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Acusada de 'desestabilização', opositora sofre ofensiva judicial na Venezuela

Maria Corina Machado, que lidera oposição venezuelana, fala com apoiadores Imagem: Photo by Gabriela Oraa / 23.jan.2024-AFP

20/03/2024 19h15

As autoridades venezuelanas vincularam, na quarta-feira (20), a opositora María Corina Machado a planos de "ações desestabilizadoras" com vistas às eleições de 28 de julho, e anunciaram a detenção de dois de seus colaboradores mais próximos.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, não informou, no entanto, se há medidas judiciais em particular contra a líder opositora, favorita nas pesquisas, mas inabilitada por 15 anos a ocupar cargos públicos.

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Ela reagiu, denunciando uma "brutal repressão" contra sua equipe de campanha.

"Tudo, absolutamente tudo o que disse o procurador do terror, o ministério impudico, é falso. Tudo é mentira", disse Machado em uma conferência de imprensa. "O regime quer fechar o caminho para a mudança [...], sabem que estão derrotados, porque não há maneira de eles ganharem uma eleição contra nós", acrescentou.

Saab anunciou a detenção de Henry Alviárez e Dignora Hernández, líderes nacionais da organização política de María Corina (Vente Venezuela), acusando-os de orquestrar "ações desestabilizadoras" em protestos planejados para tentar "forçar" a habilitação da opositora antes das eleições presidenciais, em que Nicolás Maduro tentará um terceiro mandato de seis anos. Nesta quarta, ele aceitou durante um comício o apoio de aliados do partido do governo a sua candidatura.

"A missão" era "gerar desestabilização no país, aglomerar as massas utilizando sindicatos e grupos estudantis para incentivar uma ala militar" em prol de um levante, disse Saab em uma declaração à imprensa, na qual lembrou outras conspirações e planos de magnicídio denunciados pelo chavismo.

Os Estados Unidos classificara as detenções como "arbitrárias".

- 'Nosso caminho é eleitoral' -

Sete colaboradores de Machado foram presos nos últimos dias e o Ministério Público emitiu outras sete ordens de prisão, uma das quais tem como alvo Magalli Meda, braço direito da ex-deputada e cogitada como alternativa para ser candidata em seu lugar. A Promotoria também pediu a detenção do general reformado Oswaldo Bracho.

O período de inscrições começa nesta quinta-feira e se estenderá até a próxima segunda-feira.

Saab apresentou um vídeo de uma "confissão" de um dos colaboradores presos, Emil Brandt, no qual ele assegura que o complô era financiado pelo Escritório do governo dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Brandt foi preso em 9 de março passado.

Apesar de um acordo assinado em Barbados entre o governo de Maduro e a oposição para revisar a inabilitação de dirigentes opositores, em uma negociação mediada pela Noruega e na qual os Estados Unidos tiveram papel crucial, a sanção contra Machado foi ratificada pela Suprema Corte.

A oposição expressou sua rejeição às detenções e "perseguições".

"As detenções arbitrárias (...) são uma nova violação do acordo de Barbados", afirmou a oposição em um comunicado.

Saab insinuou, sem mencioná-la expressamente, que Machado é "a principal autora intelectual de toda esta escalada".

Maduro a apelidou de "dona violência".

"Vente Venezuela não é uma organização terrorista [...]. Nossa rota é eleitoral, queremos uma transição pacífica", disse à AFP Orlando Moreno, coordenador do comitê de direitos humanos desse grupo.

- 'Socorro!' -

Líderes políticos divulgaram nas redes sociais um vídeo da prisão de Hernández. "Socorro, por favor!", é possível ouvi-la gritar enquanto tenta resistir aos agentes policiais que a obrigam a entrar em uma viatura.

"Condenamos as detenções arbitrárias e as ordens de prisão" contra opositores, publicou no X o chefe da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina, Brian Nichols, pedindo sua libertação "imediata".

"Os crescentes ataques de Maduro contra a sociedade civil e os atores políticos são totalmente inconsistentes com os compromissos do Acordo de Barbados", sublinhou.

Argentina e Uruguai também exigiram a libertação dos opositores, mas Caracas rebateu as declarações.

O chanceler venezuelano, Yván Gil, acusou Nichols Estados Unidos e Argentina de serem "cúmplices" dos "fascistas".

Washington e a União Europeia pediram o levantamento da inabilitação contra Machado, que arrasou nas primárias da principal aliança opositora.

À medida que as eleições se aproximam, aumenta "a repressão", denunciou uma missão independente da ONU que avalia a situação dos direitos humanos na Venezuela, o que o governo de Maduro classificou em comunicado de "mentiras".

"Nos encontramos em uma fase de reativação da modalidade mais violenta de repressão", disse Marta Valiño, chefe da missão, perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.

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© Agence France-Presse

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