Valor a ser pago pela UTC em acordo de leniência é um terço do apurado pelo TCU
O pagamento pactuado contrasta com o prejuízo apurado que o Tribunal de Contas da União (TCU). Numa auditoria, a corte estimou em R$ 1,6 bilhão, quase o triplo do previsto no acordo, as perdas causadas pela UTC só na Petrobras, com o superfaturamento de contratos. A conta, segundo a corte, é conservadora. Esse valor não foi incorporado ao cálculo feito pelo governo. A Lei Anticorrupção prevê o ressarcimento integral do dano causado ao erário.
O governo levou em conta o dano "confessado" pela UTC. Do valor pactuado, R$ 110 milhões se referem ao que a empreiteira admitiu ter pago em propinas. Outros R$ 400 milhões correspondem a 70% do lucro que a empresa auferiu nos contratos em que obteve de forma ilícita - os outros 30% não serão cobrados. O restante do valor refere-se a multas previstas na Lei Anticorrupção.
Na prática, para conseguir os benefícios negociados com o governo, a UTC dependerá do aval do TCU. A corte declarou a empreiteira inidônea este ano, devido ao envolvimento no esquema de cartel e fraude a licitações nas obras da usina de Angra 3, proibindo-a de executar contratos bancados com verbas federais. A decisão, no entanto, ressalva que a sanção pode ser revertida em caso de acordo de leniência.
A UTC terá agora de apresentar as informações ao TCU e aguardar deliberação definitiva sobre a punição, que está em grau de recurso. Caso a corte mantenha a inidoneidade da construtora, a negociação pactuada com o governo servirá para que a empresa toque apenas obras pagas por Estados e municípios. Caso não mantenha, ela valerá para toda a administração pública.
O tribunal avoca para si a prerrogativa de fiscalizar e dar aval a acordos de leniência celebrados pelo governo. No caso a UTC, também não deliberou sobre os termos pactuados, o que ainda está pendente de avaliação e pode gerar entraves.
Nesta segunda-feira, os ministros da Advocacia-Geral da União, Grace Mendonça, e da Transparência, Wagner Rosário, sustentaram que o governo cientificou o tribunal sobre o acordo, mas, por lei, não precisa de autorização da corte de contas para assiná-lo. "A legislação não prevê o aval prévio", justificou Grace. A questão já foi fonte de embate entre os três órgãos no passado, com questionamentos no Supremo Tribunal Federal.
Os ministros asseguraram que o acertado com a empreiteira respeita o "espaço institucional do TCU". A íntegra do acordo não foi apresentada, mas Grace explicou que ele não prevê quitação integral dos prejuízos. Isso significa que, de forma independente, o tribunal poderá cobrar valores sobressalentes da UTC em seus processos. Caso descubra perdas adicionais, o governo promete celebrar termos aditivos ao acordo para aumentar o valor a ser pago ou mesmo ajuizar ações de cobrança.
O ministro da CGU, Wagner Rosário, disse que o governo não levou em conta o prejuízo calculado pelo TCU porque, em alguns casos, o valor é referente a um contrato tocado pela UTC em consórcio com outras empresas. Não está definido, segundo ele, qual é a parte do rombo atribuível a cada uma. "Nem o TCU tem fechado ainda qual é o valor", comentou.
Serão pagos em 2017 R$ 30,8 milhões. Segundo o governo, a UTC perderá os benefícios se ficar inadimplente ou caso se constate que omitiu informações durante a negociação do acordo.
O TCU, procurado pela reportagem, ainda não se pronunciou sobre o acordo nesta segunda-feira.
Para assinar o acordo, segundo o governo, a empreiteira entregou informações que vão permitir o ajuizamento de ações de ressarcimento contra outras empresas envolvidas em corrupção. Também se comprometeu a adotar um programa de governança, que inclui o afastamento de executivos que participariam do esquema de fraudes e desvios.
Na esfera criminal, os executivos da UTC já haviam assinado acordo de delação premiada com a Lava Jato e um acordo de leniência independente, que previa o pagamento de R$ 400 milhões.
Essa é a segunda tentativa do governo de fechar um acordo de leniência. O primeiro foi feito com a SBM Offshore, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu suspendê-lo, por não concordar com algumas das cláusulas. A questão ainda não foi solucionada.
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