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2021: O ano em que a crise climática voltou à pauta
SÃO PAULO, 28 DEZ (ANSA) - Por Tatiana Girardi - Em um ano de eventos climáticos extremos em todas as partes do mundo e de mais recordes de calor, governos internacionais anunciaram uma série de metas e acordos para tentar mitigar a crise ambiental.
Definida como "blá-blá-blá" por jovens ativistas pelo clima, como a sueca Greta Thunberg, a COP26 produziu apenas avanços discretos, mas parece ter feito políticos e empresas perceberem o risco que o planeta vive.
Especialistas entrevistados pela ANSA apontam que a própria pandemia de Covid-19 fez com que muitos entendessem a gravidade do problema.
"O mundo foi impactado por uma pandemia e, além de tudo isso, já está sendo impactado por uma mudança climática. A pandemia reacende a fragilidade humana, e isso vem com essa discussão mais acalorada e emocionada em relação ao clima - que pode, com toda a certeza, extinguir a raça humana", destaca a professora de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas Benedita de Fátima Delbono em entrevista à ANSA.
Já o coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do FGVces, Guarany Osório, ressalta que a "Covid veio nos mostrar que crise coletiva é ruim para todo mundo em todos os sentidos: do indivíduo, do coletivo e dos negócios, para as bolsas, para os bancos centrais". "Há uma mobilização de dizer que estamos em uma emergência e precisamos mudar a rota. Veio tarde, mas está vindo", acrescenta.
Osório ainda pontua que há uma "importância de timing" sobre esse assunto ter vindo à tona com tanta força neste ano porque "o que acontece atualmente é que nós, como humanidade, estamos em uma trajetória de emissões que vai testar o aumento da temperatura acima de 1,5°C ou 2°C, indo em uma rota acima do que é mais seguro com base científica".
"A gente está entrando nos prazos finais para que a gente tenha compromissos suficientes para mudar essa rota e, com atraso, esse tema vai subindo na agenda. De um lado, tem essa busca para a gente entrar em uma rota segura de emissões e evitar que apertar alguns gatilhos de não retorno - e aí vai ficar muito caro fazer a mudança. Outro ponto é que esses últimos anos são recheados de eventos extremos com maior frequência", acrescenta Osório.
O presidente do Conselho Técnico-Consultivo do CDP América Latina e professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ, Celso Lemme, avalia ainda que é possível ver os resultados da COP26 tanto "com o copo meio cheio como meio vazio", mas ressalta que houve progressos que podem ajudar o mundo a manter o aumento da temperatura global abaixo do 1,5°C.
Em entrevista à ANSA, Lemme diz que foi importante o fato de os líderes globais "detalharem e escreverem" explicitamente as responsabilidades de cada um no cumprimento dessa meta, apesar de alguns recuos de última hora.
"A intensificação mais clara de responsabilidade é positiva, porque isso é um esforço conjunto. Se nós nos matarmos aqui, não vamos a lugar nenhum. E não é empurrar as responsabilidades para os desenvolvidos, porque já destruíram muito e têm mais dinheiro, nem empurrar para os em desenvolvimento, que querem degradar o ambiente", ressalta o professor da UFRJ.
Para Delbono, porém, é "muito difícil responder" se tudo o que foi prometido sairá do papel porque "os governantes sempre ficam no dilema entre economia e meio ambiente".
"Enquanto os países não conseguirem entender que a economia está atrelada ao meio ambiente, eu vou ter uma ideia controvertida dos impactos na economia. Se houver esse entendimento, nós vamos conseguir acabar com o que a gente chama de 'energia suja' e passar a ter essa energia limpa porque nós temos recursos para isso", acrescenta a especialista.
Brasil - Na contramão do mundo em 2021 ao aumentar suas emissões de gases de efeito estufa, o Brasil vive um momento bastante delicado por conta das políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro.
Para a professora do Mackenzie, o país "teve realmente um retrocesso" com o "desmatamento da Amazônia e a mineração, além da "questão do garimpo ilegal no rio Madeira, por exemplo, que está acabando não só com o rio, mas com todo o entorno".
"O Brasil regrediu nos últimos anos em relação à defesa do meio ambiente, que deveria ser algo ímpar para a própria política econômica", pontua. Segundo Delbono, também é preciso que os "brasileiros tenham uma consciência ambiental para que possam pressionar o governo a mudar".
"O problema é que nosso país carece muita dessa noção, carece de entender a importância do meio ambiente. A gente coloca a comida na mesa, mas não entende de onde vem essa comida", reflete.
Já Osório destaca à ANSA que o país tem uma série de "vantagens comparativas com outras nações", mas não usa tanto esse potencial.
"Temos uma biodiversidade gigantesca, a energia renovável - muito sol, muito vento, muita terra pra biomassa -, todo esse potencial. Por outro lado, a gente está vendo desmatar a Amazônia, e as conexões já estão feitas sobre como desmatar a Amazônia é ruim para o mundo, e mais ainda para o Brasil - até porque ela é a caixa d'água do Sudeste", ressalta.
