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No Amazonas, Rio Negro registra a maior cheia da história

Pessoas caminham sobre pontes de madeira improvisadas em área comercial, no centro de Manaus, devido à cheia do Rio Negro - Nelson Antoine/Folhapress
Pessoas caminham sobre pontes de madeira improvisadas em área comercial, no centro de Manaus, devido à cheia do Rio Negro Imagem: Nelson Antoine/Folhapress

João Renato Jácome, especial para o Estadão

02/06/2021 22h19

O Rio Negro registrou na terça-feira, dia 1º, a maior marca desde 1902, ano em que o nível do rio passou a ser monitorado pelas autoridades. O rio chegou à cota de 29,98 metros, ultrapassando em 1 centímetro o nível recorde registrado em 2012, quando chegou a 29,97 metros em Manaus, a capital amazonense.

Segundo a Defesa Civil Estadual, já foram construídos mais de 9 mil metros de passarelas - as chamadas marombas - para auxiliar a população que precisa transitar nas ruas alagadas. Ao menos 24 mil manauaras, espalhados por 17 bairros da cidade, já foram atingidos diretamente pela cheia histórica do Rio Negro.

No Centro Histórico de Manaus, as principais ruas ficaram alagadas. Na Praça do Relógio, nas proximidades da alfândega da cidade, às margens do Rio Negro, o prédio do órgão foi invadido pelas águas e parcialmente interditado pelo Corpo de Bombeiros. Ao menos 4 mil famílias foram desalojadas pelo avanço das águas.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), anunciou um aporte de R$ 80 milhões, por meio de parceria com a prefeitura de Manaus, para socorrer vítimas da enchente e recuperação da infraestrutura da cidade. O anúncio ocorreu durante reunião com o prefeito David Almeida (Avante), no Casarão da Inovação Cassina. Inicialmente, serão liberados R$ 30 milhões para amenizar os transtornos causados pela cheia.

"Hoje estou vindo aqui com o prefeito apresentar essa ajuda, disponibilizar o repasse de R$ 30 milhões para ajudar esses nossos irmãos que estão sendo atingidos pela enchente. Dentre outras ações que nós vamos fazer como o nosso Auxílio Estadual Enchente", disse o governador, ao comentar o auxilio de R$ 300, que será pago em parcela única aos atingidos pela enchente.

Cheias afetam 56 municípios

Em todo o Estado, ao menos 56 municípios sofrem com o aumento atípico no nível dos rios. Diante disso, as autoridades estaduais e municipais precisaram correr para controlar a situação e garantir serviços básicos para a população. Em março, o governo lançou a Operação Enchente, mas com o avanço dos rios, a estrutura preparada não foi suficiente.

O nível do Rio Amazonas também preocupa: na cidade amazonense de Itacoatiara, a lâmina voltou a subir após quase uma semana apresentando estabilidade. Na cidade, o rio apresentou marca de 15,20 metros, já acima da cota de transbordamento, segundo informou a Defesa Civil Estadual. A viagem pela BR-319, entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM) já está comprometida, após a rodovia apresentar pontos de alagamento.

Preocupação para quem vive às margens dos rios

Quem vive às margens dos rios que circulam Manaus enfrenta dias de preocupação. A merendeira Ana Maria Pereira, de 54 anos, é uma das atingidas pela enchente. A moradora diz que apesar de todos os anos haver cheia, a desse ano foi mais rápida e forte, surpreendendo quem estava esperando o recuo das águas há uma semana.

"Estava normal, já dentro do mesmo nível, subia pouco e baixava um pouco, mas essa semana simplesmente a água começou a subir e a gente ficou preocupado. Corremos para levantar os móveis, as coisas de dentro de casa, para não estragar. Penduramos tudo, mas não adiantou: tivemos que aumentar mais a altura, porque o nível subiu de novo", lamentou.

O drama vivido por Ana Maria é semelhante ao do produtor de Antônio Félix Neto, de 39 anos, que teve toda a plantação de macaxeira atingida pelas águas. "O prejuízo aqui que nós estamos tendo é da macaxeira que plantamos. Mas os nossos móveis, retiramos tudo e levamos para a parte alta aqui da terra. Estamos mesmo é sem dinheiro", contou.