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Em delação, executivo diz que Maduro recebeu US$ 35 milhões da Odebrecht

22.jul.2017 - O presidente venezuelano Nicolás Maduro mostra a constituição do país durante entrevista à imprensa estrangeira - Federico Parra/ AFP
22.jul.2017 - O presidente venezuelano Nicolás Maduro mostra a constituição do país durante entrevista à imprensa estrangeira Imagem: Federico Parra/ AFP

Jamil Chade

Genebra

12/10/2017 17h53Atualizada em 13/10/2017 18h18

A construtora brasileira Odebrecht teria financiado a campanha eleitoral do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. A denúncia aparece em um vídeo em que o presidente da Odebrecht/Venezuela, Euzenando Azevedo, admite ter recebido um pedido de US$ 50 milhões por parte de Maduro, mas acabou fechando a contribuição em US$ 35 milhões.

O vídeo faz parte da delação do executivo e foi colocado no Twitter pela procuradora-geral afastada da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, nesta quinta-feira (12). O trecho se refere às declarações que o executivo brasileiro prestou na sede do Ministério Público Federal, no Estado de Sergipe, no dia 15 de dezembro de 2016.

O brasileiro conta que Hugo Chávez, sabendo que iria morrer, indicou o então vice-presidente, Nicolás Maduro, como seu substituto. Azevedo lembra que Chávez morreu em Cuba. "Ele faleceu no dia 5 de março de 2013 e eleições foram convocadas", disse.

"Eu fui procurado por um dos representantes do sr. Nicolás Maduro, um sr. chamado Américo Mata", disse Azevedo. Segundo o executivo, Mata havia sido o presidente do Instituto do Desenvolvimento Rural Venezuelano. "Eu já o conhecia porque circulava no governo e quando o presidente Chávez estava doente, o vice-presidente (Maduro) ia visitar nossas obras e sempre ia acompanhado do sr. Mata", disse o brasileiro.

"Então esse sr. Américo Mata me procurou e fechou um encontro comigo", explicou. Segundo ele, foram várias as reuniões. "Ele me pediu uma contribuição. Ele sabia de nosso negócio e do tamanho de nossas operações", disse. "Ele me pediu a contribuição para ajudar a campanha do presidente Maduro", insistiu.

"Ele pediu um valor grande para a época", admitiu. "Tínhamos uma operação muito grande na Venezuela", disse. O brasileiro indica que Mata chegou a pedir US$ 50 milhões. "Eu aceitei dar US$ 35 milhões", afirmou.

Azevedo também explicou o que pediu em troca do financiamento. "Pedi a ele que o candidato, se ganhasse, mantivesse nossas obras como prioritárias do governo dele, já que as obras eram do governo Chávez", disse. "Ele (Maduro) era a continuidade. Mas poderia ter outro tipo de interesse", explicou.

"Américo me garantiu que, se o presidente Maduro ganhasse, continuaria colocando as obras da Odebrecht como prioritárias, até para dar imagem de continuidade de Chávez", disse. "Nós negociamos e eu aceitei pagar. Foram liberados esses recursos para ele, durante a campanha", completou.

O vídeo foi publicado por Ortega minutos depois de o atual procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, emitir um comunicado no qual informa que difundiu um alerta vermelho na Interpol contra Azevedo.

Saab também ativou outro alerta na Interpol contra Ortega. A procuradora destituída, porém, está em Genebra e amanhã terá encontros na ONU.

Em nota, a Odebrecht afirma que o vazamento de informações protegidas por sigilo decretado pelo STF é crime e diz que entrará com petições junto ao Supremo e à Procuradoria-Geral da República, solicitando que, apuradas as ilegalidades, os responsáveis pela divulgação das imagens sejam submetidos às sanções previstas em lei.