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No exterior, reação a eleição de Bolsonaro adota tom conciliatório

São Paulo

29/10/2018 16h23

Chefes de governo e líderes de órgãos internacionais reagiram à eleição de Jair Bolsonaro com mensagens parabenizando-o pela vitória e pedindo a continuidade de acordos e parcerias. A maior parte dos comunicados adotou tom conciliatório, ressaltando a tranquilidade do processo eleitoral e desejando sorte ao presidente eleito.

Bolsonaro ainda recebeu, informalmente, o primeiro convite para uma viagem internacional. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, usou sua conta oficial no Twitter para convidar Bolsonaro a uma visita ao Chile. "Felicito a Bolsonaro por seu grande triunfo eleitoral", escreveu. "O convido a visitar o Chile e estou seguro que trabalharemos com vontade, força e visão de futuro em favor do bem-estar de nossos povos e da integração", disse o mandatário chileno.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, enviou uma mensagem no mesmo tom. "Parabéns a Jair Bolsonaro pelo triunfo no Brasil! Desejo que trabalhemos em breve juntos para o relacionamento entre nossos países e o bem-estar de argentinos e brasileiros", escreveu Macri em sua conta no Twitter.

Em países como Espanha, França e China, líderes desejaram sorte ao presidente eleito, reconhecendo o resultado das urnas, e ressaltaram a importância da preservação dos compromissos assumidos por governos brasileiros anteriores.

O governo da Espanha enviou um comunicado parabenizando autoridades brasileiras pelo "comportamento cívico e democrático", e desejou sucesso a Bolsonaro no cargo. O comunicado ressalta que os países são "parceiros estratégicos" e que deseja consolidar as "excelentes" relações entre os dois países. O presidente espanhol, Pedro Sánchez, não mencionou Bolsonaro em sua conta oficial no Twitter, onde escreveu que o "Brasil sempre contará com a Espanha para conseguir uma América Latina mais igualitária e mais justa".

O presidente francês, Emmanuel Macron, parabenizou Bolsonaro pela eleição e destacou "valores comuns" e a "promoção de princípios democráticos" pelos dois países. No comunicado, Macron diz que a França pretende seguir trabalhando com o Brasil "para enfrentar os grandes desafios contemporâneos do nosso planeta", citando a mudança climática. Durante a campanha, Bolsonaro chegou a afirmar que renegociaria a presença do Brasil no Acordo Climático de Paris.

Em Pequim, o porta-voz do ministério de Assuntos Exteriores da China, Lu Kang, disse em uma coletiva de imprensa que a intenção do governo chinês é continuar trabalhando para melhorar sua cooperação com o Brasil em organismos internacionais como o BRICS, que reúne as economias emergentes de Brasil, Russia, Índia e China. Perguntado sobre uma viagem de Bolsonaro a Taiwan, que ocorreu durante sua pré-campanha à Presidência, Lu disse que as relações da China com qualquer país está baseada no reconhecimento do princípio de "uma só China", e que o país considera Taiwan como parte de seu território.

Bolsonaro também recebeu os parabéns do presidente russo, Vladimir Putin. O Kremlin enviou uma mensagem em que "transmite sua confiança" na melhora das relaçõs bilaterais entre Rússia e Brasil. O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, parabenizou Jair Bolsonaro "em nome do povo e do governo do México" em sua conta no Twitter e acrescentou que a eleição do ex-militar "é um exemplo que reflete a fortaleza democrática desse país".

Saia Justa

O chefe da pasta de Economia da União Europeia, o francês Pierre Moscovici, abriu a primeira saia justa para Bruxelas em relação ao Brasil. Em declarações nesta manhã, o comissário para Assuntos Econômicos do bloco criticou a eleição de Jair Bolsonaro e pediu que as lideranças no mundo "acordem".

"Bolsonaro é evidentemente um populista de extrema direita", disse o ex-ministro francês em diferentes governos socialistas em declarações à TV do Senado francês. "Atrás dele, vemos a sombra dos militares que estiveram por um longo tempo no poder no Brasil, constituindo uma ditadura terrível", declarou. "Ele mesmo é um ex-militar e seu vice-presidente é um militar", destacou o comissário.

"É claro que é um sinal", insistiu o francês, um dos homens de maior influência hoje dentro do bloco europeu. Moscovici será a contraparte da equipe econômica de Bolsonaro nas reuniões do G-20 e em outros fóruns internacionais. A declaração dele levou a UE a se apressar em dar uma versão mais branda de sua avaliação sobre o novo governo brasileiro, insistindo que o comissário fala apenas por si mesmo e que o bloco, como um todo, não iria qualificar Bolsonaro. "O Brasil é um parceiro importante também nas negociações com o Mercosul", disse uma porta-voz da Comissão Europeia, Natasha Bertaud. "A UE espera fortalecer a parceria com o novo governo", afirmou.

Moscovici ressaltou que respeita o resultado das urnas, e disse que o País tem "instituições sólidas". "Esperamos de todos os futuros presidentes do País trabalhem para consolidar a democracia ao benefício do povo brasileiro", afirmou a porta-voz, que qualificou o Brasil de um "parceiro muito importante".

Já o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, usou sua conta no Twitter para parabenizar o presidente eleito pela vitória nas eleições presidenciais do Brasil e afirmou que o órgão está pronto para contribuir com o país, especialmente na área econômica. "A OMC está pronta para aprofundar o diálogo com o governo brasileiro", escreveu Azevedo.

Comemoração

Matteo Salvini, chefe da extrema-direita italiana e ministro do Interior de seu país, felicitou na manhã desta segunda-feira o presidente eleito Jair Bolsonaro pelos resultados das urnas no Brasil. Ele ainda deixou claro: irá pedir a extradição imediata de Cesare Battisti. "No Brasil, os cidadãos também expulsaram a esquerda!", escreveu Salvini em suas redes sociais. "Bom trabalho ao presidente Bolsonaro, a amizade entre nossos povos e nossos governos será ainda mais forte", declarou.

Ele também indicou qual será uma de suas prioridades na nova relação com o governo brasileiro. "Depois de anos de discursos em vão, eu pedirei que eles nos reenviem para a Itália o terrorista vermelho Battisti", completou. No último dia 26, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para ser ministro-chefe da Casa Civil num governo Bolsonaro, indicou que a revisão do caso de Battisti poderia ocorrer. "O terrorista e bandido albergado por Lula e sua quadrilha no Brasil vai cumprir o que a legislação italiana determina", afirmou.

Battisti, de 63 anos, integrou nos anos 1970 um grupo terrorista na Itália e foi condenado à prisão perpétua por homicídios. Ele fugiu da Itália e foi preso em 2007 no Rio de Janeiro. O então ministro da Justiça do Brasil, Tarso Genro, concedeu a Battisti o status de refugiado político, decisão muito criticada na Itália.