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Copa do Mundo, 92 anos de uma grande história

11/11/2022 22h11

Dos pioneiros do Uruguai-1930 ao espetáculo total em escala planetária da Rússia-2018, passando pela magia do 'Rei' Pelé e de Diego Maradona, a Copa do Mundo, cuja edição de 2022 será disputada no Catar a partir de 20 de novembro é repleta de grandes e pequenas histórias.

I - Uruguai, de seu triunfo em casa até o 'Maracanazo'

Em 13 de julho de 1930, no estádio Pocitos, em Montevidéu, o francês Lucien Laurent marcou o primeiro gol de um torneio que acabou se tornando o mais importante do futebol, a Copa do Mundo. 

Um futebolista francês iniciou a aventura em uma competição idealizada por um compatriota, Jules Rimet, presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa). A França venceu o México por 4 a 1 na primeira partida do primeiro Mundial. 

O Uruguai, com o status de melhor time do mundo na época, depois das medalhas de ouro olímpicas de 1924 e 1928, foi o campeão daquele Mundial, ao derrotar a Argentina por 4 a 2. 

A Itália de Vittorio Pozzo, o único treinador a conquistar o troféu duas vezes, sucedeu a 'Celeste' nas duas edições seguintes. A primeira, em casa, em 1934, sob o olhar de seu líder Benito Mussolini, que usou a competição como ferramenta de propaganda.

Os italianos venceram a Tchecoslováquia na final, depois de terem eliminado nas semifinais a Áustria (1-0) de Matthias Sindelar, o 'Mozart do futebol', que era o símbolo daquele "Wunderteam" e que morreu em 1939 em condições misteriosas, tendo se recusado a jogar para a Alemanha pós-anexação hitlerista.

Em 1938, a Itália repetiu o sucesso com Silvio Piola e Giuseppe Meazza. Venceu então a Hungria por 4 a 2 na final de um torneio disputado na França. 

O Brasil chegou pela primeira vez às semifinais, uma fase que posteriormente alcançou repetidamente (onze até agora). 

A Seleção teve que esperar para ser campeã mundial. Achava que tinha a taça na mão na Copa do Mundo organizada em 1950 em seu país, mas experimentou uma das grandes decepções da história, o 'Maracanazo', quando perdeu por 2 a 1 de virada para o Uruguai. 

Na única edição decidida em um quadrangular, o Brasil atropelou a Suécia (7-1) e a Espanha (6-1). Bastava um empate para a consagração em 16 de julho de 1950. Mas, apesar do gol de Friaça (47), o Brasil perdeu. Juan Schiaffino (66) fez os brasileiros estremecerem e Alcides Ghiggia acabou garantindo o título ao superar o goleiro Barbosa (79), que teve que ouvir falar desse gol histórico pelo resto de sua vida.

II - Brasil enfim reina

Em 1954, na Suíça, o favorito perdeu na final. A maravilhosa Hungria de Ferenc Puskas, uma das seleções mais lendárias de todos os tempos e a primeira a vencer a Inglaterra em Wembley (6-3), em 1953, esmagava a todos, incluindo a Alemanha Ocidental (8-3) na fase de grupos, mas tropeçou no último degrau, caindo para a mesma seleção alemão por 3 a 2, apesar de ter aberto uma vantagem de 2 a 0 após apenas oito minutos de jogo! 

Os alemães comemoraram esse título como seu retorno simbólico ao cenário internacional, nove anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Já o momento de glória do Brasil veio em 1958, com um jovem príncipe de 17 anos, Pelé, que logo se tornou rei. A seleção verde e amarelo encerrou sua campanha com duas vitórias de 5 a 2, nas semifinais contra a França de Raymond Kopa e Just Fontaine (que marcou 13 gols na mesma edição, um recorde absoluto até hoje), e na final contra a anfitriã Suécia. Assim como em 1934, 1950 e 1954, o vice-campeão abriu o placar, antes de sofrer a virada. 

Este título de 1958 foi o primeiro do Brasil, que mais tarde venceu a edição do Chile-1962 e do México-1970, ambas com Pelé, o único jogador três vezes campeão mundial. 

No Chile, Pelé não conseguiu chegar ao fim do torneio, já que se machucou no segundo jogo contra a Tchecoslováquia. O Brasil voltou enfrentar essa seleção europeia, que abriu o placar por meio de Josef Masopust. Mas os brasileiros vencerem por 3 a 1 e voltaram a erguer o troféu.

