode transferir todas as informações que são transportadas por um objeto para algum outro lugar onde o objeto é reconstituído", explicou.
Aspect, professor associado da Universidade Paris-Saclay de 75 anos, expressou seu orgulho de unir-se a grandes nomes da física como Einstein, a quem atribuiu "parte do mérito" da descoberta do entrelaçamento.
A mecânica quântica é uma ciência contraintuitiva que descreve o mundo em escala extremamente pequena, onde as coisas podem existir simultaneamente, não existir e estar em algum ponto intermediário.
Gigantes da tecnologia como Google estão mobilizando um grande número de pesquisadores para criar a próxima geração dos chamados "computadores quânticos", cuja potência de cálculo deveria permitir que resolvam problemas que, de outra forma, seriam impossíveis de solucionar.
"A primeira revolução quântica nos proporcionou transistores, semicondutores, computadores e lasers", explicou à AFP Mohamed Bourennane, professor de informática quântica da Universidade de Estocolmo.
"Mas a segunda, baseada na superposição e entrelaçamento, nos permitirá no futuro ter computadores quânticos, ou inscrições quânticas úteis para obter imagens ou sensores", acrescentou.
Os três vencedores, que dividirão a quantia de 10 milhões de coroas suecas (901.500 dólares), receberão o prêmio das mãos do rei Carl XVI Gustaf em uma cerimônia em Estocolmo em 10 de dezembro, aniversário da morte em 1896 do cientista Alfred Nobel, que criou a premiação em seu testamento.
No ano passado, a Academia Sueca premiou o japonês-americano Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselmann por seus trabalhos nos modelos físicos da mudança climática, assim como o italiano Giorgio Parisi por seu trabalho sobre a interação de desordem e flutuações nos sistemas físicos.
Apenas quatro mulheres venceram o Nobel de Física, instituído em 1901: Marie Curie (1903), Maria Goeppert Mayer (1963), Donna Strickland (2018) e Andrea Ghez (2020).
jll/po/mas/zm/fp
© Agence France-Presse
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