'Temos que prendê-lo', diz Biden sobre Trump
Donald Trump e Kamala Harris disputaram o voto dos eleitores latinos nesta terça-feira, quando uma frase inesperada saiu da boca do presidente Joe Biden, a duas semanas das eleições presidenciais.
"Temos que prendê-lo", disse Biden sobre seu antecessor e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, arrancando aplausos da plateia reunida em um centro de campanha em New Hampshire. "Prendê-lo politicamente", apressou-se Biden a esclarecer.
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A Casa Branca vinha evitando mencionar os problemas legais de Trump, que enfrenta uma longa lista de acusações e uma condenação criminal. O republicano insiste em que as acusações são um ataque político.
Quando Trump enfrentou Hillary Clinton nas eleições de 2016, pediu que a adversária democrata fosse investigada e presa. Ele venceu e ela não foi acusada de nenhum crime.
A equipe de campanha de Trump arremeteu contra o democrata: "Joe Biden acaba de reconhecer a verdade: o plano dele e de Kamala, desde o começo, era perseguir politicamente seu adversário, o presidente Trump, porque não podem vencê-lo de forma justa e honesta", disse Karoline Leavitt, porta-voz nacional da campanha.
Em vários comícios de Kamala, a plateia gritou para que Trump fosse preso, mas a candidata respondeu: "Esperem. Os tribunais vão cuidar disso. Vamos cuidar de novembro, certo?"
Trump e a vice-presidente Kamala Harris estão tecnicamente empatados nas pesquisas e tentam atrair os eleitores indecisos, os negros e os latinos para somar votos.
"Parte da agenda que apresentei e que estou muito consciente de como afetaria os homens latinos, por exemplo, inclui o que devemos fazer para construir uma economia forte que apoie os trabalhadores", disse Kamala em entrevista à Telemundo, segundo trechos divulgados pela emissora.
Estima-se que 17,5 milhões de latinos votarão nessas eleições, um contigente que pode fazer a diferença, especialmente nos sete estados-pêndulo, assim chamados porque não se inclinam para nenhum dos partidos, mas escolhem com base no candidato.
A maioria dos latinos vota nos democratas, mas Trump tem conquistado os votos desta comunidade desde que entrou na política, especialmente entre os homens. O republicano, cuja retórica antimigração se radicaliza, participou de uma mesa-redonda com simpatizantes latinos na Flórida.
Trump falou sobre economia, mas, principalmente, sobre o que considera uma prioridade: a imigração ilegal.
- 'Onde estão as crianças?' -
O republicano voltou a acusar o governo de ter perdido 325.000 crianças imigrantes que, segundo ele, agora são "escravos sexuais, escravos, desaparecidos ou mortos".
Trump parecia se referir a um relatório do Gabinete do Inspetor Geral do Departamento de Segurança Interna, que afirma que foi perdido contato com mais de 32.000 crianças migrantes desacompanhadas que não compareceram ao tribunal após serem libertadas entre 2019 e 2023, acrescentando que mais de 290.000 menores não receberam avisos para comparecer à corte.
Alguns participantes corroboraram com essa afirmação falsa, entre eles o ator mexicano Eduardo Verástegui. "Entraram pela fronteira, foram soltos e não sabemos onde estão. Kamala, onde estão as crianças? (...) Esses, Kamala, Biden, são os maiores traficantes de pessoas da história", acusou.
O grupo de latinos rendeu um culto a Trump como se ele fosse um messias. Todos de pé, de olhos fechados, alguns com o braço levantado apontando para Trump, ou uma mão sobre o ombro do ex-presidente, recitaram duas orações pedindo a Deus que guie seus passos.
"Nós o ungimos para que seja o próximo 47º presidente dos Estados Unidos, para restaurar os valores bíblicos", disseram sobre Trump, que permaneceu sentado.
Os democratas criticam a aptidão mental e física de Trump, mas os comícios do republicano se enchem de apoiadores incondicionais, convencidos de que ele é vítima de perseguição política. Não está claro se sua promessa de deportar em massa os imigrantes em situação irregular vai influenciar a votação.
- 'Virar a página' -
Independentemente do resultado eleitoral, os americanos farão história em 5 de novembro, elegendo uma mulher para o cargo ou o primeiro presidente com uma condenação criminal.
Em entrevista à rede NBC, Kamala respondeu "absolutamente" ao ser questionada se os Estados Unidos estão preparados para eleger a primeira presidente mulher. O que "realmente importa para a maioria é se conseguimos fazer o trabalho", ressaltou.
O importante "não é apenas virar a página, mas fechar a página e o capítulo de uma era que sugere que os americanos estão divididos", acrescentou a democrata.
Kamala evitou responder diretamente se teme que Trump declare vitória antes do encerramento da apuração. "Lidaremos com a noite das eleições e os dias posteriores. Temos os recursos e a experiência."
Trump ainda se nega a aceitar sua derrota nas eleições de 2020, o que gera o temor de que ele conteste o resultado se perder.
- 'Votem!' -
"Vamos ver o que acontece. Da última vez ocorreram coisas muito ruins, mas desta vez não temos covid-19, e será muito mais difícil para eles fazerem coisas ruins", disse Trump na mesa-redonda.
À noite, em comício na Carolina do Norte, o republicano acusou Kamala de ser "estúpida" e preguiçosa, preferindo "dormir" a fazer campanha. Também atacou o ex-presidente Barack Obama, que apoia a campanha democrata, dizendo que ele divide as pessoas.
Obama participou de um comício no Michigan, onde foi apresentado pelo rapper Eminem, a celebridade mais recente a se unir a Kamala. "Não vaiem, votem!", pediu o ex-presidente.
Mais de 20 milhões de americanos já votaram por correio ou pessoalmente, em eleições cujo nível de participação pode ser o fator decisivo para se conseguir as chaves da Casa Branca.
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© Agence France-Presse