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Tucano de 33 anos é favorito no RS

Filipe Strazzer

Porto alegre

28/10/2018 09h01

O eleitor gaúcho decidirá hoje se terá um governador reeleito pela primeira vez ou se o escolhido será o mais jovem desde a redemocratização. Nos últimos dias, José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) trocaram acusações, disputaram quem é mais antipetista e buscaram votos dos apoiadores do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Ontem, na última pesquisa Ibope de intenção de votos do segundo turno, Leite tinha 57% dos votos válidos - era 60% na pesquisa anterior - e o emedebista foi de 40% para 43%.

Sartori tenta ser o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul. Para isso, o "gringo" - apelido alusivo a suas origens italianas - defende ajuda federal ao Estado para amenizar a crise fiscal e conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa medidas como a previdência complementar para o funcionalismo e a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual. Ele já foi vereador, deputado estadual e federal, prefeito de Caxias do Sul e ocupa, desde 2015, o governo do Estado.

O emedebista enfrenta alta rejeição à sua administração: 36% dos eleitores não votariam em Sartori, segundo pesquisa Ibope de ontem. Essa taxa está relacionada principalmente ao aumento da violência e aos mais de 30 meses de salários parcelados no funcionalismo, mas também à ascensão de Leite, seu adversário.

O tucano de 33 anos saiu de 8% de intenções de voto em pesquisa Ibope divulgada no mês de agosto para a liderança no segundo turno. Leite defende, entre outras medidas, a "melhor gestão" dos recursos públicos e a renegociação do acordo com o governo federal. O tucano foi vereador e, em 2012, elegeu-se o prefeito mais jovem da história de Pelotas, com 27 anos. Não disputou novamente o cargo por afirmar ser contra a reeleição.

Neste segundo turno, as acusações se intensificaram e tiveram como palco os debates e o horário eleitoral. Leite cobrou Sartori principalmente pela "lentidão" em medidas para conter a crise fiscal no Estado e combater a violência. Já o governador atacou o tucano em questões ligadas à "falta de experiência e de coerência". Ambos chegaram a associar o adversário ao PT.

Pela primeira vez em 28 anos, o PT ficou de fora da disputa do segundo turno gaúcho. Ainda houve o "fator Bolsonaro". Com a boa votação do candidato do PSL no Estado (52,6%), Leite e Sartori declararam apoio ao presidenciável na tentativa de conseguir seu eleitorado, mas de maneiras distintas. Leite dizia que seu apoio se dava "com ressalvas" e Sartori "colou" sua imagem em Bolsonaro e pregou o voto "sartonaro".

Leite: 'Primeiro ano não pode ser estágio para governar'

O ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB) quer mostrar "novidade com experiência" para ganhar o eleitorado. Ele pretende enfrentar a crise renegociando os atuais termos do Regime de Recuperação Fiscal e aposta no desenvolvimento do Estado como saída. No plano nacional, declarou apoio "com ressalvas" a Jair Bolsonaro (PSL). A seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. diz que é a favor do Regime de Recuperação Fiscal, mas em outros termos. Quais?

A questão da recuperação é como vai ser aproveitada essa janela de oportunidade para gerar receita que dê fôlego para voltar a cumprir compromissos sem colapsar as contas. E há pontos que merecem ser reanalisados. O principal é o incremento de efetivo na Segurança. A simples reposição de cargos vagos não será suficiente para vencer a criminalidade.

Muita gente tem de sair de sua cidade para ter atendimento médico. O que pretende fazer para melhorar o acesso à Saúde?

Ajustar o pagamento para prefeituras, que estão com repasses atrasados. E os hospitais filantrópicos também têm tido atrasos no pagamento, o que faz com que se fechem leitos e suspendam serviços. Promover uma revisão das referências regionais de acordo com o perfil epidemiológico de cada região, para aproximar o atendimento de saúde.

O sr. diz que pretende colocar o salário do funcionalismo em dia no primeiro ano. Como?

