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Crise leva Rio a suspender fornecimento de refeições em restaurantes populares

15.jun.2016 - Restaurante popular no Méier, zona norte do Rio de Janeiro - Alfredo Mergulhão/Colaboração para o UOL
15.jun.2016 - Restaurante popular no Méier, zona norte do Rio de Janeiro Imagem: Alfredo Mergulhão/Colaboração para o UOL

No Rio

30/06/2016 13h14

Pelo menos três restaurantes populares do Rio de Janeiro, que fornecem refeições a R$ 2, servem nesta quinta-feira (30) os últimos pratos. Outros 12 suspendem o serviço na semana que vem. As empresas fornecedoras alegam que o Estado deve R$ 120 milhões e que os atrasos dos repasses já duram 14 meses. Caso o encerramento do serviço se confirme, deixarão de ser servidas 37 mil refeições diárias.

A empresa Home Bread, que fornece 7.800 refeições, é a primeira a suspender o atendimento. O último cardápio tem salsichão ao sugo com macarrão e suco de tangerina. Por conta da crise, sopa, sobremesa e o pão que acompanhavam a refeição já haviam sido cortados. O bife sumiu do bandejão. Deu lugar a opções mais baratas: moela, carne moída, almôndegas e salsichas passaram a ser oferecidos com mais frequência.

A empresa fornece refeições para o Restaurante Cidadão Betinho, na Central do Brasil, o primeiro do Estado, inaugurado em 2000, e para unidades do Méier, na zona norte, e Cidade de Deus, na zona oeste. Quatrocentos funcionários serão demitidos.

Por causa da crise, o Restaurante João Goulart, em Bonsucesso, na zona norte, onde são servidas 1.800 refeições diárias, ficou fechado por dois dias na semana passada, depois que a energia foi cortada. "Vou tocar com o estoque que eu tenho. Não aguento até semana que vem. Quarta vou fechar", afirma Fábio Leite, representante da Première. "Nosso público é de pessoas de baixa renda, muitos idosos, aposentados, desempregados. Elas vão ficar sem alternativa", afirma.

O diretor do setor de alimentação da Associação das Empresas Prestadoras de Serviço do Estado (AEPS), Vagner Dantas, informou que foi feito um acordo com o governo do Estado para pagamento de duas parcelas, a cada 15 dias, até que os atrasos fossem quitados. "Isso foi feito em maio, mas o Estado só conseguiu pagar uma parcela. Depois nada mais. O secretário Paulo Mello se comprometeu, mas não conseguiu cumprir. Ninguém suporta atraso de 14 meses sem pagamentos", afirmou ele.

De acordo com Dantas, houve um acordo em que o Bradesco ofereceu um empréstimo às empresas, como forma de saldar parte da dívida de 2014 do Estado. O governo se comprometeu a pagar as prestações. "Quando o Estado não paga a parcela, o banco retira da conta da empresa o que tem. As contas ficam com saldo negativo e os juros são absurdos."

Dantas é diretor comercial da Guelli, que serve refeições no restaurante de Campo Grande, na zona oeste. Por causa dos atrasos, o número de refeições servidas diariamente na unidade já havia sido reduzido de 3,7 mil para 2,8 mil. "Mês que vem não vou conseguir pagar os funcionários. Se o governo não acenar com o pagamento, o caminho será demitir funcionários".

A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos informou que não foi notificada oficialmente pelas empresas fornecedoras. Os restaurantes foram criados para atender pessoas em risco de insegurança alimentar e nutricional. Seu público é formado por trabalhadores informais, desempregados, moradores de rua e aposentados. Por R$ 2, têm direito a uma refeição de mil calorias composta por sopa, salada, prato principal com uma opção, guarnição, sobremesa e suco.

O governo subsidia as refeições com valores que variam de R$ 3,85 e R$ 8,39, dependendo do contrato. Também são servidos café da manhã, a R$ 0,50. As unidades funcionam de segunda a sexta-feira, das 10 horas às 15 horas. Em maio, a prefeitura de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, assumiu a operação do restaurante da cidade.