Em 1966, Pelé foi novamente freado, mas desta vez de forma irregular. Depois de sofrer com o jogo duro do búlgaro Dobromis Jetchev na estreia (2-0), o 'Rei' ficou de fora do jogo seguinte mas voltou, sem estar 100%, para a partida decisiva contra Portugal, onde João Morais fez o mesmo que Jetchev. 

A Inglaterra acabou triunfando em casa, em Wembley, numa final emocionante contra a Alemanha Ocidental (4-2 após prorrogação), marcada pelo hat-trick de Geoff Hurst. O gol que colocou os ingleses em vantagem de 3 a 2 foi altamente polêmico: nunca se soube se a bola, que atingiu o travessão aos 101 minutos, cruzou a linha do gol alemão ou não. 

Essa edição ficou também marcada pelo desempenho da Coreia do Norte, que surpreendeu a Itália (1-0) e chegou às quartas-de-final, onde foi eliminada por um brilhante Portugal: Eusébio marcou quatro gols eliminando os norte-coreanos (virando a partida de 0-3 para 5-3). 

O último título mundial de Pelé foi no México, em 1970. Nessa final, o Brasil goleou a Itália por 4 a 1. 

Essa campanha nos gramados mexicanos ficou marcada por vários lances geniais de Pelé, que são lembrados décadas depois. 

A primeira Copa do Mundo no México também foi da lendária semifinal Itália-Alemanha Ocidental, com cinco gols na prorrogação (que acabou sendo vencida pela Azzurra por 4 a 3).

III - Alemães e argentinos marcam uma época

A 'era do samba' brasileira dá lugar a uma nova 'realpolitik' alemã no futebol. Em 1974, a Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer venceu a Holanda de Johan Cruyff (2-1) e o seu revolucionário futebol total. Os 'Oranje' haviam aberto o placar naquela final, logo aos dois minutos, com um pênalti cobrado por Johan Neeskens, mas os alemães viraram. 

Os holandeses haviam voado no torneio até então, goleando a Argentina por 4 a 0, derrotando a Alemanha Oriental por 2 a 0 e também derrotando o Brasil por esse mesmo resultado. 

Essa edição também contou com a Polônia, liderada por Grzegorz Lato. Essa equipe terminou em terceiro lugar, assim como anos depois na Espanha-1982. 

Em 1978, a Holanda voltou a perder a final, desta vez sem Cruyff. A campeã foi a anfitriã Argentina, que assim conquistou seu primeiro título mundial, comandada pelo atacante Mario Kempes. 

O domínio alemão voltou nos anos 80. Depois de ser campeã europeia em 1980, a Alemanha Ocidental disputou três finais de Copa consecutivas, embora tenha vencido apenas a terceira, a da Itália-1990. 

Em 1982, a Itália de Paolo Rossi venceu por 3 a 1 na final em Madri, conquistando a taça depois de um mau começo, com três empates na primeira fase, em que quase foi eliminada!

Os italianos venceram a Argentina por 2 a 1 e o Brasil por 3 a 2 na segunda fase de grupos. Com dois gols nas semifinais contra a Polônia e um gol na final contra a Alemanha Ocidental (3-1), Rossi terminou como artilheiro com seis gols e fechou o ano como vencedor da Bola de Ouro. 

A Copa do Mundo de 1982 foi um fracasso para a anfitriã Espanha, que venceu apenas um jogo, contra a Iugoslávia (2-1), e que decepcionou sobretudo quando perdeu para a Irlanda do Norte (1-0) e empatou com Honduras (1-1). Os espanhóis se despediram na segunda fase de grupos. 

Em 1986, a Alemanha Ocidental perdeu mais uma final, por 3 a 2 diante da Argentina, onde o líder era Diego Maradona. 

'El Pelusa' marcou cinco gols no torneio, incluindo duas 'dobradinhas', contra a Inglaterra nas quartas de final (2-1) e a Bélgica nas semifinais (2-0). Os dois gols contra os ingleses entraram para a história: o primeiro foi a 'Mão de Deus', picardia que passou despercebida pelo árbitro e que abriu o placar, e o segundo, o gol mais lembrado da história das Copas do Mundo, em que driblou metade da seleção inglesa. A Copa do México-1986 também marcou a primeira classificação de uma seleção africana para a segunda fase. Marrocos venceu um grupo que incluía Inglaterra, Portugal e Polónia.

Na final, Maradona foi fortemente marcado pelos alemães, mas conseguiu dar uma assistência perfeita para o gol da vitória marcado por Jorge Burruchaga.

Em 1990, o camisa 10 argentino levou novamente a Argentina à final, mas desta vez os alemães se vingaram vencendo por 1 a 0. Pela primeira vez, o vice-campeão foi derrotado sem marcar gols na final. 

