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Marina Silva, símbolo da luta ambiental no Brasil

29/12/2022 14h59

Nascida no Acre, em plena floresta Amazônia, Marina Silva é um símbolo da luta contra as mudanças climáticas no Brasil e a sua nomeação para o futuro governo Lula consagra a importância que o presidente eleito pretende dar a este desafio global em seu terceiro mandato. 

Silva, de 64 anos, foi nomeada nesta quinta-feira (29) ministra do Meio Ambiente, cargo que já havia ocupado durante os mandatos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), mas rompeu com seu mentor em 2008, ao acusá-lo de não apoiá-la o suficiente na defesa da maior floresta tropical do planeta. 

Três vezes candidata à Presidência (2010, 2014, 2018), Marina se reconciliou com Lula recentemente, ajudando-o na campanha vitoriosa sobre o presidente Jair Bolsonaro.  

Em troca de seu apoio, a deputada federal eleita por São Paulo obteve uma série de promessas, em especial a criação de uma autoridade nacional de segurança climática responsável, por verificar as ações que visam a reduzir as emissões de gases do efeito estufa. 

"A questão climática agora é uma prioridade estratégica do mais alto nível", disse Marina em entrevista à Folha de S.Paulo antes de viajar ao Egito para participar da COP27, em novembro, onde anteciparia a agenda climática do governo Lula, que tomará posse em 1º de janeiro. 

Precisamente na COP, Lula prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia em 2030, depois que este disparou 60% no mandato de Bolsonaro. 

A aparência frágil desta ex-empregada doméstica esconde uma força interior que lhe permitiu superar uma infância de pobreza, graves problemas de saúde e enfrentar o machismo e o racismo presentes na vida política brasileira.

- De analfabeta a ativista -

Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima teve uma ascensão muito particular.

Ela nasceu em 8 de fevereiro de 1958 em Rio Branco, capital do Acre, no coração da Amazônia Legal. Três de seus 11 irmãos morreram na infância e ela perdeu a mãe aos 15 anos.

Aos 11, caminhava 14 km por dia para ajudar seu pai a explorar as seringueiras e recolher seu látex.

"Eu acordava sempre às 4h da manhã, cortava uns gravetos, acendia o fogo, fazia o café e uma salada de banana perriá com ovo. Esse era o nosso café da manhã", narra Marina em seu site oficial.

Com diversos problemas de saúde, sobreviveu a três hepatites e cinco surtos de malária.

Na adolescência, decidiu entrar para um convento e, embora a vida religiosa não a convencesse, descobriu a Teologia da Libertação, movimento da esquerda católica conhecido por sua luta contra a pobreza e as violações dos direitos humanos.

Isso lhe permitiu estudar: passou de analfabeta à graduação universitária - em História - aos 26 anos, depois de ter trabalhado como empregada doméstica para pagar seus estudos.

- Ambientalista e evangélica  -

Marina fez sua estreia na política ao lado do sindicalista Chico Mendes, emblemático defensor da Amazônia assassinado em 1988. Eleita vereadora de Rio Branco, se tornou depois a senadora mais jovem na história do Brasil, aos 36 anos.

Ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, mas acabou em oitavo no pleito de 2018, vencido por Bolsonaro.

Como muitos brasileiros, esta mãe de quatro filhos abandonou o catolicismo para se converter ao protestantismo evangélico.

Em julho, declarou que "nunca" abortaria, mas defendeu a discussão do tema pela sociedade sob o olhar da saúde pública.

E, embora tenha afirmado no passado que não era favorável ao casamento homossexual devido a suas crenças religiosas, prometeu em 2018, em seu programa de governo, "garantir o respeito e o exercício pleno da cidadania por LGBTIs".

bur-lg/rsr/app/mel/rpr/mvv/mr

© Agence France-Presse