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Cruzamento inédito revela como votou cada vizinhança

Rodrigo Menegat, Cecília do Lago, Daniel Bramatti e Vinícius Sueiro

São Paulo

28/10/2018 08h19

No primeiro turno, os eleitores que fizeram fila para votar na Escola Estadual Professor João Borges, no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo, deram a Jair Bolsonaro (PSL) 66,6% dos votos, e apenas 3% para o petista Fernando Haddad. Foi lá que o capitão reformado teve seu melhor desempenho entre todos os 1.953 locais de votação da capital, segundo um mapa inédito e ultradetalhado dos resultados eleitorais.

Desenvolvido a partir de uma colaboração entre as equipes de infografia e de dados de O Estado de S. Paulo, o mapa revela como votou cada vizinhança de São Paulo e também do restante do País. Além disso, a metodologia inédita permite avaliar características de renda, raça, gênero e escolaridade em cada microrreduto eleitoral.

Na capital paulista, o mapa revela que Bolsonaro, no primeiro turno, ficou à frente dos adversários em 1.743 locais de votação - 89% do total. Já Haddad ganhou em 205, o que equivale a pouco mais de 10%. Ciro Gomes (PDT) venceu em cinco vizinhanças, e Geraldo Alckmin (PSDB), cujo eleitorado pendeu para o bolsonarismo, ficou sem nenhum reduto.

O cruzamento dos dados eleitorais com os do Censo de 2010 revela o eleitorado mais típico de cada candidato. No caso de Bolsonaro, existe correlação positiva entre renda e voto - quanto mais rica a vizinhança, maior a votação no candidato do PSL.

Mas outras características demográficas, além da tradição política de cada bairro, influenciam os resultados. Diferentemente de Aécio Neves, que em 2014, ao enfrentar o PT, teve melhor desempenho nas áreas mais ricas da cidade, Bolsonaro foi melhor em regiões de renda não tão alta, mas de perfil conservador, como Mooca e Tatuapé, ambos na zona leste.

Nos arredores da escola onde Bolsonaro teve a maior votação proporcional da cidade, por exemplo, a renda média não chega a um terço da verificada em áreas nobres dos Jardins. Mas verifica-se baixa diversidade étnica (pretos e pardos são apenas 7%) e baixa concentração de jovens de até 24 anos (a taxa é inferior a 14%, metade da registrada na periferia).

Já a vizinhança onde Haddad se saiu melhor, com 53,5% dos votos, é a dos arredores da Escola Estadual Dom Agnelo Cardeal Rossi, na Vila do Sol, perto da represa Guarapiranga, na zona sul da capital. Lá, a população preta e parda forma a maioria (63%), e um quarto dos moradores são jovens de até 24 anos. A renda média equivale a cerca de um quarto da registrada na vizinhança do Tatuapé onde Bolsonaro venceu com maior folga.

A votação de Haddad se desenha na cidade seguindo um padrão histórico de seu partido. Ele venceu em zonas eleitorais dos extremos sul e leste da capital. O mapa das vizinhanças, porém, revela que há ilhas petistas no centro, e também que há bolhas bolsonaristas em bairros do extremo sul.

Ciro Gomes, do PDT, não chega a ter redutos em São Paulo, mas quando se observa seu desempenho pelas vizinhanças dos locais de votação, pode-se afirmar que há um pequeno Ceará no eixo Butantã, Pinheiros e Vila Madalena. O candidato do PDT venceu em locais de votação de alta renda e maioria branca, com universidades e áreas boêmias. Foi no entorno da escola particular Vera Cruz que Ciro teve seu melhor desempenho: 36,7% dos votos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.