Mulheres avançam pouco no Congresso e perdem governos estaduais
Mariana Schreiber
Da BBC Brasil em Londres
As três candidatas à Presidência da República receberem mais de 67 milhões de votos, o equivalente a 64,5% dos votos válidos na eleição de domingo.
Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Luciana Genro (PSOL) ficaram respectivamente em primeiro, terceiro e quarto lugar, em uma disputa com mais oito homens.
O bom desempenho na corrida presidencial, no entanto, não se repete nos demais pleitos.
No caso do Congresso Nacional, os brasileiros elegeram apenas 51 deputadas federais mulheres, o que representa 9,9% dos 513 eleitos para a Câmara. O número representa apenas uma pequena melhora em relação a 2010 (45 eleitas). Dos 27 novos senadores, cinco (13,6%) são do sexo feminino.
Nas eleições para governador, as vitórias masculinas foram ainda mais predominantes. Entre os 13 eleitos no primeiro turno, nenhum é mulher.
Outros 14 governadores ainda serão escolhidos no segundo turno, mas apenas em Roraima há uma candidata na disputa.
E a única mulher ainda com chances de se tornar governadora é uma candidata de última hora que está concorrendo porque teve que substituir o marido, considerado "ficha suja" pela legislação eleitoral.
Suely Campos (PP) entrou na disputa em setembro deste ano, a menos de dois meses da eleição, depois que o candidato Neudo Campos (PP) teve o registro de candidatura negado duas vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR).
É certo, portanto, que haverá uma redução no número de governadoras no próximo ano. Atualmente, há duas no cargo: Roseana Sarney (PMDB-MA) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN). Nenhuma delas estava concorrendo dessa vez.
Cotas
Do total de 176 candidatos ao cargo de governador nesta eleição, apenas 11,4% eram mulheres.
A legislação atual exige que no mínimo 30% do total de candidatos sejam do sexo feminino, mas os partidos cumprem a cota indicando candidatas principalmente para as eleições aos cargos de deputado federal e estadual.
O número de eleitas, porém, não chega a esse percentual nem no Congresso. Feministas ativistas e acadêmicas ouvidas pela BBC Brasil dizem que as candidaturas femininas recebem menos apoio dos partidos e, por isso, acabam sendo menos competitivas.
Proporcionalmente, a região Norte foi a que elegeu mais mulheres. Elas são 15 dos 65 eleitos pelos estados da região, ou seja, 23% do total. Já a região Sul é a que apresenta percentual mais baixo de deputadas eleitas (6,5%), seguida de perto pelo Nordeste (6,6%). Os índices para o Sudeste e o Centro-Oeste são, respectivamente, 9,5% e 9,8%.
No caso do Senado, a nova eleição aumentará a bancada feminina em apenas uma parlamentar. Dos 27 novos senadores, cinco são mulheres: Kátia Abreu (PMDB-TO) e Maria do Carmo Alves (DEM-SE) foram reeleitas. Duas atuais deputadas vão substituir senadoras. Rose de Freitas (PMDB-ES) entrará no lugar de Ana Rita (PT-ES), enquanto Fátima Bezerra (PT-RN) ocupará o posto de Ivonete Dantas (PMDB-RN).
A quinta eleita é Simone Tebet (PMDB-MS), que é filha de Ramez Tebet, senador de dois mandatos e presidente do Senado entre 2001 e 2003. Com isso, serão 11 mulheres no Senado, apenas 13,6% dos 81 senadores.
Clube do bolinha
"Candidatas como Marina e Dilma têm trajetórias extraordinárias e são a expressão máxima da exceção. São candidatas que têm forte apoio político, o que não acontece normalmente", observa a diretora do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo.
"Há muitas mulheres que são lideranças em suas comunidades, mas esse tipo de liderança não é valorizada nos partidos. É o grupo do bolinha. Os convites para candidaturas são feitos em cima da hora apenas para cumprir cota", acrescenta.
A socióloga feminista Maria Betânia Ávila destaca a importância de já termos uma mulher na presidência para inspirar outras lideranças femininas. "Isso altera a percepção das mulheres. Mostra que a possibilidade existe, apesar da profunda desigualdade e discriminação da nossa sociedade".
Ela ressalta, porém, que isso não é suficiente para alavancar a participação da mulher na política porque "os partidos são profundamente patriarcais". A socióloga defende uma reforma política que amplie o espaço da mulher.
Sônia Coelho, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres, também considera fundamental essa reforma. Ela destaca a importância do financiamento público de campanhas, já que o financiamento privado tem favorecido os homens.
"As candidatas não têm acesso a financiamento e não conseguem concorrer em pé de igualdade", afirma.
Ela também defende o voto em lista para deputado, com alternância entre homens e mulheres. Nesse sistema, o eleitor vota no partido, que decide a ordem dos candidatos que serão eleitos.
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