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Congresso reage à Lava Jato como aconteceu na Itália com Mãos Limpas, diz Janot

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, discursa durante evento no Rio - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, discursa durante evento no Rio Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Roberta Pennafort

Rio

28/08/2017 13h34Atualizada em 28/08/2017 16h26

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta segunda-feira, 28, que o modo como deputados brasileiros reagem à Lava Jato se assemelha ao que aconteceu na Itália durante as Operações Mãos Limpas, também de combate à corrupção.

"Se a gente fizer um paralelo do que aconteceu na Itália e do que aconteceu aqui, boa parte do que se passou na Itália se passou ou está se passando aqui no Brasil. Basta olhar as iniciativas legislativas feitas na Itália e as iniciativas legislativas que são apresentadas aqui", disse o procurador-geral em evento no Rio promovido pelo jornal O Globo.

"Algumas iniciativas do Congresso geraram perplexidade. Uma delas foi a do abuso de autoridade, que estava em tramitação desde 2006. Caminhava, parava, caminhava parava, mais ou menos com algum andamento mais marcante das investigações. O abuso de autoridade chamou a atenção. Causou preocupação o fato de tentarem implantar o crime de hermenêutica. O direito se dá com interpretação. Ser tipificado como crime é muito complicado, afirmou.

Janot falou a jornalistas e convidados por uma hora e meia e respondeu a perguntas. Antes, deu entrevista rápida e comentou o fato de sua sucessora na PGR, Raquel Dodge, ter tido encontro com o presidente Michel Temer (PMDB) fora da agenda. Sem querer fazer juízo de valor, disse que não tem esse tipo de conversa extraoficial. Raquel foi ao Palácio do Jaburu à noite e, posteriormente, declarou que havia tratado de sua posse com o presidente.

Janot promete livro sobre o cargo

Rodrigo Janot disse que irá lançar dois livros sobre seu período no cargo, inclusive com bastidores da delação da JBS, que levaram à denúncia do presidente Michel Temer (PMDB) por corrupção passiva. "Muitas das coisas que aconteceram a gente não pode veicular, e não foram veiculadas. Algumas eu poderei contar como memórias, outras terei que esperar um pouco mais para revelar.

"Acho que devo isso à sociedade brasileira, que quer conhecer um pouco do intestino de tudo isso. E tem outro projeto, que é de memória, mas sobre as opções que eu tomei nas investigações e as razões jurídicas e metajurídicas que me levaram tomar [decisões], por exemplo, no caso JBS", disse, em evento do jornal "O Globo".

Ele afirmou que a Lava Jato não deve ser uma investigação permanente, precisa ter um escopo fechado, e que já é possível visualizar "até onde a investigação pode ir, e se espera que vá". "A sociedade brasileira não pode ficar refém de uma investigação eterna", justificou.

Janot disse ainda que fatos levantados pela Lava Jato sempre podem gerar reações no Legislativo, no Judiciário e no Executivo.

"A partir do momento em que as investigações prosseguem, reações acontecem. Algumas iniciativas do Congresso geraram perplexidade, e uma delas foi a do abuso de autoridade. Estava em tramitação desde 2006, caminhava e parava conforme algum andamento mais marcante das ações. O preço da liberdade é a eterna vigilância", afirmou.

O procurador-geral disse também que foi muito desgastante oferecer denúncia contra Temer. "Nenhum ato do MPF seja perante Supremo, seja no Rio, em Curitiba, São Paulo, nenhum ato de investigação foi ato sem que não tivesse sido profissional e técnico. Membro do MP não tem interesse mórbido de processar alguém. Para a gente, isso é um desgaste. Ajuizar uma demanda contra o presidente da República desgasta qualquer cidadão. Ninguém quer ver o presidente da República do seu país ser processado penalmente. O que posso afirmar é que fazemos profissionalmente e tecnicamente o que temos que fazer. Se não fizermos é prevaricação".

Questionado por jornalistas, ele se disse "absolutamente favorável" à fixação de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), "talvez de 15 anos", mas a valer somente para quem ingressar no futuro. Seria uma maneira de renovar a corte, avaliou.