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Ossadas de 11 camponeses mortos por militares há 40 anos são encontradas no Peru

Os restos mortais de 11 camponeses foram encontrados em três valas comuns escavadas em uma montanha próxima das comunidades de Putis Imagem: Peruvian Prosecutor Office / AFP

10/07/2024 20h34Atualizada em 10/07/2024 21h30

Os restos mortais de 11 camponeses foram encontrados em três valas comuns escavadas em uma montanha próxima das comunidades de Putis, cuja população foi vítima de um massacre perpetrado por militares há quatro décadas no Peru, informou o Ministério Público nesta quarta-feira (10).

"Essas ossadas corresponderiam a vítimas do massacre ocorrido entre os anos de 1983 e 1985" na localidade de Putis, departamento de Ayacucho, no sudeste do Peru, assinalou o Ministério Público em um comunicado, no qual também indicou que foram encontradas roupas das vítimas, entre as quais havia crianças.

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O Exército peruano instalou uma base militar na região para combater a guerrilha maoista Sendero Luminoso e proteger a população civil de atentados terroristas desse grupo.

"Nesse contexto, os camponeses se concentraram ao lado do recinto militar; no entanto, durante esse período, os militares juntaram os membros da comunidade e os executaram, acusando-os de serem colaboradores do grupo terrorista mencionado", garantiu o MP.

As valas comuns estão situadas em encostas na parte alta das comarcas de Yanaorcco, Llamanniyocc, Misumachay e Hichocruz. Putis era o centro de oito comunidades rurais onde viviam cerca 2.000 pessoas até antes da chacina.

O massacre foi cometido em 13 de dezembro de 1984 e deixou pelo menos 123 vítimas, das quais 92 foram sepultadas em 2009, depois que suas ossadas foram encontradas em valas comuns um ano antes.

Nenhum militar foi condenado pelo caso, mas, em abril, a promotora Gisella Astocóndor pediu 25 anos de prisão para um ex-capitão do Exército.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) deu destaque para a descoberta, que acontece no momento em que o Peru está prestes a promulgar uma lei para prescrever crimes de lesa-humanidade cometidos antes de 2002, ano em que o país aderiu ao Estatuto de Roma e ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

"A Comissão incentiva o Estado a continuar com as ações interinstitucionais para a busca e identificação das vítimas do massacre de Putis, e a restituição digna de seus restos aos familiares; bem como para o julgamento dos responsáveis", indicou a CIDH na rede social X.

Segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR, 2003), o conflito armado ocorrido no Peru entre 1980 e 2000 deixou mais de 69.000 mortos, a maioria camponeses pobres dos Andes.

A guerra contra as guerrilhas e contra o terrorismo (1980-2000), como as autoridades classificam o conflito armado, deixou pouco mais de 21.000 desaparecidos.

A CVR responsabilizou o Sendero Luminoso como o principal perpetrador de violações dos direitos humanos, mas também acusou as forças de segurança que enfrentaram essa organização de cometerem crimes de lesa-humanidade.

Existem no Peru cerca 4.000 valas comuns, segundo a CVR. Muitas delas estão em Ayacucho, berço e bastião principal do Sendero Luminoso.

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