Milei diz em Davos que 'Ocidente está em perigo' com o socialismo
O presidente argentino, Javier Milei, disse à elite mundial reunida no Fórum de Davos nesta quarta-feira (17) que "o Ocidente está em perigo", que a "justiça social" é "intrinsecamente injusta" e que o feminismo é trabalho para "os burocratas".
"O Ocidente está em perigo", declarou em seu esperado discurso em Davos, porque "aqueles que supostamente devem defender os valores do Ocidente estão cooptados com uma visão de mundo que inexoravelmente leva ao socialismo e, em consequência, à pobreza".
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O presidente argentino acrescentou, ainda, que a justiça social que "virou moda na última década" é na verdade "intrinsecamente injusta" porque "o Estado é financiado por meio de impostos e os impostos são cobrados de forma coercitiva".
Klaus Schwab, presidente-executivo do Fórum, comentou ao apresentar Milei que embora alguns considerem seus métodos como "radicais", o líder libertário conseguiu introduzir "um novo espírito na Argentina, conseguindo que o país esteja mais associado à livre iniciativa, às atividades empresariais".
Em sua estreia internacional como presidente da Argentina, Milei apresentou suas ideias libertárias contra o que chama de "casta política" que quer "manter seus privilégios". Disse também que "o feminismo radical não contribuiu em nada para a sociedade", pois resultou na "intervenção do Estado para dificultar o processo econômico e dar trabalho aos burocratas", e criticou a "tragédia do aborto".
"Não se deixem intimidar pela casta política, nem pelos parasitas que vivem do Estado. Vocês são benfeitores sociais, heróis, criadores do período de prosperidade que nunca vivemos", acrescentou.
Alguns na plateia se concentraram para apertar sua mão e tirar selfies com ele, enquanto seu discurso foi elogiado por personalidades como Elon Musk e outros representantes da direita nas redes sociais.
"É verdade", reagiu Musk na rede social X em comentário a um vídeo do discurso de Milei.
Em seu discurso, "Milei reafirma perante o establishment mundial seu pertencimento ao clube da 'alt-right' global e sua batalha cultural contra o 'socialismo', o feminismo e o ambientalismo. Mais do que apontar para um núcleo interno rígido, privilegia o ideológico", analisou Alejandro Frenkel, professor de política internacional da Universidade Nacional de San Martín.
- Reuniões excelentes -
O libertário também conversou com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e o secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, em encontros separados que classificou como "excelentes".
"Vamos continuar trabalhando juntos para chegar a uma solução", disse a um jornalista da AFP após se reunir com Georgieva.
A diretora-gerente do FMI também qualificou a reunião como "muito boa" e posteriormente postou no X que havia discutido com o presidente argentino "as medidas decisivas em curso para reduzir a inflação e promover o crescimento impulsionado pelo setor privado".
A Argentina deve 44 bilhões de dólares (cerca de 215 bilhões de reais, na cotação atual) ao FMI, que elogiou a decisão de Milei de eliminar os controles de preços de alguns produtos.
Milei também classificou como "excelente" o encontro com o ministro das Relações Exteriores britânico, David Cameron, com quem abordou a questão das Ilhas Malvinas, um arquipélago no Atlântico Sul que foi palco de uma guerra de 74 dias em 1982 e que deixou 649 argentinos e 255 britânicos mortos.
"Conversamos sobre aprofundar os laços comerciais e colocamos as Malvinas na agenda", disse o presidente argentino.
Em 2013, em um referendo realizado no território de apenas 2.000 habitantes, 99,8% dos eleitores votaram pela permanência sob controle britânico. Para o Reino Unido, é uma questão resolvida, mas a Argentina reivindica a soberania das ilhas desde 1833.
- Protestos e greve geral -
Enquanto isso, na Argentina, os movimentos sociais protestam quase diariamente contra as medidas impostas pelo governo de Milei, diante de uma greve geral convocada para a próxima quarta-feira pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, em meio a um ambiente tenso devido à disparada dos preços.
A inflação de dezembro atingiu 25,5%, de um total anual de 211% em 2023.
Em pouco mais de um mês de mandato, após assumir o cargo em 10 de dezembro, Milei suspendeu obras públicas, não renovou contratos trabalhistas do Estado, reduziu os ministérios pela metade, desvalorizou o peso em mais de 50%, liberou os preços dos combustíveis, eliminou os controles de preços, revogou a lei que regulava os aluguéis e liberou as importações.
Seus dois grandes projetos, divididos em um megadecreto de 366 artigos e uma chamada "lei ônibus" com 664, estão atualmente em análise no Congresso.
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