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Água não dá trégua no Rio Grande do Sul e gera temor de desabastecimento

06/05/2024 13h26

Parou de chover, mas a água ainda inundava, nesta segunda-feira (6), Porto Alegre e centenas de outras cidades do Rio Grande do Sul, enquanto aumentava a preocupação com o desabastecimento de água e alimentos, em meio à pior catástrofe climática na região.

Segundo o último balanço da Defesa Civil, a tragédia deixou 85 mortos, 339 feridos e 134 desaparecidos. Além disso, 153 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas devido às chuvas torrenciais, que provocaram o aumento do leito dos rios e causaram deslizamentos de terra no Rio Grande do Sul.

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O sol apareceu hoje em Porto Alegre, mas vários bairros continuavam inundados. A catástrofe multiplica as cenas de desespero. Centenas de moradores da cidade, de 1,4 milhão de habitantes, dedicavam-se a ajudar pessoas presas em suas casas, em alguns casos há dias.

No bairro de São João, os barcos chegavam às dezenas, mas os moradores temem que eles sejam insuficientes. Uma centena de pessoas aguardavam o resgate presas em um prédio, constatou a AFP. "Temos que resgatá-los e levá-los para algum abrigo", disse o funcionário público e voluntário Andrey Rocha, de 36 anos.

O fenômeno meteorológico que resultou em volumes de chuva históricos e transformou as ruas em rios foi atribuído por especialistas e pelo governo federal às mudanças climáticas.

- 'Cenário de guerra' -

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS), descreveu hoje a situação como "um cenário de guerra". O rio Guaíba, que divide a cidade, chegava a 5,26 metros nesta tarde, acima do recorde de 4,76 metros registrado durante as inundações históricas de 1941, após atingir um pico de 5,30 metros.

Pelo menos até a semana que vem, seu nível se manterá acima do limite de inundação, segundo o Serviço Geológico do Brasil.

A tragédia atingiu 385 cidades e povoados gaúchos, uma vasta região agrícola, com uma população de 11 milhões de habitantes. Muitos permanecem isolados, sem comunicação nem serviços básicos.

O tráfego em cerca de 200 estradas e rodovias foi interrompido, depois que as águas arrastaram pontes e vias. Militares, bombeiros e voluntários continuam trabalhando contra o relógio em tarefas de resgate com helicópteros, barcos ou botes. Quase 14 mil soldados foram mobilizados na região, segundo o governo.

- 'Zonas desabitadas' -

As autoridades estão preocupadas com o abastecimento de água e alimentos. Mais de dois terços de Porto Alegre estão sem fornecimento de água potável, levando ao decreto de racionamento de água, que autoriza seu uso apenas para consumo essencial.

"Não estamos encontrando quase nada no mercado. Já faz três dias que estamos sem água", contou Neucir Carmo, de 62 anos, morador do bairro Floresta.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para novas tempestades de grande perigo em áreas do sul do estado, com chuvas de até mais de 100 mm, ventos e, possivelmente, granizo, até o meio-dia desta terça-feira. Nas áreas mais afetadas, a chuva pode voltar na quarta-feira.

A Organização Meteorológica Mundial enfatizou em um comunicado que "o desastre no Brasil, assim como as inundações em curso na África Oriental, destacam a necessidade de uma resposta mais integrada ao El Niño e aos efeitos das mudanças climáticas".

- Recursos e solidariedade -

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajou no domingo à zona afetada pela segunda vez, anunciou nesta segunda-feira uma lei para agilizar a transferência de recursos para lidar com a catástrofe.

O projeto autoriza gastos extraordinários e isenções fiscais, e flexibiliza contratações.

O governo do Rio Grande do Sul informou que recebeu doações de todo o país e que arrecadou cerca de 38 milhões de reais.

O Uruguai enviou um helicóptero militar e a Argentina colocou à disposição aeronaves, especialistas e equipamento para tornar a água potável.

A Confederação Brasileira de Futebol, em conjunto com federações, clubes e jogadores da seleção como Vini Jr. e Neymar, lançou na internet uma campanha de arrecadação.

Na central logística da Defesa Civil e em centros esportivos de Porto Alegre, assim como em pontos fora do estado, doações se acumulavam para serem distribuídas. Mais de 48 mil pessoas estão alojadas em abrigos, e hospitais de campanha foram instalados, devido à evacuação de centros médicos.

- Saques assustam população -

Em meio ao cenário dramático, há quem tema a ocorrência de saques, apontou o policial de Santa Catarina Dionis Bellettini, que participava dos resgates como voluntário. Alguns moradores simplesmente "não querem ir para abrigos".

No centro da cidade, socorristas detiveram duas pessoas que roubavam residências evacuadas. Policiais evitaram um linchamento, constatou um fotógrafo da AFP.

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© Agence France-Presse

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