Ações de reestruturação da máquina vão nos permitir a contenção de despesas. Até mesmo dentro do custo da folha de pagamento dos servidores, com a revisão e reestruturação de planos de carreira, que acabam produzindo um crescimento vegetativo que beneficia alguns em detrimento da grande massa dos servidores.

O governador Sartori sofreu para aprovar alguma medidas na Assembleia contra a crise fiscal. O sr. acredita que consegue essas aprovações?

Estamos confiantes que sim. Vamos usar o processo de transição como momento de refinamento da plataforma e dos projetos, para que no primeiro semestre de 2019 possamos levar os projetos mais importantes para a Assembleia. O primeiro ano não pode ser um estágio para aprender a governar.

O sr. declarou apoio a Jair Bolsonaro com "ressalvas".

Declarei voto no Bolsonaro e não deixei de fazer as ressalvas e as críticas aos pontos que eu acho que merecem, especialmente no que diz respeito à convivência pacífica entre as pessoas.

Quais são suas propostas para a Segurança?

Vamos melhorar a articulação entre as polícias, fazer parcerias com os municípios na área da prevenção que unam assistência social, educação e saúde. E estudamos a criação de uma Secretaria de Administração Penitenciária.

Sartori: 'Não se pode usar dificuldades dos servidores para demagogia'

Com o Estado atravessando uma grave crise, José Ivo Sartori (MDB) aposta em ajuda federal, via Regime de Recuperação Fiscal. Com o slogan "o gringo tá certo" e forte apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o emedebista tenta ser o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul. A seguir os principais trechos da entrevista:

O Ideb do Ensino Médio gaúcho está estagnado em 3,4 e abaixo da média nacional. Como o sr. pretende melhorar a educação no Estado?

É um problema nacional. Isso envolve a melhoria do ambiente escolar e a qualificação permanente do professor. Vamos focar na melhoria do aprendizado em português e matemática - e queremos ampliar as parcerias, especialmente para o ensino médio.

Quais são suas propostas para melhorar o acesso à saúde para a população?

Ampliar a cobertura da população com os programas de saúde e ampliar a atenção básica e as parcerias com os municípios, intensificando a regionalização do atendimento de média e alta complexidade para que as pessoas sejam atendidas na região em que vivem. Aperfeiçoar as ferramentas para qualificação de gestores, os sistemas tecnológicos de suporte e diagnóstico epidemiológico e avaliação da resolução das ações na saúde.

Nos últimos anos, a população gaúcha se viu com medo em razão do aumento da criminalidade. Como o sr. pretende combater a violência?

Os índices de criminalidade começaram a cair no Rio Grande do Sul, embora ainda estejam longe de um patamar ideal. Fizemos o maior concurso da história, compramos carros potentes, coletes à prova de balas e equipamentos. Abrimos vagas prisionais por meio da permuta por imóveis do Estado. A grande mudança está no SIM (Sistema de Segurança Integrada com os Municípios), que já conta com mais de 400 cidades. Vamos ampliar a instalação de câmeras e centrais regionais de videomonitoramento, para concluir o cercamento eletrônico do Estado. Mas alerto: o aquecimento da economia e a mudança das leis penais são dois fatores fundamentais para a diminuição da criminalidade em todo o País.

O funcionalismo recebe seus vencimentos de forma parcelada há mais de 30 meses. Qual a sua proposta para pagar os servidores em dia?

Junto ao Regime de Recuperação Fiscal, vamos continuar arrumando a casa e promovendo o desenvolvimento. O parcelamento não é uma decisão política. É resultado de problemas estruturais históricos que estamos corrigindo. Sempre priorizamos o pagamento dos servidores. Sofremos, inclusive, o bloqueio de recursos federais por escolher pagar o funcionalismo em vez de quitar a parcela mensal da dívida com a União. Nossa meta é voltar a pagar em dia a partir da recuperação financeira. Não se pode usar as dificuldades dos servidores para demagogia eleitoreira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.