De acordo com Osório, essa é uma "corrida estratégica" porque "vai ficar muito mais caro" se adaptar depois caso o Brasil continue nessa rota. (ANSA).
Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Definida como "blá-blá-blá" por jovens ativistas pelo clima, como a sueca Greta Thunberg, a COP26 produziu apenas avanços discretos, mas parece ter feito políticos e empresas perceberem o risco que o planeta vive.
Especialistas entrevistados pela ANSA apontam que a própria pandemia de Covid-19 fez com que muitos entendessem a gravidade do problema.
"O mundo foi impactado por uma pandemia e, além de tudo isso, já está sendo impactado por uma mudança climática. A pandemia reacende a fragilidade humana, e isso vem com essa discussão mais acalorada e emocionada em relação ao clima - que pode, com toda a certeza, extinguir a raça humana", destaca a professora de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas Benedita de Fátima Delbono em entrevista à ANSA.
Já o coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do FGVces, Guarany Osório, ressalta que a "Covid veio nos mostrar que crise coletiva é ruim para todo mundo em todos os sentidos: do indivíduo, do coletivo e dos negócios, para as bolsas, para os bancos centrais". "Há uma mobilização de dizer que estamos em uma emergência e precisamos mudar a rota. Veio tarde, mas está vindo", acrescenta.
Osório ainda pontua que há uma "importância de timing" sobre esse assunto ter vindo à tona com tanta força neste ano porque "o que acontece atualmente é que nós, como humanidade, estamos em uma trajetória de emissões que vai testar o aumento da temperatura acima de 1,5°C ou 2°C, indo em uma rota acima do que é mais seguro com base científica".
"A gente está entrando nos prazos finais para que a gente tenha compromissos suficientes para mudar essa rota e, com atraso, esse tema vai subindo na agenda. De um lado, tem essa busca para a gente entrar em uma rota segura de emissões e evitar que apertar alguns gatilhos de não retorno - e aí vai ficar muito caro fazer a mudança. Outro ponto é que esses últimos anos são recheados de eventos extremos com maior frequência", acrescenta Osório.
O presidente do Conselho Técnico-Consultivo do CDP América Latina e professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ, Celso Lemme, avalia ainda que é possível ver os resultados da COP26 tanto "com o copo meio cheio como meio vazio", mas ressalta que houve progressos que podem ajudar o mundo a manter o aumento da temperatura global abaixo do 1,5°C.
Em entrevista à ANSA, Lemme diz que foi importante o fato de os líderes globais "detalharem e escreverem" explicitamente as responsabilidades de cada um no cumprimento dessa meta, apesar de alguns recuos de última hora.
"A intensificação mais clara de responsabilidade é positiva, porque isso é um esforço conjunto. Se nós nos matarmos aqui, não vamos a lugar nenhum. E não é empurrar as responsabilidades para os desenvolvidos, porque já destruíram muito e têm mais dinheiro, nem empurrar para os em desenvolvimento, que querem degradar o ambiente", ressalta o professor da UFRJ.
Para Delbono, porém, é "muito difícil responder" se tudo o que foi prometido sairá do papel porque "os governantes sempre ficam no dilema entre economia e meio ambiente".
"Enquanto os países não conseguirem entender que a economia está atrelada ao meio ambiente, eu vou ter uma ideia controvertida dos impactos na economia. Se houver esse entendimento, nós vamos conseguir acabar com o que a gente chama de 'energia suja' e passar a ter essa energia limpa porque nós temos recursos para isso", acrescenta a especialista.
Brasil - Na contramão do mundo em 2021 ao aumentar suas emissões de gases de efeito estufa, o Brasil vive um momento bastante delicado por conta das políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro.
Para a professora do Mackenzie, o país "teve realmente um retrocesso" com o "desmatamento da Amazônia e a mineração, além da "questão do garimpo ilegal no rio Madeira, por exemplo, que está acabando não só com o rio, mas com todo o entorno".
"O Brasil regrediu nos últimos anos em relação à defesa do meio ambiente, que deveria ser algo ímpar para a própria política econômica", pontua. Segundo Delbono, também é preciso que os "brasileiros tenham uma consciência ambiental para que possam pressionar o governo a mudar".
"O problema é que nosso país carece muita dessa noção, carece de entender a importância do meio ambiente. A gente coloca a comida na mesa, mas não entende de onde vem essa comida", reflete.
Já Osório destaca à ANSA que o país tem uma série de "vantagens comparativas com outras nações", mas não usa tanto esse potencial.
"Temos uma biodiversidade gigantesca, a energia renovável - muito sol, muito vento, muita terra pra biomassa -, todo esse potencial. Por outro lado, a gente está vendo desmatar a Amazônia, e as conexões já estão feitas sobre como desmatar a Amazônia é ruim para o mundo, e mais ainda para o Brasil - até porque ela é a caixa d'água do Sudeste", ressalta.
De acordo com Osório, essa é uma "corrida estratégica" porque "vai ficar muito mais caro" se adaptar depois caso o Brasil continue nessa rota. (ANSA).
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