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PSOL do RJ pede expulsão do deputado federal Cabo Daciolo

Líder da greve dos bombeiros em 2011, Daciolo discursou a favor dos PMs acusados da morte do pedreiro Amarildo - Daniel Marenco/Folhapress
Líder da greve dos bombeiros em 2011, Daciolo discursou a favor dos PMs acusados da morte do pedreiro Amarildo Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

20/03/2015 18h40

Depois de contrariar três vezes as diretrizes do PSOL desde que foi eleito em outubro passado, o deputado federal Cabo Daciolo, 38, do Rio de Janeiro, foi suspenso pela executiva estadual, que também pediu à direção nacional a expulsão do parlamentar. A gota d'água foi o discurso de Daciolo na última quinta-feira (19), na Câmara dos Deputados, em defesa dos policiais militares acusados do assassinato do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, na zona sul, do Rio. Os PMs cumprem prisão preventiva.

"Vinte e cinco militares respondem por um crime que não cometeram. Doze desses estão presos. Vamos solicitar a presença dos Direitos Humanos da Presidência da República", discursou Daciolo. Amarildo foi torturado e morto por PMs na Rocinha, em julho de 2013. O crime inflamou as manifestações contra o então governador Sérgio Cabral (PMDB). Partidos como o PSOL pressionaram pela apuração do caso. O corpo nunca foi encontrado.

Líder da greve dos bombeiros em 2011, quando os militares ocuparam o Quartel General da corporação, Benevenuto Daciolo, agora na reserva, chamou atenção de líderes do PSOL. Alguns militantes alertaram para o "messianismo" do bombeiro, que é evangélico, mas o ingresso no partido foi aprovado.

Na diplomação dos eleitos, em dezembro, Daciolo deu o primeiro susto no partido, ao publicar fotos ao lado do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), adversário histórico do PSOL. Pouco antes, o bombeiro participara de protesto organizado pelo PSOL contra Bolsonaro, por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela "não merece".

A segunda dor de cabeça veio há duas semanas, quando Daciolo anunciou que apresentaria uma proposta de emenda à Constituição para alterar o artigo 1º de "todo poder emana do povo" para "todo poder emana de Deus". No dia seguinte, pressionado pelos partido, que defende o Estado laico, retirou a proposta.

Suspenso na noite de quinta-feira, Daciolo continua a exercer o mandato na Câmara, mas deixa de representar o partido. O presidente do PSOL-RJ, Rogério Alimandro, disse que, mesmo na hipótese de a legenda perder um parlamentar, o pedido de expulsão será mantido. "Melhor perder um deputado do que perder a vergonha", afirmou. Além de Daciolo, o partido tem quatro deputados federais.

"Sempre olhei a filiação de Daciolo com muita preocupação, mas me surpreendeu que, em tão pouco tempo, ele tomasse tantas atitudes incompatíveis com o partido", disse Alimandro. No fim de 2014, Daciolo defendeu a presença de um militar de alta patente à frente do Ministério da Defesa. A direção nacional do PSOL entendeu que se tratava de "manifestação individual".

Daciolo insistiu nesta sexta-feira (20) na defesa dos acusados da morte de Amarildo, em vídeo publicado no Facebook. Lembrou os 49.831 votos que recebeu, "80% de militares". "Quero justiça para esses militares que estão presos. Coloco todos os que me perseguem, coloco o PSOL do Rio de Janeiro, coloco esses militares em suas mãos, Senhor", declarou Daciolo. O parlamentar promete fazer uma visita aos PMs e insistir na campanha pela libertação deles.