Topo

Professor diz que Fidel deixa imagem de líder, mas é criticado como ditador

Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil

26/11/2016 18h21

O professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Márcio Scalércio, disse hoje (26) que o líder cubano Fidel Castro, que morreu nesta madrugada aos 90 anos, em Cuba, deixa uma imagem dividida entre o político revolucionário que promoveu avanços sociais, por isso admirado, mas que também é criticado como um ditador. Apesar da presença forte de Fidel no país, de acordo com o professor, Cuba deve sofrer transformações. "Acho que estes regimes baseados em figuras como Fidel não ficam incólumes depois que a figura morre. Isso deve trazer movimentações em Cuba", disse em entrevista à Agência Brasil. Segundo o professor, a maior crítica feita a Fidel ainda é quanto ao autoritarismo do regime cubano, além da questão econômica marcada por atrasos no desenvolvimento do país. Mas a população está preparada para possíveis mudanças que surjam após a morte do comandante da revolução. "A população cubana é educada depois de tantas relações vivendo dentro do regime revolucionário. Ela tem saúde e condições de viver qualquer tipo de transição com maior preparo do que qualquer outra população na América Latina, por causa do legado positivo do regime", disse. "As paixões que Fidel despertou, não obstante a morte dele, continuam vivas, continuam polarizando o quadro político na América Latina". Dúvidas marcam relações entre EUA e Cuba Márcio Scalércio comentou, ainda, a reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba, promovida pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro, depois de um longo período de embargo econômico, comercial e financeiro contra Cuba determinado pelos Estados Unidos, em 1962. Para Scalércio, agora há um elemento de dúvida de como vão prosseguir os entendimentos entre os dois países, porque houve a eleição de Donald Trump, o que define um momento de incertezas. "A morte de Fidel se dá no momento da eleição de Trump. É um outsider que a gente não sabe o que esperar dele", afirmou. "As expectativas do fim do regime cubano e as oportunidades que podem se abrir em Cuba para determinados setores americanos, incluindo os cubanos de Miami, todos muito ricos, são muito grandes. Mas, por outro lado, há o Putin e a Rússia, inclusive falando em reabrir a base deles em Cuba". Historiador diz que Fidel é herói Para o professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea, da Fundação Getulio Vargs (FGV/CPDOC), Américo Freire, agora Fidel é uma referência muito forte e vai ficar ainda por um bom muito tempo como um dos heróis de Cuba e não apenas da revolução do país. O historiador ressaltou, no entanto, que o líder cubano não deve ser julgado  apenas por um aspecto, diante das transformações ideológicas e revolucionárias que provocou não só dentro do país como no mundo. "Ele é um personagem complexo. É importante a gente pensar, e aí falo como historiador, é a gente não ter julgamentos apressados que estão ali para manchetes. Vamos pensar em como este personagem durou tanto tempo, morre com 90 anos e ainda tem significado. Isso representa que a obra dele tem significado para os séculos 20 e 21", disse. Américo Freire destacou que as mudanças que já estão ocorrendo em Cuba são um projeto de governo referendado por Fidel e devem continuar mesmo com a morte do comandante da revolução. "A ideia é que este processo avance. Mas tem que esperar porque o Trump ainda é uma surpresa. A gente não sabe se ele vai utilizar mais uma vez o fantasma cubano, o anticomunismo como instrumento de política externa. A gente ainda tem que aguardar. Qualquer previsão é precipitada neste momento. Mas se o Trump não adotar nenhuma medida radical o processo pode continuar", disse. O historiador acrescentou que o presidente Raúl Castro já está preparando pessoas que vão substituí-lo no governo cubano e a perspectiva é de que o processo de transformação do país seja feito com medidas em ritmo gradual. "Os bons ventos da mudança chegaram em Cuba e a tendência é que isso continue. Acho que a mudança é irreversível, mas não será muito brusca. Acho que o regime vai buscar o processo de gradual distensão, lenta e segura", finalizou.