Itália, a lenta decadência de um império do futebol

Ausente das duas últimas Copas do Mundo, o futebol italiano viveu neste sábado (29) uma nova grande decepção com a eliminação nas oitavas de final da Euro-2024 contra a Suíça (2-0), resultado que confirmou o rumo errático de uma seleção que já foi muito temível. 

Não houve segundo milagre para a 'Azzurra': salva da eliminação nos últimos segundos na fase de grupos graças a um gol marcado nos acréscimos contra a Croácia (1-1), os vencedores da Eurocopa passada não tiveram chances desta vez contra uma Suíça que foi claramente superior. 

Haviam se passado 31 anos desde a última vitória da Suíça sobre os vizinhos, mas a sequência terminou e a Itália encerrou sua participação na Eurocopa com uma campanha medíocre de uma vitória (contra a Albânia), um empate e duas derrotas. Marcou três gols e sofreu cinco. 

Este novo fracasso se soma sobretudo aos dois traumas mais recentes da 'Nazionale': o desastre de San Siro (empate de 0 a 0 com a Suécia, que havia vencido por 1 a 0 no jogo de ida) e o naufrágio de Palermo (derrota por 1 a 0 para a Macedônia do Norte), que privou a Itália de disputar as Copas do Mundo de 2018 e 2022.

A Eurocopa de 2021 foi, no entanto, um respiro com um título inesperado: uma vitória sobre a Inglaterra na final de Wembley (3-2 nos pênaltis, após empate em 1-1). 

Mas o nível mostrado pela Itália nos últimos anos ficou evidente, por exemplo, no jogo contra a Espanha nesta Eurocopa, onde o resultado apertado a favor da seleção de Luis De la Fuente (1-0) não refletiu a grande diferença entre as duas seleções.

- Saída surpresa de Mancini -

No futebol de clubes, a Itália decolou um pouco nos últimos anos, com a Inter de Milão sendo vice-campeã europeia em 2023 e com a Atalanta conquistando a Liga Europa em 2024, mas no futebol de seleções os resultados estão longe do nível da 'Nazionale' que é tetracampeã mundial (1934, 1938, 1982 e 2006) e bicampeã europeia (1968 e 2021). 

O projeto italiano não foi ajudado em nada pela surpreendente saída de Roberto Mancini, em meados do ano passado, para trabalhar no futebol da Arábia Saudita. 

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Luciano Spalletti teve então que ser chamado com urgência, menos de um ano antes desta Eurocopa. 

A primeira missão foi buscar a classificação para o torneio continental, sendo que a Itália não havia começado bem nas Eliminatórias. Obteve a vaga de forma angustiante, na última rodada, após um empate (0-0) com a Ucrânia, terceira colocada do grupo com o mesmo número de pontos, mas com um saldo de gols inferior.

- Falta de gols -

Para tentar deixar a sua marca, com um futebol de posse de bola como aquele que desenvolveu no Napoli na temporada 2022-2023, Spalletti rejuvenesceu a equipe e testou inúmeras opções, convocando 52 jogadores diferentes em menos de um ano. 

Mas as dúvidas surgiram ainda durante a Eurocopa-2024, onde Spalletti modificou seu esquema tático em cada partida. 

Nicolo Barella empolgou em alguns momentos e Gianluigi Donnarumma salvou a equipe em diversas ocasiões, principalmente contra Espanha e Croácia, mas as fórmulas não funcionaram. 

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A sólida zaga central formada pela dupla Leonardo Bonucci-Giorgio Chiellini de um período recente deu lugar às dúvidas de uma dupla formada por Alessandro Bastoni e Riccardo Calafiori. Este último foi suspenso na partida contra a Suíça e foi substituído por Gianluca Mancini, que falhou na jogada que acabou gerando o primeiro gol dos suíços. 

Mas foi no setor ofensivo que a Itália mais sofreu: nem Gianluca Scamacca nem Mateo Retegui conseguiram marcar e liderar a seleção.

Encontrar um artilheiro confiável será uma prioridade na reconstrução do time. E o tempo é essencial: em setembro, na fase de grupos da Liga das Nações, a Itália terá que enfrentar a França. 

Tudo isso com as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 no horizonte, onde a Itália não pode se permitir mais um fracasso.

jr/bm/dr/gfe/aam

© Agence France-Presse

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