Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Fernanda Torres fura a bolha e derruba pautas bolsonaristas, mostra Quaest

A repercussão nas redes sociais do Globo de Ouro de melhor atriz para Fernanda Torres atropelou todos os outros assuntos, inclusive a polêmica sobre a saída do Brasil de um soldado israelense acusado de crimes de guerra em Gaza, que se transformou em bandeira do bolsonarismo nos últimos dias. Em números, ela teve volume de mobilização mais de 50 vezes maior.

O prêmio à atriz por sua interpretação no filme "Ainda Estou Aqui", que trata da luta de Eunice Paiva para manter a família e garantir justiça após a morte do marido pela ditadura, gerou 2,5 milhões de menções, segundo a Quaest, entre sábado (4) e às 12h desta terça (7). Enquanto isso, a fuga do soldado produziu 43,3 mil menções no mesmo período. Ou seja, menos de 2% do Globo de Ouro.

Para efeito de comparação, a comoção pelo Globo de Ouro à Fernanda Torres foi maior que a da cassação do então deputado federal Deltan Dallagnol em maio de 2023 (1 milhão de menções), que a declaração de Lula comparando a retaliação de Israel a Gaza ao Holocausto judeu em fevereiro de 2024 (692 mil menções) e que a delação do tenente-coronel Mauro Cid sobre a tentativa de golpe de Estado em setembro de 2023 (59 mil menções), segundo a Quaest.

Para quem não acompanhou o caso, o soldado israelense Yuval Vagdani deixou o Brasil após a Justiça Federal do Distrito Federal determinar a apuração de crimes de guerra que teriam sido cometidos pelo militar em Gaza. Ele havia sido alvo de acusação de uma organização da sociedade civil que busca responsabilizar o Estado de Israel por violações de direitos humanos contra os palestinos. A partir daí, políticos e influenciadores bolsonaristas tomaram a pauta, afirmando que o caso é perseguição e afronta à soberania de outro país.

Mais do que quantidade, a repercussão do prêmio teve qualidade. Do total de menções, 72% são positivas, celebrando Fernanda Torres e considerando o fato como uma conquista nacional, segundo a Quaest. Outros 21% têm teor neutro ou noticioso.

Apenas 7% trazem críticas à atriz, principalmente impulsionadas por bolsonaristas.

Entre elas, reclamações sobre o uso da lei Rouanet (o que é mentira, uma vez que o filme não a utilizou para o seu financiamento), insinuações de que o governo estaria gastando em cultura o dinheiro da comida da população mais pobre, reclamações de que a atriz defende as vítimas da ditadura, mas não os golpistas do 8 de janeiro e uma busca por deslegitimá-la por ser progressista.

O levantamento da Quaest aponta, contudo, que o baixo volume de críticas mostrou que, ao menos até o momento, "a narrativa dos bolsonaristas não ganha força no ambiente digital".

"Em tempos de política pop, em que a política tenta copiar o entretenimento para buscar engajamento, Fernanda Torres e seu merecido prêmio mostram como funciona o caminho inverso: quando a arte, boa por essência, domina o debate público e fura bolhas políticas, neutralizando narrativas fabricadas", afirmou à coluna o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

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"Ainda Estou Aqui", baseado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e de Rubens Paiva, deputado que foi cassado e morto pela ditadura civil-militar (1964-1985), foi dirigido por Walter Salles. Ao focar no impacto desse período na vida cotidiana de uma família, o filme atingiu um público mais amplo. Didático, alcançou também os mais jovens, muitos dos quais pouco conheciam os casos de tortura e assassinatos do regime.

Torres mais falada que Jolie, Kidman, Winslet, Anderson e Swinton

A Quaest levantou que, no final de semana da premiação, Fernanda Torres foi a candidata ao prêmio de melhor atriz mais mencionada nas redes. Não só nas postagens em língua portuguesa, das quais recebeu 89% das menções, mas também naquelas em inglês - nas quais, ela recebeu 66% das menções.

Para efeito de comparação, considerando as postagens em língua inglesa Angelina Jolie teve 14%, Nicole Kidman, 8%, Kate Winslet, 6%, Pamela Anderson, 4%, e Tilda Swinton, 2%.

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