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'República está com dias contados', dizem monarquistas após protestos

A paulistana Hayley Rocco distribuía panfletos a favor da volta do regime monárquico ao país: "Foi o único período de estabilidade política, institucional e econômica do Brasil", diz. "Nunca um imperador, por exemplo, aumentou seu salário." - BBC Brasil
A paulistana Hayley Rocco distribuía panfletos a favor da volta do regime monárquico ao país: "Foi o único período de estabilidade política, institucional e econômica do Brasil", diz. "Nunca um imperador, por exemplo, aumentou seu salário." Imagem: BBC Brasil

Ricardo Senra - @ricksenra

Da BBC Brasil em São Paulo

17/08/2015 16h16

"Vamos juntos dar um basta a esta República e declarar que a solução é Real", dizia o convite enviado via redes sociais pela Casa Imperial - que representa a família real brasileira - para os protestos contra o governo federal realizados neste domingo (16).

No dia seguinte, a mesma página mostrava um dos príncipes brasileiros, dom Bertrand de Orleans e Bragança, de terno, gravata, broche no peito esquerdo, cercado de simpatizantes de camisa verde-amarela da CBF no asfalto da avenida Paulista (SP).

A seu lado, súditos empunhavam bandeiras verde-amarelas diferentes das que estamos acostumados: no centro do tradicional losango amarelo, em vez do círculo azul com o lema positivista "Ordem e Progresso", um brasão imperial.

Após a manifestação, também pela rede social, a realeza se disse impressionada com "o grande número de cartilhas distribuídas e de Bandeiras Imperiais avistadas em todo o Brasil".

Monarcas na rua

Na avenida Paulista, a BBC Brasil conversou com Hayley Rocco, que distribuía panfletos a favor da volta do regime monárquico.

"Direita? Esquerda? Siga o melhor caminho: monarquia", dizia a revistinha de 30 páginas em sua mão, que incluía uma oração a Nossa Senhora Aparecida ("restaurai o Brasil monárquico") e listava "os benefícios trazidos pelo império ao país" (como a Casa da Moeda e o Banco do Brasil).

Rocco explicou sua participação no protesto: "A monarquia foi o único período de estabilidade política, institucional e econômica do Brasil", disse, enquanto distribuía os livrinhos.

"Nunca um imperador, por exemplo, aumentou seu salário", afirmou. "Já esses políticos..."

Em 2013, quando milhares de pessoas foram às ruas com pautas que iam do fim das catracas no transporte público a uma "intervenção militar" contra a corrupção, os monarquistas pediram que seus seguidores ficassem em casa.

"A prudência impõe aos monarquistas absterem-se de qualquer participação em tais manifestações", dizia a Casa, na época, em nota.

A reportagem procurou a Casa Imperial brasileira para entender sua avaliação sobre a participação nos protestos e questionou sua mudança de posicionamento, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Entusiastas da família real também comemoraram a participação nos protestos. "Ressurge o império no Brasil", comemorou a página "Causa Imperial", que reúne mais de 17 mil seguidores no Facebook.

Em publicação desta segunda-feira, a página mostra fotos de bandeiras imperiais na praia de Copacabana acompanhadas de um longo texto, que exalta a presença de monarquistas nas ruas.

"A presença maciça de centenas de monarquistas, espalhados de norte a sul do Brasil, também evidenciou que a própria República está com seus dias contados. Este regime golpista e corrupto, que há quase 126 anos vem corroendo nossa Pátria, logo cairá de podre."

Maçons no asfalto

Membros da maçonaria também estavam nas ruas no último fim de semana.

A reportagem conversou com Evanir Ferrari, que ao lado do "irmão maçom" Alexandre ostentava a camiseta "Chega de Brasília" na avenida Paulista.

Enquanto o colega usava uma camisa verde e amarela com os dizeres "Chega de Corrupção - Mudança já - Maçons BR", Ferrari explicava sua defesa ao federalismo.

"O pleito da maçonaria é tornar o pais federalista, como acontece nos EUA e na Alemanha", disse. "O dinheiro dos municípios e estados tem que ficar com eles. Todo o dinheiro produzido em São Paulo vai para Brasilia, não dá."

Segundo ele, o Estado de São Paulo enviou bilhões de reais em arrecadação para o governo federal em 2014 e "recebeu de volta 170 milhões".

"Não dá pra ficar com pires pedindo o dinheiro que é nosso para político corrupto", afirmou o maçom.