Siderúrgicas US Steel e Nippon Steel acionam governo Biden por vetar fusão
As siderúrgicas US Steel e Nippon Steel apresentaram uma ação perante a justiça americana contra o governo de Joe Biden por "interferência ilegal" em seu projeto de fusão, que o presidente democrata vetou devido à necessidade estratégica de proteger esta indústria.
Os dois grupos apresentaram um recurso junto a um tribunal de apelações dos Estados Unidos, no qual afirmam que Biden usou sua influência de forma indevida com fins políticos, segundo um comunicado conjunto.
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Na sexta-feira, o presidente em fim de mandato vetou a operação de venda da US Steel para o grupo Nippon Steel por US$ 14,9 bilhões (R$ 91 bilhões), anunciada em dezembro de 2023.
Segundo Biden, que deixará a Presidência em 20 de janeiro, quando será substituído pelo republicano Donald Trump, a fusão "colocaria um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos sob controle estrangeiro, criando um risco para nossa segurança nacional e para a cadeia de abastecimento".
O Japão também pediu, nesta segunda-feira, explicações aos Estados Unidos por sua decisão, que poderia pôr em risco os investimentos japoneses no país.
"Eles têm que ser capazes de explicar claramente por que existe um problema de segurança nacional", disse o primeiro-ministro Shigeru Ishiba em coletiva de imprensa.
"O mundo industrial japonês está preocupado com o futuro dos investimentos [nos Estados Unidos]. Instamos o governo dos Estados Unidos a tomar medidas para dissipar estas preocupações", acrescentou.
O Japão representa a principal fonte de investimento direto estrangeiro (IDE) nos Estados Unidos e em 2023 os investimentos japoneses totalizaram 783,3 bilhões de dólares (3,7 trilhões de reais na cotação da época), 14,5% do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) total no país, segundo dados dos EUA.
Os Estados Unidos são o maior importador mundial de aço, um setor dominado pela China, sua grande concorrente.
- "Efeito dissuasivo" -
Embora a decisão fosse esperada, teve o efeito de um banho de água fria no Japão, que já se prepara para um reforço das medidas protecionistas dos EUA quando começar o segundo mandato de Trump, em 20 de janeiro.
O ministro japonês da Economia, Comércio e Indústria, Yoji Muto, considerou "incompreensível e lamentável que o governo Biden tenha tomado tal decisão citando preocupações de segurança nacional".
No entanto, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, garantiu que "não é uma decisão contra o Japão".
Segundo John Murphy, vice-presidente da Câmara de Comércio americana, "a politização da aquisição da US Steel pela administração Biden [...] poderia ter um efeito dissuasivo sobre os investimentos internacionais nos Estados Unidos".
"Os investimentos de um país aliado importante e confiável, o Japão, sustentam quase um milhão de empregos americanos", disse ele em nota.
A questão da compra da US Steel esteve muito presente na campanha presidencial do ano passado nos Estados Unidos porque afeta a Pensilvânia, um estado estratégico eleitoralmente.
Tanto republicanos quanto democratas se opuseram à compra. Donald Trump, que defende posições protecionistas, também mostrou-se hostil à ideia.
A Nippon Steel fez várias concessões e ofereceu garantias para persuadir o governo Biden e os sindicatos sobre os benefícios do acordo, em vão.
Além da garantia da manutenção de empregos e investimentos, a empresa teria proposto ao governo de Washington, segundo a imprensa, vetar a redução da produção de aço nos Estados Unidos.
A US Steel alertou que, se a aquisição fracassasse, seria forçada a renunciar aos investimentos de modernização em diversas instalações.
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