Jovem morta em escola do Rio sonhava em ser atleta
Em 2015 e 2016, Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, colecionou medalhas em competições estudantis na cidade do Rio de Janeiro. Mais habilidosa no basquete, ela sonhava se tornar atleta profissional e se preparava para isso na escola. Na tarde de ontem (30), a adolescente foi morta com dois tiros na cabeça e um no tronco, segundo parentes, dentro da Escola Municipal Daniel Piza, quando treinava com a equipe de educação física. Enquanto aguardava a liberação do corpo da adolescente no Instituto Médico-Legal na manhã de hoje (31), a família questionava a versão de que a morte tenha ocorrido por bala perdida e relatou que não havia operação policial naquele momento. "Bala perdida é um tiro, e não três", questionou o irmão, Daniel Conceição. Com as medalhas e o uniforme da filha nos braços, a mãe da adolescente, Rosilene Alves Ferreira, desesperou-se enquanto era consolada: "Amanhã, eu não tenho mais o meu bebê". Testemunhas contaram à família que policiais, do outro lado de um rio, atiraram contra homens que estavam perto da escola. Esses tiros, segundo os relatos, teriam atingido a quadra da escola e também a sala da direção, no segundo andar. Professores relatam os mesmos fatos e contam que tentaram proteger as crianças e os adolescentes nos corredores. A turma que estava na quadra, no entanto, estava mais exposta. A Divisão de Homicídios da Capital, da Polícia Civil, investiga o caso, e a Polícia Militar informou por meio de nota que policiais militares do 41º Batalhão (Irajá) foram acionados e entraram em confronto com homens que estavam praticando crimes na Rua Prefeito Sá Lessa, na Fazenda Botafogo, próximo ao Rio Acari. Um fuzil e uma pistola foram apreendidos pela polícia. Em frente à mesma escola, policiais militares atiram em homens que estavam deitados no chão. A cena foi flagrada por testemunhas e um vídeo divulgado nas redes sociais e na imprensa mostra o momento em que os dois homens foram mortos. A Divisão de Homicídios e a Corregedoria da Polícia Militar investigam o caso. Segundo a PM, foi determinada apuração "da flagrante ilegalidade". Cotidiano de violência Daniela Conceição, uma das irmãs de Maria Eduarda, mora em Japeri e sempre se preocupou com a insegurança na região. "Ela estava sempre lá em casa, e a gente falava: Maria Eduarda, toma cuidado. A gente tentava levar ela lá para casa porque sabia que não tinha segurança nenhuma. Mas lá ela tinha a mãe", lamenta Daniela, que conta como a violência já fazia parte do cotidiano da adolescente de 13 anos na escola. "Ela dizia: 'não, irmã, quando a gente vê que tem tiro, a gente já se abriga, deita no chão'. Eles lá tinham os meios de se esconder. Só que como não era uma operação, estava em aula normal". Representante dos professores no conselho escola-comunidade da Daniel Piza, o professor de história Leonardo Bruno da Silva conta que a unidade passa por situações de risco praticamente toda semana, exigindo que os professores tirem os alunos de sala e levem para os corredores. "Acaba quebrando a lógica do trabalho que a gente faz." Professor de Maria Eduarda, ele chorou ao lembrar da transformação da menina com o trabalho pedagógico e esportivo na escola. "Ela era a percepção de que a educação funciona. Chegou rebelde na escola, com um comportamento adverso, e atuamos fortemente. O esporte atuou fortemente sobre ela, e ela se transformou em uma criança espetacular. Ela transmitia luz", desabafou. "Ela representava um pouco do que é a alegria de ser professor." O corpo docente da escola sofre com o medo da violência e o reflexo disso é a dificuldade de preencher vagas. Com mais de 700 alunos, o colégio não conta com um inspetor, porque, segundo Leonardo, pessoas convocadas para o cargo se recusam a assumir um posto naquela localidade. A direção já havia pleiteado à gestão anterior do município que o muro da escola fosse aumentado, para dar mais proteção. "As escolas não tem proteção. As paredes são finas e qualquer projetil perfura", diz Leonardo.
A organização não governamental Rio de Paz acompanhou a família de Maria Eduarda no Instituto Médico-Legal e ofereceu apoio jurídico. Presidente da ONG, Antônio Carlos Costa contabiliza 33 mortes de crianças e adolescentes de até 14 anos atingidas por bala perdida no Rio de Janeiro, desde 2007. Neste ano, já foram três, e ele reconhece que o número contabilizado pela ONG pode não dar conta de todos os casos. Antônio Carlos Costa vê um perfil comum na maioria dessas vítimas. "Em geral, são crianças pobres, moradoras de favelas, de comunidades nas quais habitam pessoas historicamente invisíveis. Na maioria esmagadora das vezes, essas mortes ocorrem durante operações policiais, em tiroteios."
A organização não governamental Rio de Paz acompanhou a família de Maria Eduarda no Instituto Médico-Legal e ofereceu apoio jurídico. Presidente da ONG, Antônio Carlos Costa contabiliza 33 mortes de crianças e adolescentes de até 14 anos atingidas por bala perdida no Rio de Janeiro, desde 2007. Neste ano, já foram três, e ele reconhece que o número contabilizado pela ONG pode não dar conta de todos os casos. Antônio Carlos Costa vê um perfil comum na maioria dessas vítimas. "Em geral, são crianças pobres, moradoras de favelas, de comunidades nas quais habitam pessoas historicamente invisíveis. Na maioria esmagadora das vezes, essas mortes ocorrem durante operações policiais, em tiroteios."
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