Jamil Chade

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Brasil dará resposta se Milei ampliar crise; embaixador pode ser retirado

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva não descarta tomar medidas para retaliar o presidente argentino Javier Milei, caso ele amplie a crise diplomática durante sua passagem por Santa Catarina, neste fim de semana.

Milei se recusou a ir à cúpula do Mercosul, marcada para Assunção na segunda-feira, e optou por um encontro com Jair Bolsonaro e com líderes da extrema direita regional, num evento organizado por Eduardo Bolsonaro. Até sexta-feira, Milei sequer havia comunicado ao governo brasileiro que chegaria ao Brasil, numa ruptura clara dos padrões diplomáticos.

A ordem no Palácio do Planalto era a de não cair nas provocações de Milei que, nos últimos dias, voltou a cutucar Lula e criticar o governo brasileiro. A lógica é de que não será o argentino quem vai pautar a relação entre os dois países com seus comentários, considerados como estratégias para desviar o foco da crise doméstica. A esperança do governo é de que ele repita sua participação em um evento similar nos EUA, quando se conteve nas críticas contra Joe Biden.

Mas o entendimento do governo é de que tampouco poderá simplesmente ficar em silêncio se, no Brasil, Milei usar um evento para ofender Lula.

Neste caso, as autoridades brasileiras avaliam as seguintes opções, dependendo da gravidade do comportamento do argentino:

Congelador

O Palácio do Planalto e o Itamaraty podem segurar a confirmação de credenciamento do embaixador da Argentina em Brasília. Isso acabaria impedindo que o diplomata possa exercer suas funções e daria um recado diplomático de que não haveria tolerância em relação ao envolvimento de Milei na política doméstica brasileira, em especial com um ator declarado como inelegível.

Ampliar relação de Lula com governadores argentinos

Uma opção avaliada por Brasília seria a de ampliar a relação do Palácio do Planalto diretamente com governadores de províncias argentinas que sejam contrárias ao presidente Milei. A estimativa do governo brasileiro é de que, em certas províncias, haveria mais interesse em ampliar a cooperação com o mercado brasileiro que a própria relação com Milei.

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Chamar embaixador de forma temporária

Um grau acima desse gesto seria convocar o embaixador do Brasil em Buenos Aires para retornar de forma temporária para Brasília, supostamente para consultas. A atitude deixaria o Brasil sem um embaixador na capital argentina por algumas semanas e sinalizaria o mal-estar em relação ao governo Milei.

Retirar embaixador

Caso os comentários e atitudes de Milei sejam consideradas como excessivamente graves, o Itamaraty então retiraria de forma definitiva o embaixador brasileiro em Buenos Aires, até que haja um pedido formal de desculpas por parte do presidente argentino. Neste caso, a sinalização seria a mais forte, em relação ao impacto para a relação bilateral

Tanto no Itamaraty como no Palácio do Planalto, fontes insistem que não querem que a relação chegue a esse patamar de crise. A existência de brasileiros em grandes números no país vizinho, a relação de investimentos e comércio e a consideração estratégica dos contatos entre os dois maiores países da América do Sul não poderiam ser desprezadas.

Mas o governo estima que tampouco por ser "humilhado" em casa e deixar o ato sem respostas. Brasília também destaca que essa já foi a atitude do governo espanhol de Pedros Sanchez que, depois de ser ofendido por Milei em uma viagem extra-oficial para Madri, foi obrigado a retirar sua embaixadora de Buenos Aires.

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Lula havia sido alvo de ofensas por parte de Milei, quando o argentino ainda estava em campanha eleitoral. O novo chefe da Casa Rosada tentou uma aproximação com o brasileiro, mas sem fazer menção a um pedido de desculpas. Lula optou por não ir a sua posse e, mais recentemente, indicou em entrevista ao UOL que apenas voltaria a ter uma relação direta com Milei se ele pedisse desculpas.

O argentino se recusou a atender o pedido brasileiro.

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