Crack ameaça quase nove em cada dez cidades de São Paulo, aponta mapeamento
José Maria Tomazela
Em Sorocaba (SP)
29/05/2017 09h48
O crack não para de avançar por São Paulo. Dos 645 municípios do Estado, pelo menos 558 (86,5%), incluindo a capital, enfrentam problemas relacionados à droga, conforme mapeamento do Observatório do Crack, da CNM (Confederação Nacional de Municípios).
Em 193 cidades do interior, o nível desses problemas é muito alto, segundo o ranking, atualizado em tempo real com informações de prefeituras. Em outras 259, o alerta é médio; e, em 105, baixo. Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 prefeituras não responderam oficialmente o levantamento.
De 608 municípios paulistas ouvidos este mês (incluindo dados parciais), 92% afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas, enquanto 95% confirmaram problemas com o consumo delas.
As prefeituras informaram ainda que as principais áreas afetadas são:
- Saúde: 67,1%
- Assistência Social: 57,5%
- Segurança: 49,1%
O Observatório do Crack inclui grandes cidades do interior na "lista vermelha" da droga, entre elas Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru e Marília.
O avanço das drogas pelo interior, mostrado pelo Estado em reportagem especial em 2014, não teve melhora com o passar do tempo, segundo Ernesto Stranz, consultor da CNM. E a droga continua avançando em municípios menores e rurais, como Campos Novos Paulista, Planalto e Colômbia, com menos de 7 mil moradores.
Segundo ele, o fato de a maioria dos municípios responder espontaneamente ao questionário indica a gravidade do problema. "São prefeituras que têm a coragem de se expor porque é algo que afeta muito a população. É como um grito de socorro", disse.
Apesar disso, praticamente nada mudou na política de governo. "Não houve investimento e o recurso que estava previsto em alguns programas sofreu contingenciamento."
Número de usuários
Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado informou ter ampliado em seis vezes o número de vagas para dependentes químicos, de 500 em 2011 para 3,3 mil atualmente, em serviços próprios ou conveniados.
Desse total, 2 mil vagas, ou 60%, estão no interior (integralmente custeadas pelo Estado). O encaminhamento é feito pelos municípios. A pasta destacou que a internação só é indicada para casos graves. O Estado ainda mantém o Sarad (Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas) em Botucatu, onde foram realizados 13 mil atendimentos desde 2014.
Das cerca de 2 mil internações na unidade:
- 77% aconteceram de forma voluntária
- 13%, de maneira involuntária
- 10%, de forma compulsória
O Observatório trabalha agora em uma nova metodologia para estimar a população envolvida com o crack no Estado, já que não há dados precisos.
A Senad (Secretaria Nacional de Política sobre Drogas) estima o usuário regular em 0,5% da população, o equivalente a cerca de 164 mil pessoas no Estado, desconsiderando a capital.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".