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Resgate de corpos do vôo 447 ainda é incerto, diz França

Jean-Paul Troadec, diretor do Escritório de Investigação e Análises da França, apresenta fotos do acidente com o voo 447 da Air France  - AP
Jean-Paul Troadec, diretor do Escritório de Investigação e Análises da França, apresenta fotos do acidente com o voo 447 da Air France Imagem: AP

Daniela Fernandes

De Paris

21/04/2011 08h22

A França ainda não determinou se haverá ou não tentativas de resgate dos corpos do acidente com o vôo 447 da Air France, ocorrido em 2009, devido à complexidade da operação.

A informação foi dada à BBC Brasil por um porta-voz do Escritório de Análises e Investigações (BEA, na sigla em francês), órgão que está levantando as causas do acidente.

"Será decidido a bordo do navio na área de buscas, com base na observação das condições do local, se a operação de resgate dos corpos é viável ou não”, disse Martine Del Bono, porta-voz do BEA.

“A decisão de trazer ou não os restos mortais à superfície será tomada por representantes da Justiça a bordo do navio. São eles que vão decidir como isso será feito, se haverá o resgate de todos os corpos ou de apenas alguns, e eles instruirão os técnicos em relação aos procedimentos”, diz Del Bono.

“Essa é uma operação jamais realizada. No passado, já nos deparamos com resgates de corpos, mas nunca ocorreu de encontrarmos a fuselagem dois anos depois com restos mortais a quase quatro quilômetros de profundidade”, diz.

“A prioridade da quinta fase é a localização das caixas-pretas do avião”, reiterou a porta-voz.

O vôo 447 da Air France caiu no Atlântico no dia 31 de maio de 2009 após decolar do Rio de Janeiro rumo a Paris com 228 pessoas a bordo. Somente 50 corpos foram localizados pouco após a catástrofe.

Operação

Del Bono ressalta, no entanto, que o navio Ile de Sein, que deixará o Senegal nesta sexta-feira rumo à área onde foi localizada a fuselagem do avião, “está totalmente equipado para a operação de resgate e de conservação dos corpos”, caso ela ocorra.

O Ile de Sein deverá chegar à área de buscas neste domingo ou na segunda-feira, diz o BEA.
A bordo do navio estão oficiais da polícia judiciária francesa e médicos legistas do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar. Segundo Del Bono, são eles que decidirão sobre a viabilidade da operação de resgate dos corpos.

“Existem ainda muitas dúvidas sobre a maneira como o resgate dos corpos pode ser realizado e não vamos agir de qualquer maneira”, disse ao jornal Le Parisien desta quinta-feira um fonte judicial ligada ao caso.

A questão do resgate dos corpos tem sido alvo de informações contraditórias desde a descoberta da fuselagem do avião, situada a 3,9 mil metros de profundidade a apenas cerca de dez quilômetros ao norte da última posição do avião apontada nos radares.

Inicialmente, o governo francês havia declarado que a operação para localizar as caixas-pretas do avião, a quinta desse tipo, iria também resgatar os corpos das vítimas e que ele seriam identificados.

Posteriormente, os familiares das vítimas foram informados de que isso não seria possível.

Na terça-feira, a Aeronáutica brasileira declarou ter sido informada de que o governo da França autorizou o resgate dos corpos.

Mas também na terça-feira, o BEA, ligado ao ministério dos Transportes francês, se referiu ao assunto apenas nas últimas duas linhas de um comunicado sobre a quinta fase de buscas, “lembrando que o resgate dos corpos e dos objetos pessoais está sob a responsabilidade de representantes da Justiça”.

“O BEA empurrou o problema para a Justiça para não ter nenhuma responsabilidade em relação a isso. A confusão em relação ao resgate dos corpos tomou proporções enormes”, disse à BBC Brasil Maarten Van Sluys, diretor da Associação dos Familiares das Vítimas do Vôo 447.