Tripoli busca ser 'via da militância'
Faltando pouco mais de uma semana para as prévias do PSDB que definirão o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Ricardo Tripoli tenta evitar o rótulo de "terceira via" diante da aparente polarização entre o vereador Andrea Matarazzo, que é apoiado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo senador José Serra, e o empresário João Doria, que foi o escolhido por Geraldo Alckmin.
Para justificar seu otimismo com a vitória, ele carrega a tiracolo uma pesquisa do instituto GPP sobre os potenciais candidatos da cidade: 14% disseram considerar "positiva" a imagem de Tripoli, 12% a de Doria e 9% a de Matarazzo. Na parte de cima da tabela aparecem Celso Russomanno (PRB), com 55,7% de citações positivas, José Serra (PSDB), 39,7%, e Fernando Haddad (PT), 24%.
Seria um alento se os demais pré-candidatos não tivessem seus próprios levantamentos em que aparecem na liderança. No caso de Tripoli, porém, a pesquisa provocou um constrangimento na legenda, já que ela foi encomendada e paga pelo Instituto Teotônio Vilela. Braço teórico do diretório nacional do PSDB, o instituto é presidido pelo principal cabo eleitoral de Tripoli, o ex-deputado José Aníbal.
O instituto, que é financiado com recursos públicos do Fundo Partidário, não realizou pesquisas como essa em nenhuma outra capital. "Isso não é aparelhamento da máquina partidária. Eu sou do PSDB e São Paulo é uma das poucas capitais que têm disputa de prévia. Talvez tenha também em Goiânia. Se tiver prévia lá, pode ter pesquisa também", diz Tripoli.
Polêmica à parte, o deputado diz não ter dúvida de que a campanha interna da sigla é "desigual" em termos financeiros. Parlamentar desde 1982, quando foi eleito vereador na capital, ele recebe hoje na Câmara um salário bruto de R$ 33,7 mil, mas já desembolsou R$ 50 mil no acirrado embate interno pela vaga de candidato tucano a prefeito.
Desse total, R$ 30 mil foram gastos com gasolina, refeição e produção de materiais, e R$ 20 mil com o pagamento da taxa de inscrição exigida pelo diretório municipal aos postulantes.
Para reunir a quantia, Tripoli assegura que não recorreu a empresários. "Pedi R$ 10 mil emprestado para dois irmãos e R$ 5 mil para a minha mãe", afirma. O restante, R$ 20 mil, foi retirado do caixa de seu escritório de advocacia especializado em separações e inventários, localizado na Vila Madalena.
Ao revelar sua planilha "modesta" e se autoproclamar como o "candidato da militância", o parlamentar tenta conquistar uma raia própria diante da polarização dos rivais que tomou conta da disputa.
As assessorias de Doria e Matarazzo optaram por não revelar os gastos de pré-campanha ao Estado. "Não há prévia na legislação eleitoral", diz Tripoli ao falar sobre a pouca transparência do processo.
Tabuleiro
A pré-candidatura de Tripoli nasceu de um acordo entre outras duas lideranças do PSDB com influência na máquina partidária da capital: Aníbal, do Instituto Teotônio Vilela, e o deputado Bruno Covas, neto do ex-governador Mário Covas.
Depois de atualizar o mapa político dos diretórios zonais do partido, o trio percebeu que João Doria, com apoio de aliados de Alckmin, havia "conquistado" boa parte dos territórios onde Covas e Aníbal tinham mais influência.
Depois da definição, em meados de janeiro, eles foram para as ruas com o objetivo de recuperar terreno e reativar as antigas bases para tentar fazer frente aos concorrentes e seus respectivos padrinhos.
Em vez de terceira via, ele quer ser uma espécie de "via da militância". Tripoli usa para isso sua atuação no Câmara dos Deputados, onde é um parlamentar não alinhado aos caciques da bancada. Ao longo de três mandatos consecutivos, o cargo mais expressivo que alcançou foi o de presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia. Em 2011, ele foi o responsável por introduzir o conceito de prévias no partido, mas acabou derrotado por José Serra, que disputou (e perdeu) a Prefeitura em 2012.
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