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Bernanke, o ex-presidente do Fed que enfrentou a crise financeira de 2008

10/10/2022 12h52

Ben Bernanke, laureado nesta segunda-feira (10) com o Nobel de Economia, ajudou a conduzir os Estados Unidos através da crise financeira de 2008 como presidente do Federal Reserve (Fed, banco central).

Bernanke, de 68 anos, assumiu a presidência do Fed em fevereiro de 2006, pouco antes do colapso do mercado imobiliário americano que desencadeou uma crise global de enormes proporções.

Muitos analistas dizem que as medidas agressivas e pouco ortodoxas que ele impulsionou permitiram ao Fed sustentar o sistema financeiro e manter o fluxo de crédito, evitando que se repetisse uma calamidade como a Grande Depressão da década de 1930, época da qual Bernanke é um estudioso.

Não obstante, seus críticos argumentam que ele fez pouco para evitar a crise e que poderia ter ajudado a alimentar suas causas como governador do Fed entre 2002 e 2005, que então era presidido por Alan Greenspan; e depois liderou do Conselho de Assessores Econômicos do presidente George W. Bush (2001-2009).

O júri do Nobel lhe concedeu o prêmio junto com os também economistas americanos Douglas Diamond e Philip Dybvig por ter "melhorado de maneira significativa o nosso entendimento sobre o papel dos bancos na economia, em particular durante as crises financeiras, assim como a forma de regular os mercados financeiros".

Bernanke foi destacado por sua análise da "pior crise econômica da história moderna": a Grande Depressão da década de 1930. Publicou um livro de ensaios sobre o tema e foi coautor de outro sobre a crise financeira de 2008.

Agora integra o centro de análise Brookings Institution e é assessor principal das empresas de gestão de ativos Pimco e Citadel, indicações que geraram preocupações relacionadas à "porta giratória" entre Washington e Wall Street.

- 'Liderança criativa' -

Em reconhecimento por suas ações durante a crise financeira mundial, foi nomeado "Pessoa do Ano" pela revista Time em 2009, que o classificou como "a figura mais importante dirigindo a economia mais importante do mundo".

"Sua liderança criativa ajudou a fazer de 2009 um período de fraca recuperação ao invés de uma depressão catastrófica", escreveu Michael Grunwald, escritor da Time.

O sucessor do republicano Goerge W. Bush, o democrata Barack Obama, manteve Bernanke à frente do banco central, cargo que ocupou até 2014.

Bernanke sempre enfatizou a importância da transparência nas comunicações da entidade monetária, tomando distância das declarações bombásticas de Greenspan. Ao contrário de seu antecessor, falava muitas vezes com a imprensa.

Joseph Brusuelas, diretor da Moody's Analytics, disse uma vez que a resposta pouco ortodoxa do Fed à crise financeira mundial "não tinha precedentes", já que reduziu sua taxa de referência para zero e "inundou o sistema financeiro com liquidez".

As medidas do Fed, acrescentou, "reconstruíram lentamente a confiança no sistema bancário".

Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Colúmbia, disse, em setembro de 2008, por ocasião do colapso do Lehman Brothers, que "parecia possível uma depressão", mas que a ações dos bancos centrais "evitaram que os mercados financeiros colapsassem".

- Lehman, 'grande erro' -

Mas outros criticam Bernanke por não ter antecipado a gravidade da situação: em 2007, quando surgiram os primeiros sintomas da crise das hipotecas de alto risco, assegurou ao Congresso que as consequências seriam limitadas.

Outros o acusam de não ter agido com rapidez suficiente para reduzir as taxas de juros uma vez que a magnitude da crise ficou evidente, pois o Fed adotou uma postura de um recorte lento das taxas, antes da redução de emergência de janeiro de 2008.

Entre os críticos de Bernanke, o falecido economista Allan Meltzer, da Universidade Carnegie Mellon, disse que o colapso do Lehman representou um erro de proporções históricas.

"Permitir a quebra do Lehman sem aviso prévio é um dos grandes erros na história do Federal Reserve", escreveu em um ensaio no The Wall Street Journal.

Filho de um farmacêutico e de uma professora, Bernanke nasceu em 13 de dezembro de 1953 no seio de uma família judaica na muito cristã Augusta, Geórgia, mas passou sua infância em Dillon, um povoado agrícola de 7.500 habitantes na Carolina do Sul. 

Foi um aluno brilhante, obtendo uma pontuação quase perfeita no exame de ingresso à universidade. Estudou economia em Harvard, onde se graduou com honrarias em 1975. Depois, obteve um PhD em economia no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Trabalhou em Princeton durante 17 anos, antes de integrar o Conselho de Governadores do Federal Reserve em 2002.

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© Agence France-Presse