Os outros heróis da Itália-1990 foram os 'Leões Indomáveis' de Camarões, que liderados pelo veterano Roger Milla chegaram às quartas de final, onde a Inglaterra pôs fim à sua aventura (ao vencer por 3 a 2 na prorrogação). 

Em 1994, os Estados Unidos sediaram o torneio supremo do futebol e pela primeira vez nenhum gol foi marcado na final. Brasil e Itália empataram em 0 a 0 e o título foi decidido nos pênaltis, com 3 a 2 para os brasileiros. A cobrança de Roberto Baggio, a estrela italiana daquele momento, foi alto demais. 

A surpresa do torneio foi a Bulgária. Seu destaque, Hristo Stoichkov, terminou como artilheiro do torneio empatado em seis gols com o russo Oleg Salenko, que marcou cinco desses gols no mesmo jogo, na vitória por 6 a 1 sobre Camarões.

IV - A hegemonia da Europa

A Europa venceu todas as Copas do Mundo seguintes, exceto a de 2002, em que o Brasil ergueu a taça. 

Em 1998, a França foi campeã pela primeira vez, sediando o torneio e derrotando o Brasil por 3 a 0 na final, graças principalmente a um 'dobradinha' de Zinedine Zidane. 

Nas oitavas de final, os franceses sofreram muito para vencer o Paraguai por 1 a 0 na prorrogação, com o primeiro 'gol de ouro' da história da competição. Nas quartas de final, a França venceu a Itália nos pênaltis e nas semifinais derrotou a Croácia de virada (2-1). 

Ronaldo e o Brasil triunfaram em 2002, naquele que foi o último título mundial de uma seleção sul-americana. O 'Fenômeno' marcou oito gols, incluindo os dois na vitória na final contra a Alemanha (2-0). Os anfitriões sul-coreanos, comandados pelo técnico holandês Guus Hiddink, foi a sensação ao chegar às semifinais e eliminar a Itália nas oitavas de final e a Espanha nas quartas. A Alemanha os derrotou nas semifinais (1-0). 

Em 2006 e 2010, as finais foram 100% europeias. Itália e França jogaram a decisão do Mundial da Alemanha-2006 em Berlim, que foi para os pênaltis com a vitória da Azzurra. O duelo épico também ficou marcado pela expulsão de Zinedine Zidane, que surpreendeu o mundo ao dar uma cabeçada em Marco Materazzi, e acabou sendo expulso em sua despedida do futebol como jogador.

Nesse torneio de 2006, ocorreu a 'batalha de Nuremberg', no jogo das oitavas de final entre Holanda e Portugal. Saldo: quatro cartões vermelhos e dezesseis amarelos. Os holandeses foram eliminados. 

Em 2010, na primeira Copa do Mundo na África, Espanha e Holanda jogaram a final e a 'Roja' se sagrou campeã pela primeira e até hoje única vez em sua história graças a um gol de Andrés Iniesta nos últimos momentos da prorrogação (1-0). 

Assim, foi coroada a 'Geração de Ouro' do futebol espanhol, com Iniesta, Xavi Hernández e Iker Casillas, entre outros, vencedores, além das conquistas das Eurocopas de 2008 e 2012. A Holanda voltou a ser vice-campeã, assim como aconteceu em 1974 e 1978. 

Gana chegou às quartas de final em 2010 e esteve perto de se tornar o primeiro semifinalista africano em um mundial, mas Asamoah Gyan perdeu um pênalti nos últimos instantes que teria classificado as 'Estrelas Negras'. Na disputa de pênaltis que se seguiu, o Uruguai venceu por 4 a 2. 

Em 2014, a Europa venceu sua primeira Copa do Mundo em solo sul-americano, com a Alemanha derrotando a Argentina por 1 a 0 na prorrogação. 

O anfitrião Brasil sofreu o grande trauma de sua história, compartilhado com o 'Maracanazo', ao sofrer o 'Mineirazo': nas semifinais, a Seleção foi humilhada (7 a 1) pela Alemanha em Belo Horizonte. 

A Costa Rica foi uma das surpresas do torneio, chegando às quartas de final. 

Em 2018, a França recuperou o trono mundial e conquistou sua segunda Copa do Mundo, na Rússia. A vice-campeã foi a Croácia de Luka Modric, que chegou à sua primeira final, onde os 'Bleus', com Kylian Mbappé e Antoine Griezmann, venceram por 4 a 2 em Moscou. Foi a final com mais gols desde a Copa do Mundo da Inglaterra em 1966.

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© Agence France-Presse